25 Junho 2025
Pela primeira vez, florestas são as mais afetadas pelo fogo na Amazônia, indicando mudança na dinâmica da floresta tropical, mostra análise do MapBiomas.
A reportagem é de Cristiane Prizibisczki, publicada por ((o))eco, 24-06-2025.
Em 2024, as queimadas atingiram 30 milhões de hectares do território brasileiro, uma área do tamanho da Itália, mostra a primeira edição do Relatório Anual do Fogo (RAF) do MapBiomas, lançado nesta terça-feira (24). O total queimado no ano passado foi 62% acima da média histórica, aponta a análise.
De forma geral, os mega eventos de fogo marcaram 2024 – 29% do total queimado foi em mega eventos com mais de 100 mil hectares afetados, ao contrário do que acontecia anteriormente, quando a maior proporção de queimadas era em áreas de 10 a 250 hectares. Além disso, os dados mostram que Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica registraram aumento expressivo na área atingida, também em comparação com a média histórica.
Em termos de extensão, a Amazônia, um dos biomas mais importantes para o equilíbrio ecológico e climático do planeta, foi o bioma que mais sofreu com o fogo no ano passado. Foram 15,6 milhões de hectares queimados, um valor 117% superior à sua média e a maior cifra desde 1985, quando a série histórica foi iniciada.
Segundo o MapBiomas, além do recorde em extensão, 2024 também marcou uma mudança em termos qualitativos: pela primeira vez, as florestas foram o tipo de cobertura vegetal mais afetado no bioma: foram 6,7 milhões de hectares de formações florestais atingidas. Até então, as pastagens eram o tipo de cobertura que mais queimava.
De acordo com pesquisadores responsáveis pela análise, essa mudança já indica que a dinâmica da floresta está mudando, tornando-se mais suscetível ao fogo. O dado acende um alerta que vem sendo dado por cientistas climáticos há alguns anos: a Amazônia, em algumas áreas localizadas, pode estar entrando em processo de savanização.
“O fogo não é um elemento natural da dinâmica ecológica das florestas amazônicas. As áreas queimadas que marcaram o bioma em 2024 são resultado da ação humana, especialmente em um cenário agravado por dois anos consecutivos de seca severa. A combinação entre vegetação altamente inflamável, baixa umidade e o uso do fogo criou as condições perfeitas para a propagação do mesmo em larga escala, levando a um recorde histórico de área queimada na região.” afirma Felipe Martenexen, coordenador de mapeamento do bioma Amazônia do MapBiomas.
As informações levantadas pelo MapBiomas complementam os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que atribuiu o aumento de 91% no desmatamento no bioma em maio às queimadas.
Ao apresentar os dados, no dia 6 de junho, o governo federal alertou que a degradação da floresta tem agora um novo perfil, efeito das mudanças climáticas e das grandes secas consecutivas. Ao sofrer com incêndios repetitivos, a floresta perde a capacidade de se regenerar.
“É uma realidade nova. De certa forma, tínhamos a expectativa de que a floresta úmida não seria vítima dessa realidade [climática de forma] tão grave como as florestas temperadas. No entanto, estamos assistindo uma situação dramática aqui no Brasil”, disse, na ocasião, João Paulo Capobianco, secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
O colapso não é no bioma todo, alertou Capobianco. Ele ainda é local, mas pode se ampliar e chegar a ser regional, se mais áreas da Amazônia continuarem a sofrer com processos de degradação, incluindo o fogo.
O total queimado na Amazônia em 2024 representou 52% da área total do Brasil atingida pelo fogo no ano passado.
Em termos percentuais, a Mata Atlântica foi o bioma que apresentou maior aumento na área queimada em 2024, e um recorde também em extensão. Foram 1,2 milhão de hectares afetados pelo fogo, uma cifra 261% acima da média histórica para o bioma. Esta foi a maior extensão de área queimada em um único ano desde 1985.
No ano passado, São Paulo concentrou 4 dos 10 municípios com maior proporção de área queimada no Brasil, todos no entorno do município de Ribeirão Preto, uma região predominantemente agrícola.
No Pantanal, o aumento foi 157% da área queimada, em comparação com a média histórica do período avaliado pelo MapBiomas Fogo. 2024 foi o terceiro ano com maior extensão queimada (2,2 Mha), ficando atrás apenas de 1999 (2,7 Mha) e 2020 (2,6 Mha).
“Em 2024, o bioma queimou na região do entorno do Rio Paraguai, região que passa por maiores períodos de seca desde a última grande cheia em 2018”, explica Eduardo Rosa, coordenador de mapeamento do bioma Pantanal no MapBiomas.
O aumento no Cerrado foi de 10%, em comparação com a média histórica. Neste bioma, 10,6 milhões de hectares sofreram com o fogo em 2024, o equivalente a 35% do total queimado no país no ano passado.
Pampa e Caatinga foram os únicos biomas que apresentaram queda na área queimada em 2024, em relação à média.
Além do Relatório Anual do Fogo (RAF), o MapBiomas também lançou nesta terça-feira a Coleção 4 de mapas de cicatrizes de fogo do Brasil, com dados desde 1985.
A Coleção mostra, por exemplo, que um quarto (24%) de todo território nacional – o equivalente à soma das áreas do Pará e do Mato Grosso – queimou pelo menos uma vez entre 1985 e 2024.
Nas últimas quatro décadas, 206 milhões de hectares foram afetados pelo fogo com intensidades diferentes em cada um dos seis biomas do País.