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14 Junho 2025

O Peru vive um processo de desintegração política, caracterizado por instabilidade institucional, corrupção e violência cotidiana. Com uma direita radicalizada, uma esquerda fragmentada e 43 partidos na disputa, o país caminha para as eleições de abril de 2026.

A reportagem é de Mariano Schuster e Pablo Stefanoni, publicada por Nueva Sociedad, 12-06-2025.

Após assumir a presidência após a destituição abrupta de Pedro Castillo em 2022, Dina Boluarte conseguiu se manter no poder apesar de sua baixíssima popularidade e do clima político tenso. Seu governo, no entanto, é em grande parte uma casca oca: o poder real migrou para o Congresso, onde uma coalizão fragmentada de interesses legais e ilegais negocia a sobrevivência da presidente em troca de impunidade. Em meio a uma deterioração acelerada dos serviços públicos e da segurança pública, Boluarte se agarra ao cargo enquanto o público desconfia tanto dela quanto dos partidos que a sustentam.

Nesta entrevista, a socióloga Marisa Glave oferece uma análise da dinâmica de poder atual, dos desafios do sistema político implodido e das possíveis alianças no período que antecede as eleições. Ela aborda o panorama da direita conservadora, as fraturas da esquerda e o impacto do fortalecimento de grupos informais e criminosos na política nacional.

Eis a entrevista.

Desde que assumiu a presidência após o impeachment e a subsequente prisão de Pedro Castillo em 2022, Dina Boluarte sempre pareceu à beira do colapso, mas conseguiu sobreviver e espera-se que termine seu mandato, apesar de sua baixíssima popularidade. Como você caracterizaria a situação atual?

Acredito que tudo pode acontecer no contexto atual, mas é importante esclarecer que, por enquanto, Dina Boluarte continua útil à coalizão de pequenos partidos que controla o Parlamento. Não existem mais grandes blocos legislativos, mas sim pequenos grupos de interesse, legais e ilegais. A presença de Boluarte no Palácio do Governo é em grande parte decorativa ; o poder agora reside no Parlamento. A subserviência dos ministros e o aumento constante das prerrogativas do Congresso — decididas pelos próprios congressistas — demonstram isso. O pacto atual se baseia na busca pela impunidade, mas não constitui de forma alguma um acordo sólido; é, na verdade, muito precário.

Em uma situação como esta, as consequências concretas são claras. A deterioração dos serviços públicos é evidente, a ponto de a educação, a saúde, o transporte e a segurança pública estarem em seu pior estado. Há poucos dias, um jovem empresário, dono de uma boate em Trujillo, foi assassinado; em Lima, um motorista de transporte público foi morto a tiros em plena luz do dia com passageiros em seu veículo, por uma cota [uma taxa extorsiva em troca de proteção]. E uma granada foi lançada, pela segunda vez, no local de eventos Chepita Royal, no norte de Lima.

Todos sabemos que a insegurança deixou de ser uma questão de "percepção": é uma realidade assustadora. Não se trata apenas de grandes organizações criminosas — que existem —, mas da proliferação de pequenas quadrilhas competindo por empregos e extorsão. Elas não visam apenas os grandes empresários, mas também pessoas comuns : o dono de uma vinícola, o dono de um restaurante popular, o dono de um mototáxi. Se somarmos a isso o aumento da pobreza e da insegurança alimentar, a impopularidade de Boluarte — seu apoio oscila entre 2% e 3% — também afeta o Congresso, que tem cerca de 5% de aprovação. Nunca tivemos índices tão baixos.

Os cidadãos veem os parlamentares e suas facções como os principais cúmplices de Boluarte. Keiko Fujimori e Fuerza Popular são percebidos como seus principais aliados, juntamente com o prefeito de extrema direita de Lima, Rafael López Aliaga. Embora em menor grau, César Acuña e o partido Alianza para el Progreso (APP) também carregam esse estigma. Ao mesmo tempo, especula-se sobre um pacto entre Vladimir Cerrón — líder do partido Perú Libre, pelo qual o ex-presidente Pedro Castillo concorreu — e Boluarte. Isso garantiria que, apesar do mandado de prisão contra ele por vários casos de corrupção, ele possa permanecer escondido sem ser preso pela polícia.

Com eleições marcadas para abril de 2026, ninguém quer carregar o fardo de Boluarte, e todos tentam se apresentar como oponentes de diferentes maneiras. Mas o truque não funciona: é obviamente falso. O apoio do Congresso, sem qualquer supervisão política real, e o comportamento frívolo da presidente, evidente em suas várias viagens, minam qualquer pretensão.

