4º domingo de Páscoa – Ano C – A missão de cuidar da vida e cuidar da humanidade

09 Mai 2025

"É interessante que neste domingo a igreja celebra o domingo do Bom Pastor, num momento que que estamos na expectativa da nova governança da Igreja com um novo Papado. O que pedimos e queremos é um Bom Pastor, como dizia Francisco: um pastor que tenha cheiro de ovelhas, que conheça ao povo, aos povos e se abra as diferenças tão existenciais e gritantes que existem no nosso mundo para saber como melhor prosseguir nesse caminho eclesial.

Isso vai nos conduzindo ao Evangelho com que hoje nos brinda a liturgia: o evangelho do Bom Pastor, coincidência ou não, nesse momento em que vivemos transição de um papeado a outro. O Evangelho proposto para esse domingo de Jo 10, 27-30 inicia dizendo assim: “ 'as minhas ovelhas escutam a minha voz'.”

A reflexão é de Maria Letícia de Resende, fmvd. Ela é missionária consagrada da Fraternidade Missionária Verbum Dei. Ela possui graduação em Teologia (2000) pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica RS (PUCRS) e Mestrado em Direito Canônico (2011 ) pela Pontificia Universidade Gregoriana/ Roma - Italia. Atualmente ela é a Coordenadora da Fraternidade Missionária Verbum Dei de três países (Argentina, Brasil e Chile) e atua na pastoral na comunidade eclesial de Vila Alpes/BH.

Leituras do dia

1ª Leitura - At 13,14.43-52
Salmo - Sl 99,2.3.5 (R. 3c)
2ª Leitura - Ap 7,9.14b-17
Evangelho - Jo 10,27-30

Eis a reflexão.

Estamos no quarto domingo do tempo pascal. As leituras são preciosas, uma combinando com a outra e encaixando-se de modo muito maravilhoso, dentro do quadro no qual as discípulas e discípulos de Jesus estão vivendo , que é esse período pós pascal, ou pascal.

Estamos num tempo privilegiado de contemplar a presença do Ressuscitado na vida das primeiras comunidades cristãs. e dos primeiros seguidores de Jesus, o que a gente percebe que essas comunidades estão vivendo e estão querendo nos comunicar? O primeiro que nos querem comunicar é que a missão, o sair , anunciar, ser testemunha e sinal da esperança só é possível graças a experiência da ressuscitado. Não existe nada mais: é a experiência do ressuscitado que fazem essas primeiras comunidades tecer e configurar o seu rosto naquilo que eles são, o que viram , ouviram, tocaram, isso nos dão a conhecer (cf. IJo 1, 1-4).

Percebemos através das leituras , começando pela leitura dos Atos dos Apóstolos onde encontramos Paulo e Barnabé enfrentando a missão e ao mesmo tempo os conflitos provenientes dessa missão; Eles estão em Antióquia da Pisídia. E ali estão, pregando o evangelho, quando são surpreendidos pela rejeição dos judeus. Quem nunca se sentiu rejeitado alguma vez por sua pregação?

Decidem anunciar o evangelho aos pagãos, gentios, e mesmo assim anunciando o evangelho a outros , são criticado, difamados: os judeus começam a persuadir o povo para não aceitar o que eles anunciam, são obrigados a sair do território, em muitos lugares ainda passamos por essa mesma dificuldade: diante do anuncio do evangelho, das opções evangélicas, opção pelos pobres pode acontecer que quem anuncia seja banido.

Mas fiquei maravilhada com a postura de Paulo e Barnabé. Conscientes que eles foram escolhidos para ser luz e sal da terra, que eles são escolhidos para ser luz de Deus no meio das nações, se retiram, repletos de alegria e do Espirito Santo. O texto diz assim: “ eles continuavam repletos de alegria e do Espírito Santo” (At 13,52).

