07 Mai 2025
O cardeal Jean-Paul Vesco, 63 anos, francês de Lyon, é um frade dominicano e arcebispo de Argel. Quando ainda era bispo de Oran, em 2018, acolheu em sua diocese a beatificação dos 19 mártires da Argélia, mortos por islamistas de 1994 a 1996 durante a guerra civil, e entre eles D. Pierre Claverie, seu coirmão e predecessor em Oran, e os monges trapistas de Tibhirine, cuja história foi contada no filme Homens de Deus, de Xavier Beauvois.
A entrevista é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 06-05-2025. A tradução de Luisa Rabolini.
A que ponto estão, Eminência?
Há vários perfis, muitas personalidades que podem ser eleitas. Pelo menos cinco ou seis, eu diria. No início, me sentia um pouco inquieto, de verdade. Mas, de repente, estou muito sereno. Já estamos entrando no Conclave. E estou convencido de que o Papa já foi escolhido pelo Senhor.
A Igreja relembra os mártires da Argélia exatamente no dia 8 de maio, um dia após o início do Conclave...
Sim, é uma bela coincidência. É o dia em que os dois primeiros foram mortos, o irmão Henri Vergès e a irmã Paul-Hélène. Eles dirigiam uma biblioteca infantil em Argel.
Histórias de todo o mundo ressoaram nas reuniões, como foi?
Tenho a impressão de que essas semanas nos transformaram em um colégio de cardeais que na verdade não éramos. Vínhamos de muitos países, muitos de nós nunca haviam se encontrado. Agora, finalmente, pudemos nos conhecer.
Do lado de fora, houve alguns ataques e venenos, tentativas de interferência que atingiram particularmente os candidatos considerados favoritos, como Parolin e Tagle. São coisas que vocês perceberam durante as congregações?
Na verdade, não, de forma alguma. Também porque não conversamos entre nós durante as reuniões.
Como assim, vocês não conversam?
É estranho, como se estivéssemos em um lapso temporal. As congregações são organizadas como os antigos sínodos. Aperta-se um botão e se faz a inscrição. Eu consegui falar alguns dias depois. E cada um faz a sua intervenção. No último sínodo era diferente, as coisas haviam mudado, havia mesas e grupos de discussão. Pois bem, agora o povo de Deus não está aqui. Não se escuta a voz dos homens e das mulheres.
O senhor está sugerindo que as congregações deveriam ser reformadas?
Sim, pelo menos esse é o meu desejo pessoal. Assim como nos sínodos, a voz do povo de Deus deve ser ouvida. Não importa como o sistema funcione, escutamos uns aos outros. O clima entre nós, cardeais, é realmente muito fraterno.
Mas, enquanto isso, no decorrer das intervenções, alguém se destacou?
Há realmente muitas pessoas, a escolha é bastante aberta. Havia os candidatos, digamos, naturais, aqueles que já são conhecidos por seu papel e personalidade. E há também aqueles que intervêm e fazem você pensar: essa é uma palavra forte. Mas não há ninguém que ‘esmague’ os outros, um de quem você possa pensar: será ele. Mas vai acontecer.
De que forma?
Não sei, para mim é algo muito misterioso. Estava diante do caixão de Francisco e pensei: o que é um Papa? Quem vou eleger? De repente, um homem, um irmão meu, será o Papa e sua vida mudará. É misterioso.
Mas um perfil?
Alguns dirão: dê-nos um teólogo, um homem que saiba ser guardião da doutrina. Outros observarão que, em um mundo que está indo tão mal, é importante ter um homem que conheça a geopolítica. Todos esses aspectos são importantes, é claro. Mas há uma característica mais importante que um Papa não pode deixar de ter.
Qual seria?
A dimensão pastoral. Precisamos de um pastor, de uma testemunha, de um pai. No funeral de Francisco, era isso que as pessoas nos pediam: dê-nos um pai.