25 Junho 2025
Inundações, corrosão de infraestrutura e deslocamento de populações são previsões, com projeções piores que o esperado, atingindo em cheio o Brasil.
A reportagem é publicada por EcoDebate, 25-06-2025.
O aquecimento global está impulsionando um aumento sem precedentes do nível do mar, e as consequências para as cidades costeiras e suas populações já são uma realidade preocupante, com projeções que indicam um cenário ainda mais drástico do que o esperado.
Este fenômeno complexo, resultante do aquecimento dos oceanos e do derretimento acelerado de geleiras e calotas polares, está redefinindo o futuro das regiões costeiras, impactando tanto a infraestrutura visível quanto a subterrânea, e ameaçando milhões de pessoas.
Uma das faces menos visíveis, mas igualmente devastadoras, do aumento do nível do mar é a sua interação com as águas subterrâneas costeiras.
Conforme o nível do mar sobe, o lençol freático costeiro é elevado e, simultaneamente, torna-se mais salgado e corrosivo. Essa intrusão de água salgada no subsolo exacerba a corrosão e a falha de redes complexas de infraestrutura enterrada e parcialmente enterrada em cidades.
Sistemas críticos como:
Essa interação corrosiva ocorre muito antes dos efeitos visíveis das inundações superficiais, constituindo uma “ameaça oculta”. Globalmente, cerca de 1,42 bilhão de pessoas em 1.546 cidades e vilas costeiras baixas estão provavelmente já experimentando esses impactos.
A ameaça direta de inundações costeiras para as áreas habitadas está crescendo drasticamente. Um estudo da Climate Central aponta que, até o fim deste século, terras que hoje abrigam quase 100 milhões de pessoas em todo o mundo estarão em risco de inundações anuais.
No Brasil, a situação é particularmente alarmante:
A necessidade de realocar populações de áreas de risco traria desafios sociais e econômicos imensos, demandando investimentos em moradias, infraestrutura e serviços públicos.
Novos estudos estão elevando as projeções do aumento do nível do mar, acendendo um alerta ainda mais urgente. Uma pesquisa inovadora, utilizando uma nova abordagem de “fusão” que combina modelos climáticos existentes com a opinião de especialistas, projeta que em um cenário de altas emissões, o nível médio global do mar pode subir entre 0,5 e 1,9 metro até 2100. Este limite superior é 90 centímetros maior do que a projeção mais recente das Nações Unidas. Mesmo em um cenário de baixas emissões, um aumento entre 0,3 e 1,0 metro é considerado “muito provável”.
Além disso, modelos de elevação mais precisos, que utilizam dados de satélite lidar da Nasa (superiores aos dados baseados em radar que superestimavam a elevação do solo), revelam que os piores impactos do aumento do nível do mar ocorrerão antes do esperado.
Esses novos dados indicam que os maiores aumentos na área inundada acontecerão após os primeiros 1 a 2 metros de elevação, cobrindo mais do que o dobro da terra do que os modelos antigos previam.
Isso significa que as comunidades costeiras têm menos tempo para se preparar, e a maior parte dos danos pode ser mitigada se as ações forem tomadas antes que o mar suba os primeiros metros.
As implicações dessas novas projeções para o Brasil são significativas e exigem atenção urgente. Além das inundações diretas e danos à infraestrutura subterrânea, o aumento do nível do mar representa uma ameaça multifacetada:
Diante desse cenário, a implementação imediata de políticas de adaptação e mitigação robustas é crucial. Atualmente, a maioria das medidas de adaptação em cidades costeiras é considerada inadequada em termos de profundidade, abrangência e velocidade.
Embora regiões mais ricas tendam a implementar medidas técnicas como diques e planejamento urbano inovador, em regiões menos desenvolvidas, as medidas focam mais em mudanças de comportamento.
No entanto, construir barreiras físicas como diques é caro e leva décadas para ser implementado. É fundamental que as cidades costeiras priorizem o planejamento e a implementação de medidas de adaptação eficazes, que considerem tanto os impactos nas infraestruturas quanto nas comunidades.
Isso inclui desde o planejamento urbano sustentável e a construção de barreiras físicas até a proteção e restauração de ecossistemas costeiros, que atuam como defesas naturais, e, de forma mais ampla, uma drástica redução das emissões de gases de efeito estufa.
A ação coordenada entre cientistas e governos, informada por pesquisas contínuas, será crucial para desenvolver soluções integradas e sustentáveis e garantir um futuro resiliente para as cidades costeiras.
O futuro do planeta e de suas populações costeiras depende de uma resposta rápida e decisiva às evidências científicas que continuam a surgir.
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