Isso é o central dessa primeira comunidade: a comunidade cristã que nasce da alegria do ressuscitado e presença do Espírito Santo, a ponto que nada nem ninguém pode calar-lhes e separar do amor de Deus (cf. Rm 8, 35-39)

Estamos vivendo durante esse ano o ano jubilar: ano da Esperança, proclamado pelo Papa Francisco , e ele dizia na sua bula: “A esperança não decepciona’ Ele diz “ Na verdade, é o Espírito Santo, com a sua presença perene no caminho da Igreja, que irradia nos crentes aluz da esperança. A esperança não engana, porque está fundada na certeza de que nada nem ninguém nos poderá separar do amor de Deus” (Bula n. 3)

A segunda leitura, acompanhando o trajeto da primeira comunidade cristã, que não cessa de anunciar a palavra de Deus pese as dificuldades: “ a grande multidão que vem com roupas lavadas no sangue do cordeiro, trazendo palmas na mão.. “uma multidão imensa, de todas as nações... vestidos com túnicas brancas” (Ap 7,9). eles atravessaram a grande tribulação: a tribulação são as perseguições que alguns podemos sentir, uns mais na pele: algumas fundadas e outras talvez infundadas, o bonito é que eles perseveraram: como Paulo e Barnabé, continuaremos anunciando e cheios de alegria e do Espírito Santo.

Essa segunda leitura eu a entendia como a consolação de Deus para com o seu povo. A consolação que Deus dá aqueles que lhe seguem, são profundamente amados por Deus: [...] estenderá sua tenda sobre eles: nunca mais terão fome, nem sede...” (cf. Ap 7, 15-16). Ele diz que cuidará delas e elas serão conduzidas as fontes de água viva e ainda diz mais: “enxugará toda lágrimas de seus olhos” (Ap 7,17). Quantas vezes nossas comunidades necessitam de alguém que lhes enxugue as lágrimas do seu rosto.

É interessante que neste domingo a igreja celebra o domingo do Bom Pastor, num momento que que estamos na expectativa da nova governança da Igreja com um novo Papado. O que pedimos e queremos é um Bom Pastor, como dizia Francisco: um pastor que tenha cheiro de ovelhas, que conheça ao povo, aos povos e se abra as diferenças tão existenciais e gritantes que existem no nosso mundo para saber como melhor prosseguir nesse caminho eclesial.

Isso vai nos conduzindo ao Evangelho com que hoje nos brinda a liturgia: o evangelho do Bom Pastor, coincidência ou não, nesse momento em que vivemos transição de um papado a outro. O Evangelho proposto para esse domingo de Jo 10, 27-30 inicia dizendo assim: “ as minhas ovelhas escutam a minha voz.”

Entendia a necessidade de escutar a voz de Deus, escutar necessitamos muito, treinar o sentido da audição,

O bom Pastor escuta também as sua ovelhas, escuta as sua necessidades, quer perceber do que precisam; existe uma reciprocidades, não somente pede que elas escutem a sua voz, mas também que sejam escutadas, talvez aqui está o caminho da sinodalidade, saber escutar a outras igrejas, aos cristãos, ao mundo, às realidades; é um ouvido atento que é de ambos.

Ele diz: “Elas me conhecem e eu também as conheço”, Que bonito, eu conheço as minhas ovelhas! Conhecer e escutar caminham juntos: não se pode conhecer aquilo que você não escutou, porque podemos levantar pré-juízos e preconceitos muito rapidamente. Por isso é necessário ativar o ouvido, a visão para escutar e ver bem o que está acontecendo: minhas ovelhas escutam e eu as conheço. O que se pede de um pastor? Que conheçam as suas ovelhas.

Para o Papa Leão XIV, o que peço é que seja capaz de conhecer e ouvir a voz das Igrejas, da humanidade.

Retomando o evangelho, diz que o pastor também cuida as ovelhas,. A imagem do Pastor está muito ligada ao cuidado: aquele que provê a alimentação, protege.

Pensemos na vida humana muito maltratada, mal amada, em meio à qual a cada dia aumentam o feminicídio, o fratricídio, o homicídio, o genocídio, o caos no planeta: como tratamos a vida? Chamadas e chamados a ser boas e bons pastoras (es), aqueles que bem cuidam da vida e da humanidade.

Referencias

1. Francisco, Christus Vivit, 2019.
2. Catecismo da Igreja Católica, n. 2560.
3. Bento XVI, Deus Caritas Est, n. 1.
4. João Paulo II, Pastores Dabo Vobis, 1992.
5. Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, n. 16.
6. Paulo VI, Evangelii Nuntiandi, n. 14.
7. Francisco, Gaudete et Exsultate, 2018.
8. Francisco Bula “ A esperança não decepciona”

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