O Peru vive, como argumentou o antropólogo Eduardo Ballón, um período de colapso institucional, mas as eleições continuam sendo a chave para o poder. Com dezenas de partidos concorrentes, manter Boluarte pode acabar sendo muito caro. Embora ela pareça confortavelmente instalada no Palácio do Governo hoje, não acredito que sua permanência esteja garantida até 28 de julho de 2026. Esta semana, a Comissão de Supervisão do Congresso aprovou um relatório que considera Boluarte responsável no caso Cofre e recomenda sua destituição.[1]Congressistas que a defenderam abertamente, como Edward Málaga, agora afirmam que ela não pode mais permanecer no palácio e levantam a possibilidade de uma vacância. Isso não é certo, mas novas vozes, de setores que originalmente a apoiavam, começam a levantar a necessidade de sua saída do palácio.

O Peru participará das eleições presidenciais do ano que vem com um sistema político em desordem. Podemos identificar alguma ligação entre os diferentes espaços políticos e ideológicos?

O que garantimos é uma alta dispersão eleitoral. Há 43 cartórios eleitorais registrados. Não podemos falar de partidos políticos em sentido estrito, pois a maioria não tem vida organizacional nem vocação para unir interesses amplos. É um arquipélago de pequenos negócios, com motivações particulares — legais, informais e até ilegais — e sem programa. Vários deles estiveram, de fato, envolvidos em escândalos de falsificação de assinaturas para obter seu registro.

Um exemplo: o partido Progresemos, que tinha o economista Hernando de Soto como potencial candidato, acaba de romper com ele. Vazou para a imprensa que seus líderes estão em negociações com Antauro Humala para incluí-lo em uma coalizão como candidato ao Senado (já que ele não pode concorrer à presidência). Do ponto de vista ideológico, parece absurdo que a mesma organização esteja debatendo entre representantes de polos tão opostos: uma figura emblemática do neoliberalismo e um ultranacionalista.

Com essa ressalva — fundamental em um país onde o pragmatismo político foi levado ao limite —, pode - se dizer que, em linhas gerais, há: uma extrema direita, ultraconservadora e autoritária, bombástica, mas dividida; uma direita mais tradicional, liberal, enfraquecida e sem uma direção clara; um centro superlotado, que dificulta o surgimento de qualquer candidato, apesar de a maioria do eleitorado se definir nas pesquisas como centrista; e uma esquerda pouco nítida, dividida em torno de sua posição sobre o ex-presidente Pedro Castillo, que permanece preso preventivamente, acusado de tentativa de golpe de Estado e investigado por casos de corrupção durante sua gestão.

O prazo para registrar alianças é o início de agosto, mas nenhuma foi anunciada ainda. As negociações estão em andamento na esquerda, mas os possíveis acordos estão em constante mudança. Keiko Fujimori disse que estaria disposta a retirar sua candidatura em favor de uma aliança de direita, mas parece mais uma declaração do que uma decisão firme. Tudo indica que ela concorrerá a um quarto mandato.

No Peru, como em outros países da região, assistimos a uma radicalização da direita e ao surgimento de figuras como Carlos Álvarez, que propõe políticas populistas punitivas, ou Phillip Butters, que se define como "anticomunista". A eles se juntam os já mencionados Rafael López Aliaga e Keiko Fujimori. Qual é o panorama atual da direita peruana?

Esses quatro candidatos disputam a representação da direita conservadora e populista. Keiko Fujimori, já uma candidata clássica — que chegou ao segundo turno três vezes e depois perdeu por pouco —, busca uma última chance. Ela começa como a "favorita" mais uma vez, mas com apenas 11% dos votos e 60% de rejeição. Seria um erro descartá-la logo de cara.

López Aliaga, representante de um setor empresarial, demonstrou ser mais conservador, discriminatório e populista do que a própria Fujimori. Ele conta com 6% de apoio, concentrado principalmente em Lima, mas também com 40% de rejeição, em parte devido à decepção com sua administração municipal. Ambos têm vínculos com setores informais, como a mineração, que receberam votos favoráveis ​​no Congresso. Essa fachada permitiu o crescimento de uma indústria de mineração claramente ilegal e criminosa.

Carlos Álvarez, figura do showbiz de Lima, é o outsider. Sua retórica é permeada por populismo penal. Ele defende a pena de morte e a saída do Peru da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Recentemente, registrou o partido "Pague por Todos". Não carrega o estigma do atual Congresso e conta com o apoio de alguns veículos de comunicação. Sua intenção de voto é de 6%.

