28 Junho 2025
O prolongado silêncio de Pio XII em relação ao extermínio dos judeus e as razões que o levaram a tomar tal atitude constituem um tema sobre o qual a pesquisa histórica nunca deixa de se questionar nem refletir.
A informação é de Enrico Paventi, publicado por il manifesto, de 26-06-2026. A tradução é de Luisa Rabolini.
Por que, em outras palavras, o Papa Pacelli optou por uma conduta inspirada por extrema prudência, que o teria levado a não retornar explicitamente ao assunto mesmo após o fim do conflito?
Giovanni Coco, pesquisador e arquivista junto ao Arquivo Histórico do Vaticano, examina as várias facetas que contribuíram para determinar a atitude tomada pelo pontífice: velhas e novas questões que acabaram se emaranhando a ponto de convencê-lo a não intervir publicamente, a não tomar uma posição clara sobre a tragédia que estava se consumando, dia após dia, no coração da Europa. Considerando que, nesse ensaio, intitulado Un mosaico di silenzi. Pio XII e la questione ebraica (Um Mosaico de Silêncios. Pio XII e a Questão Judaica, em tradução livre, Mondadori, pp. 372, euro 25), o estudioso destaca como o sucessor de Pedro certamente estava ciente das atrocidades perpetradas pelos nazistas.
De fato, após a recuperação e reorganização dos documentos pessoais do Papa Pacelli, tornou-se conhecida grande parte da correspondência que seu secretário pessoal, Padre Robert Leiber, manteve com o jesuíta alemão Lothar König: foi este último quem falou de Dachau e Auschwitz, de crimes contra os judeus, de extermínio sistemático e cotidiano.
No entanto, deve-se ressaltar como os "silêncios" de Pio XII tinham caracterizado sua conduta desde os primeiros dias da guerra, quando, em 2 de setembro de 1939, expressou ao embaixador de Varsóvia "toda a sua simpatia" pela "católica" Polônia que acabara de ser invadida, recusando-se, ao mesmo tempo, a tornar públicas essas suas palavras.
A partir de então, essa seria a posição assumida pelo pontificado de Pio XII, visando preservar a “perfeita imparcialidade” da Santa Sé, temendo que uma condenação explícita dos crimes nazistas provocasse duras represálias contra os católicos alemães. Uma reticência que teria sido muito maior em relação aos judeus, tanto porque o Vaticano se mostrou pouco inclinado a estender sua proteção para fora do mundo católico, ou pelo menos cristão, quanto porque para isso contribuiu significativamente o antigo antijudaísmo religioso da Igreja, que, ao longo dos séculos, havia estado na base tanto de graves acusações contra os judeus quanto de severas medidas restritivas adotadas contra eles.
Segundo Coco, tratava-se, em suma, de uma resistência que “só pode ser compreendida se analisada dentro das relações seculares, complexas e extremamente difíceis entre o mundo judaico e a Igreja Católica”.
O estudioso reconstrói tais relações examinando as cartas pessoais e as correspondências endereçadas à Secretaria de Estado, os documentos diplomáticos, as minutas dos discursos do pontífice, os artigos publicados no Osservatore Romano, tentando identificar as razões por trás da falta de tomada de posição enquanto, no plano de fundo, emergem os primeiros e tímidos sinais daquelas mudanças que caracterizariam a atitude da Igreja em relação à questão judaica.
Em conclusão: para descrever o comportamento de Pio XII em relação à "destruição dos judeus da Europa" (Hilberg), o historiador fala de "um mosaico de silêncios": "não um bloco granítico" - escreve ele - mas "um entrelaçamento complexo de diferentes causas, amadurecidas em tempos diferentes e com razões às vezes independentes umas das outras".
De tudo isso teria se originado o profundo tormento vivido pelo Papa Pacelli, hostil ao antissemitismo, mas forçado a confrontar-se com o persistente preconceito antijudaico, ansioso por abrir um novo capítulo nas relações com o mundo judaico, mas temeroso de se antecipar aos tempos.