18 Abril 2025
O tema do feminino e da vida eterna tratado à luz da situação atual e capaz de desafiar e questionar mentes e consciências. Pode-se resumir assim o sentido do título “Donne della risurrezione. Uno sguardo femminile sul Mistero” [Mulheres da Ressurreição. Um olhar feminino sobre o Mistério], de Carlo Maria Martini, publicado pela Il Pellegrino Edizioni.
Um livro que nasceu de uma experiência compartilhada no período final de sua vida, quando o cardeal já sofria de mal de Parkinson, mas ainda podia trabalhar. Partindo das figuras das três mulheres que, na manhã de Páscoa, vão ao sepulcro para ungir o corpo morto de Jesus e, em vez disso, descobrem o túmulo vazio, Martini relê substancialmente a situação do feminino na Igreja e no mundo com voz profética. As meditações, transcritas com absoluta fidelidade ao tom coloquial do próprio Martini, reproduzem aquelas propostas às Auxiliares Diocesanas, uma associação de fiéis consagradas de direito diocesano ambrosiano, em agosto de 2007, uma das últimas ocasiões em que ele conduziu os Exercícios Espirituais, no Centro de Espiritualidade de Pineta di Sortenna (Sondrio). O texto também é enriquecido pela possibilidade de ouvir diretamente a voz de Carlo Maria Martini (1927-2012), graças às gravações da época que podem ser acessadas por meio de um código QR, constituindo assim um verdadeiro testamento espiritual que agora reencontra a luz.
O Prefácio - provavelmente seu último escrito público - é assinado por Silvia Giacomoni, jornalista e amiga pessoal do Cardeal Martini, que acaba de falecer, que nas entrelinhas destaca “o surgimento de um Martini inédito”. (F.Cip.)
Quem são essas mulheres? A resposta é fácil: basta ler os primeiros versículos do último capítulo dos quatro Evangelhos para vê-las descritas. Elas não são mais do que quatro, e isso nos surpreende porque gostaríamos de ver a ressurreição anunciada por quatrocentos mil, por quatro bilhões de pessoas. Em vez disso, são quatro: disso nasce tudo. Por si só essa pequenez nos ilumina.
São aquelas mulheres, aquelas três ou quatro mulheres que, na sexta-feira à noite após a morte de Jesus, compraram óleo e perfume para ir ungir seu corpo. O relato do Evangelho nos conta que, na manhã do domingo, o primeiro dia da semana, quando ainda estava escuro - o detalhe é dado por Maria Madalena - elas se dirigiram ao túmulo. São elas, precisamente: Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, Salomé e, acrescenta Lucas, Joana. Portanto, no máximo quatro. Elas vão ao sepulcro e o encontram aberto e vazio. Há surpresa, perplexidade; mil hipóteses vêm à mente, mas elas são esclarecidas pelo anúncio do anjo: “Ele não está aqui, ressuscitou” (Mt 28,6). Portanto, elas não encontram o Ressuscitado, mas são as primeiras a receber o anúncio da ressurreição. O que fazem? Podemos agora tentar responder melhor à pergunta: o que elas fazem concretamente, como podemos qualificar sua ação? Eu as qualificaria assim, com três características.
Primeiro: elas se põem em ação, enquanto os apóstolos ficam parados, até podemos dizer que ficam negligentes, preguiçosos, desinteressados, amargurados, lambendo as feridas. Elas se mexem, como fazem as mulheres em situações difíceis, nunca ficam paradas: vão comprar mirra, óleo, se preparam para ir ao sepulcro.
Segundo: elas fazem o que podem, porque certamente não podem prever a ressurreição de Jesus (caso contrário, teriam organizado uma procissão...). Elas agem pensando em Jesus morto, daí a necessidade de completar a unção com o unguento. Elas agem dentro dos limites de sua compreensão, mas esses limites são os mesmos para todos.
Terceiro, e isso também é muito bonito, não desmoronam na amargura ou no ressentimento quando veem que Jesus está morto e não aparece. Os apóstolos poderiam dizer: “vamos deixar tudo para lá”, mas elas não, não deixam para lá, fazem o que podem e, mesmo quando seu testemunho não é aceito, não desistem, perseveram.
Estas são algumas de suas características importantes: elas começam a agir; agem dentro da estrutura do que entendem e que depois se tornará cada vez mais ampla; e se põem em ação sem se deixar tomar pela amargura, sem lamber as feridas, sem autopiedade, como seria muito fácil fazer. Assim, merecem conhecer Jesus, encontrá-lo.
O que há em seus corações? Vejo em seus corações duas coisas acima de tudo.
Primeiro: amam muito Jesus e querem fazer qualquer coisa por ele, por isso seu coração vai além de seu entendimento. Seu entendimento diz: “Jesus está morto e está no frio da sepultura”. Seu coração vê mais longe. Elas amam muito Jesus, querem fazer qualquer coisa por ele e não estabelecem limites. Essa é a primeira característica.
Uma segunda característica é que elas não se preocupam demais quando percebem que ninguém acredita nelas: não ficam desanimadas, não se fecham, não começam a criticar: “Lá vai essa Igreja machista que não acredita em nós!” Elas têm razão, mas não se apegam a esses detalhes, porque, pelo menos no momento, não servem para nada; em vez disso, tentam levar adiante sua tese de uma forma ou de outra. Elas continuam acreditando em sua tese. Não dizem: “Bem, nós tentamos e essa Igreja não nos quer. Chega! Estamos indo embora, vamos bater a porta”. Não, elas ficam para testemunhar até onde for necessário, para estarem prontas a dar seu apoio a qualquer estímulo de bem que possa surgir.
Caracterizam-se, portanto, por um grande amor - já dissemos que essa é a primeira característica - e, em segundo lugar, por uma grande liberdade de coração: são livres, são soltas, são senhoras de si mesmas, não têm um espírito de escravidão, de modo que dizem: “Levantei a cabeça, me olharam torto, vou abaixá-la e pronto!” Elas são livres, mas respeitam as competências alheias; não se intrometem nas competências de Pedro e João. Madalena deixa os dois irem ao túmulo sem querer se intrometer no que é uma verificação oficial. Portanto, sabem manter sua posição, mas com leveza e liberdade. Tudo isso é muito. Todas essas coisas, que dissemos em poucas palavras, contêm muitas, muitas e muitas coisas.