Phillip Butters, que começou como jornalista esportivo, é a principal figura da Rádio PBO e, até o ano passado, fez parte do Willax, canal de televisão posicionado como "anticomunista" e inimigo da chamada "esquerda caviar". Homofóbico declarado, busca representar setores conservadores e evangélicos. A expectativa é que ele concorra pelo Avanza País, aliado de Boluarte no Congresso. Ele tem 2% de intenção de voto.

A direita mais tradicional não conseguiu se separar da extrema direita. Está diluída. Talvez sua única figura visível seja Hernando de Soto, de 84 anos, que parece estar com 3%, mas que por enquanto não tem partido. Os partidos mais tradicionais — como o Partido Popular Cristão e o Partido Aprista Peruano — são meras pálidas lembranças de seu passado.

A esquerda parece desintegrada e dispersa, e não conseguiu se recuperar da experiência de Pedro Castillo. Como suas tendências atuais se alinham e em quais figuras devemos nos basear?

Pedro Castillo continua sendo uma figura controversa que divide as diversas correntes da esquerda e do progressismo. As investigações de corrupção durante sua gestão, bem como seu autogolpe improvisado anunciado em rede nacional, são fatores que alienaram muitos setores. No entanto, sua prisão expressa e a falta de devido processo legal são vistas por muitos como uma injustiça. Dois anos após sua prisão, a maioria dos peruanos acredita que ele foi vítima de um golpe de Estado do Congresso.

Os setores mais institucionalistas da esquerda iniciaram conversas entre si e com as forças centristas. Entre eles está Alfonso López Chao, ex-reitor da Universidade Nacional de Engenharia, que durante o levante social contra o governo Dina Boluarte se destacou ao abrir o campus universitário para abrigar manifestantes que fugiam da repressão. Ele renunciou ao cargo para se unir ao Agora Nação — uma nova organização eleitoral — e aparece como um possível candidato progressista, com 2% de intenção de voto. Seu grupo mantém espaços de diálogo com forças centristas como o Partido Púrpura, Liberdade Popular e Primeiro a Gente (onde se destaca a ex-ministra Marisol Pérez Tello), bem como com grupos de esquerda como o Partido dos Trabalhadores e Empresários e o Novo Peru, liderados pela ex-candidata presidencial Verónica Mendoza.

Mendoza, que tem 3% nas pesquisas, indicou aos seus apoiadores que não concorrerá nas próximas eleições, criando um vácuo interno de liderança. Sua organização está dividida entre manter o processo de diálogo com o Ahora Nación, promover sua própria candidatura com novos líderes — como Vicente Alanoca, um linguista aimará do sul dos Andes — ou tentar uma aliança com outro setor de esquerda, mais conservador e autoritário, representado por Guillermo Bermejo. Este último, atual deputado federal e líder do Voces del Pueblo, também tem 2% das intenções de voto.

Bermejo estaria tentando conquistar o voto "Castillista" após o registro fracassado de duas organizações próximas ao ex-presidente: a Adelante Pueblo Unido (APU), liderada por dois ex- ministros, e a Unidade Popular, liderada pelo ex-juiz da Suprema Corte Duberlí Rodríguez. No entanto, ele não estará sozinho nessa disputa.

Juntos pelo Peru, liderado por Roberto Sánchez, promove a construção de uma aliança de esquerda populista e conservadora, em torno de uma possível coalizão com o movimento etnonacionalista Antauro Humala. Humala, embora desqualificado para concorrer à presidência, poderia liderar uma chapa no Senado, o que lhe daria espaço para negociar alianças com vários grupos. Essa coalizão também buscaria incluir a Frente Agrícola Popular (FRIA) do Peru (FREPAP), um partido ligado à Igreja do Novo Pacto Universal, que foi a surpreendente vencedora nas eleições parlamentares de 2020 após o fechamento do Congresso por Martín Vizcarra. Mas Humala tem vários jogos em andamento ao mesmo tempo, como a já mencionada relação com o Progresemos; não é uma aposta estável e pode romper a coalizão a qualquer momento.

Por sua vez, Vladimir Cerrón e o Perú Libre, que levaram Castillo à presidência, agora fazem parte da coalizão de facções que apoiam Boluarte e contribuíram, com seus votos, para a ascensão de setores ultraconservadores em instituições-chave como o Tribunal Constitucional. Cerrón anunciou sua candidatura, embora esteja atualmente impedido de concorrer.

Você mencionou Antauro Humala. O que a figura dele representa hoje?

