17 Mai 2025
"Só que desta vez a questão é mais simples e tem a ver com a eloquência do Cardeal Raniero Cantalamessa, de 90 anos, pregador emérito da casa pontifícia. Às 17h45, o mestre de cerimônias pronunciou o extra omnes, e os eleitores se prepararam para realizar as operações preliminares. O Ordo Rituum Conclavis, no entanto, prevê que aos eleitores seja solicitada uma meditação 'para ajudar os cardeais a refletir sobre a gravíssima tarefa que os aguarda e sobre a necessidade de que, na eleição do Romano Pontífice, ajam em tudo com reta intenção, buscando fazer apenas a vontade de Deus, visando unicamente o bem de toda a Igreja'", escreve Gian Guido Vecchi, jornalista italiano, em artigo publicado por Corriere della Sera, 15-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
“As pessoas lá fora estão esperando a fumaça, não podemos ir embora assim.” A dúvida, ou a tentação, chega por volta das oito horas da noite de quarta‑feira, 7 de maio, o primeiro dia do Conclave. Na Capela Sistina, os 133 cardeais eleitores se entreolham, indecisos. Lá fora, o resto do mundo espera e não sabe.
Dezenas de milhares de pessoas lotam a Praça São Pedro e a Via della Conciliazione, enquanto há uma hora televisões e sites do mundo inteiro transmitem ao vivo uma gaivota pairando ao redor da chaminé montada no teto da Capela Sistina. A primeira fumaça era esperada por volta das sete da noite, sete e meia no máximo. O que está acontecendo na Capela Sistina? Oito, oito e meia, nada. A certa altura, até a gaivota vai embora, não vai dar em nada. É o momento em que as hipóteses mais criativas começam a emergir.
Há quem pense que talvez naquele momento o novo Papa esteja cumprimentando os cardeais depois de ter aceitado a eleição e vestido a túnica branca na sala das lágrimas, afinal o procedimento é longo: é verdade, nunca aconteceu de ele ter sido eleito na primeira votação, mas se for esse o caso, nunca aconteceu de um Papa renunciar e seu funeral ter sido celebrado pelo seu sucessor, nada mais nos surpreende, talvez a fumaça logo seja a branca.
Também começam a circular rumores que se espalharão descontroladamente nos dias seguintes, como a de que um cardeal distraído teria levado um celular consigo — o que, aliás, é inútil, visto que o Conclave é blindado — ou que uma votação teria sido anulada. Esta última possibilidade, na verdade, não seria uma possibilidade tão remota; de fato, aconteceu no conclave de 2013: Jorge Mario Bergoglio foi eleito na sexta votação, não na quinta, porque as cédulas são simples folhas em branco e um cardeal ficou com uma cédula colada sob a cédula em que havia votado e, durante a contagem, descobriu-se que havia uma a mais, 116 em vez de 115. Portanto, a contagem não foi feita e foi repetida “por segurança” e “para fazer as coisas corretamente”, explicou um cardeal ao Corriere.
Só que desta vez a questão é mais simples e tem a ver com a eloquência do Cardeal Raniero Cantalamessa, de 90 anos, pregador emérito da casa pontifícia. Às 17h45, o mestre de cerimônias pronunciou o extra omnes, e os eleitores se prepararam para realizar as operações preliminares. O Ordo Rituum Conclavis, no entanto, prevê que aos eleitores seja solicitada uma meditação “para ajudar os cardeais a refletir sobre a gravíssima tarefa que os aguarda e sobre a necessidade de que, na eleição do Romano Pontífice, ajam em tudo com reta intenção, buscando fazer apenas a vontade de Deus, visando unicamente o bem de toda a Igreja”.
É uma tarefa que o Padre Cantalamessa leva muito a sério. Dizia-se que duraria uma hora, mas alguns cardeais confidenciaram ao Corriere que, na verdade, a meditação durou mais, muito mais. “Umas duas horas”, suspira um. “A certa altura, perdi a noção do tempo, mas sim, mais ou menos”, diz outro. Seja como for, realidade ou percepção subjetiva, acaba ficando tarde, muito além do horário previsto. “Lembro‑me de que, em certo momento, sussurrei ao meu vizinho: agora vão dizer que discutimos esta noite, você vai ver”, ri um eleitor.
Assim, por volta das oito da noite, exaustos, os cardeais se entreolham com um ar interrogativo. Há quem diga que, a essa altura, “bem que podemos ir jantar em Santa Marta” e começar na manhã seguinte. Sabe‑se que a primeira votação é de orientação e, em todo caso, não é obrigatório fazê-la imediatamente. A constituição que regula o Conclave estabelece que na tarde do primeiro dia haverá um único escrutínio “se” os procedimentos preliminares tiverem sido concluídos.
Os cardeais estão cansados, vários são idosos, a tentação é forte. Mas o senso de dever é maior: “não podemos ir embora assim...” E no final votam, um a um, olhando para o Cristo de Michelangelo antes de depositar a cédula na urna. A maioria deles está em seu primeiro Conclave e nunca fez isso; leva um certo tempo. Às nove da noite, uma fumaça preta, muito preta, sai da chaminé da Capela Sistina. Os eleitores podem finalmente retornar a Santa Marta.