07 Mai 2025
"Em um mundo no qual, como em um ensaio aterrorizante de Carl Schmitt de 1941, as Potências Hegemônicas prometem “paz” no Grande Espaço se neste lhes for permitido usar toda a força que desejam, é necessário um Papa que seja livre, não passível de chantagem, não indeciso, não solitário", escreve Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha, em artigo publicado por Corriere della Sera, de 05-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há algumas perguntas cujas respostas farão de um cardeal o novo bispo de Roma e, de todos os outros, ex-papáveis. Algumas perguntas que são totalmente ideológicas (“Você abolirá a Fiducia supplicans que permite a bênção do amor entre pessoas do mesmo sexo?”). Algumas são inconfessáveis (“O que vai me dar?”, “Excluirá os não-eleitores das Congregações Gerais?”, “Alterará os limites de idade, agora obsoleto, para bispos e cardeais?”). Outras já eram conhecidas ou vieram à tona nos últimos dias. Vou mencionar algumas.
1) O novo Papa está disposto a não dar nada, mas realmente nada, ao mundo de onde ele vem (ordem, movimento, teologia)? Ou será que ele pretende favorecer, ainda que pouco, aqueles que por alguma razão são “seus”, para substituir as figuras que acompanhavam o Papa jesuíta?
2) Ele deve ou não dar o cardinalato àquelas sedes que Francisco ignorou (legitimamente), criando um colégio que, no final, não estimava tanto assim, se nunca o convocou para um verdadeiro consistório?
3) Deve ou não se comprometer a realizar o Sínodo sobre o ministério solicitado pelos bispos e que Francisco adiou ao realizar dois ao redor das mesas de um “discernimento comunitário”, teorizado em 1976 por ninguém menos que o Padre Rupnik?
4) Os bispos que sempre foram católicos terão permissão para ordenar padres casados para a Igreja latina, como Bento XVI concedeu àqueles que anteriormente eram anglicanos?
5) O presbiterado feminino é um tema de concílio, de papa ou de gaveta? E a experiência das diáconas que existia na época do apóstolo Paulo deve ser obedecida ou suspensa por mais alguns séculos?
6) A fraternidade com as religiões deve absorver a vocação ecumênica da Igreja e a comunhão com o judaísmo, ou é necessária uma teologia diferente da unidade do gênero humano, dos crentes, dos cristãos e dos irmãos de Jesus?
7) A unidade deve ser alcançada em torno do próximo papa ou contra o papa anterior?
Esses são exemplos: muitas outras encruzilhadas estão na mente dos eleitores. E juntamente com as duas questões mais difíceis: a libertas ecclesiae e a transmissão da fé. Em um mundo no qual, como em um ensaio aterrorizante de Carl Schmitt de 1941, as Potências Hegemônicas prometem “paz” no Grande Espaço se neste lhes for permitido usar toda a força que desejam, é necessário um Papa que seja livre, não passível de chantagem, não indeciso, não solitário. E em um mundo no qual a eloquência da vida cristã de Francisco granjeou admiração e não emulação, é necessário entender que a transmissão da fé não requer um Papa assertivo e que não escuta: mas uma teologia das chagas de Cristo na carne do pobre, na dor do tempo.