A primeira coisa que devo dizer é que há duas figuras muito populares que não podem ser candidatos presidenciais: Antauro Humala e Martín Vizcarra.

Humala é percebido como um líder radical, anti-establishment, conservador e homofóbico, com um discurso que busca fazer referência ao governo nacionalista-popular de Juan Velazco Alvarado (1968-1975) e a um projeto estatista e ultranacionalista. Ele conseguiu registrar um partido — a Aliança Nacional de Trabalhadores, Camponeses, Estudantes Universitários, Reservistas e Trabalhadores — cujas iniciais (ANTAURO) correspondiam ao seu nome, mas este foi dissolvido por ordem da Suprema Corte por "conduta antidemocrática". Humala se manifestou a favor da pena de morte e da execução de funcionários corruptos. No entanto, no Peru, a perda do registro de um partido não significa o desaparecimento de suas figuras. Humala poderia ser convidado por qualquer outro grupo para concorrer ao Senado.

Mantendo-se discreto e recebendo pouca exposição na mídia, Antauro Humala tem viajado pelo país, especialmente pelas áreas rurais. Tudo indica que ele será candidato ao Senado e tem alta probabilidade de ser eleito. Sua presença não é mais percebida como uma "ameaça", visto que ele não pode concorrer à Presidência.

Enquanto isso, o ex-presidente centrista Vizcarra continua a aparecer nas pesquisas: na pesquisa mais recente, alcançou 15% dos votos. No entanto, foi desqualificado pelo Congresso. Ao contrário de Humala, Vizcarra mantém uma presença ativa nas redes sociais e na mídia nacional, e anunciou ações judiciais — inclusive perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos — para anular sua desqualificação.

Sempre se disse que, no Peru, a estabilidade econômica independe do caos político. Será que isso ainda se aplica sob o governo de Dina Boluarte, em um contexto de declínio democrático?

No século XXI, setores informais e abertamente ilegais da economia se fortaleceram, em parte devido à ausência do Estado, mas também devido à sua subserviência a esses atores. Como argumentam os analistas Rodrigo Barrenechea e Alberto Vergara, vivemos um processo de "perfuração" do Estado de Direito, tanto territorialmente (nas áreas periféricas) quanto setorialmente (nas esferas econômicas), que beneficiou tanto atores ilegais quanto legais, que se beneficiaram da frouxidão estatal. Muitos de seus representantes ingressaram na política como forma de defender esses interesses.

Um Estado frágil e fragmentado, incapaz de fazer cumprir a lei, somado ao esvaziamento da representação política, criou uma democracia sob ataque no Peru. Embora não haja consenso sobre se o regime atual é democrático ou não, o fato é que a degradação da política e o evidente conluio entre atores em benefício próprio geraram enorme descrédito. Não é de surpreender que o Peru tenha os menores níveis de satisfação democrática da América Latina e o menor reconhecimento do papel dos partidos políticos.

A teoria das "cordas separadas" — a ideia de que a economia e a política evoluem por caminhos diferentes — está se tornando cada vez mais insustentável. As economias informais e ilegais não só cresceram enormemente, como também penetraram na política nacional e nas estruturas de poder em Lima.

O sociólogo Danilo Martuccelli argumenta que essa dinâmica sobrepuja as formas tradicionais de compreensão da política, da cultura e da economia: vivemos em uma sociedade "informal", onde interesses diversos e fragmentados – não agregados como classes sociais – operam a partir de redes precárias, invisíveis à ciência política tradicional. Essa noção de "transbordamento popular" também é retomada pelo sociólogo Carlos Meléndez, que afirma que estamos diante de uma "fase superior de transbordamento": uma erosão que não opera mais a partir das margens, mas a partir da formação de novas elites econômicas e políticas de origem informal. Uma elite que não negocia, mas coexiste entre os remanescentes do Estado.

O perigo é que esse manto de informalidade também tenha dado origem a dinâmicas abertamente criminosas. Hoje, no Peru, governa uma coalizão de interesses pequenos e subordinados, coexistindo em precariedade institucional, muitos com influência direta no Congresso e no Executivo. O mais grave é que sua ambição não é ilusória. Eles buscarão consolidar seu poder eleitoralmente em meio à enorme dispersão política que se avizinha.

Notas

1- O Caso Cofre é uma investigação judicial em andamento sobre o uso indevido do veículo presidencial, apelidado de "o baú", durante a fuga do líder do Peru Libre, Vladimir Cerrón, em fevereiro de 2024. Cerrón é suspeito de ter ajudado a facilitar sua fuga da Ásia (sul de Lima).

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