16 Junho 2025
A guerra nos preocupa e entra no coração do festival Repubblica delle Idee: Nathan Thrall, que com seu livro Um dia na vida de Abed Salama (Neri Pozza) ganhou o Prêmio Pulitzer de 2024, argumenta que o que está acontecendo no Oriente Médio não começou em 7 de outubro de 2023. E isso é dito por um jornalista americano, há anos chefe para Israel/Palestina do International Crisis Group, um dos think tanks mais importantes do mundo.
A reportagem é de Sara Scarafia, publicada por La Repubblica, 15-06-2025.
Ele mora em Jerusalém e hoje deveria estar em Bolonha, mas os atentados entre Israel e Irã forçaram o fechamento do aeroporto de Tel Aviv, então Thrall foi forçado a se conectar remotamente, entrevistado por nossa correspondente Francesca Caferri, e iluminou uma sala Salmon lotada.
"O objetivo histórico de Israel é conquistar cada vez mais terras com cada vez menos palestinos vivendo nelas". Uma política que ele não hesita em chamar de apartheid e que é apoiada, diz ele, por grande parte dos israelenses: haveria muito poucos que se oporiam à política de assentamentos.
JAMAIS ESQUEÇA de Israelenses debochando e zombando após exterminar palestinos, destruir escolas e hospitais, queimar todas as plantações e impedir a entrada de alimentos pra matá-los de fome.
— Thiago dos Reis 🇧🇷 (@ThiagoResiste) June 15, 2025
Segundo a Globo, esses são as vítimas!!! pic.twitter.com/l4f8QTMTcd
Nas horas em que novas bombas aterrorizam o mundo, o autor faz sua leitura. Ele acredita que por trás do ataque ao Irã há também uma política de "distração": "Se houver eventos maiores, a atenção se volta para eles e a expulsão de palestinos, por exemplo, para o Sinai, deixa de ser notícia tão importante". Thrall é claro: "A política de Israel é de colonização e não há um movimento interno real para se opor a ela. Os protestos que estão ocorrendo no mundo por Gaza são importantes, mas não são suficientes: Israel só poderia mudar de estratégia se o cenário que mais teme se concretizasse". Como preveem as sanções. "Israel só seria sobrecarregado por políticas reais em seu detrimento: uma redução na ajuda militar dos EUA, o fim dos acordos com a Europa. Todos os cenários, no momento, muito distantes. A primeira lei que prevê a proibição de produtos israelenses só agora está sendo discutida na Irlanda".
Embora tudo tenha começado há muito tempo. Como conta o livro de Thrall, a história de um evento trágico e emblemático de 2012: um grupo de crianças palestinas de um jardim de infância, em uma viagem de ônibus, sofre um acidente não muito longe de Jerusalém, mas em uma área de posto de controle. Os socorristas não conseguem passar. As crianças morrem. Thrall acompanha a história de um pai que não consegue alcançar seu filho hospitalizado: “As crianças morrem nas chamas de um ônibus e há israelenses que comemoraram suas mortes nas redes sociais. Hoje, tornou-se comum comemorar: hoje, todos os palestinos são considerados terroristas. Os israelenses ouvem seu presidente dizer que não há inocentes em Gaza”.
Nessa desumanização, o escritor nos convida à concretização: "As coisas não mudariam se Netanyahu saísse: é uma história que contamos a nós mesmos. O que é necessário, o que pode ser decisivo, são sanções".
Thrall também intervém sobre o papel dos Estados Unidos : "Eles apoiam Israel e são cegos aos crimes de guerra cometidos; na verdade, eles os apoiam. A única esperança é o protesto nos campi: os jovens que amanhã poderão votar de forma diferente. Mas é um horizonte distante".
Livro "Um dia na vida de Abed Salama", de Nathan Thrall (Editora Zahar, 2025).