30 Abril 2024
Bispos católicos da Inglaterra e do País de Gales rejeitaram a "teoria da identidade de gênero", lembrando as escolas e paróquias católicas de defender os ensinamentos tradicionais sobre identidade humana e sexualidade.
A reportagem é de Jonathan Luxmoore, publicada por America, 26-04-2024.
"Muitas visões conflitantes, divergentes e muitas vezes contraditórias da pessoa humana encontraram ampla aceitação (...) levaram a que os detentores de teorias tradicionais fossem cancelados ou até mesmo perdessem os seus empregos", disseram os bispos.
"Nunca devemos procurar ofender outrem, inclusive em situações em que o outro defende uma visão da realidade diferente ou que se afasta da visão da Igreja sobre a pessoa humana. No entanto, deve-se tomar cuidado para resistir à tentação de adotar a linguagem da ideologia de gênero em nossas instituições", acrescentaram.
O apelo foi incluído em uma reflexão pastoral de 11 páginas, intitulada Intrincadamente Tecida pelo Senhor, sobre gênero, publicada em 24 de abril pela Conferência Episcopal de Westminster.
O documento diz que uma "nova linguagem" evoluiu em torno de termos como "trans", "transgênero" e "fluidez de gênero", acrescentando que os bispos desejam ajudar pais e famílias a "transmitir a verdade sobre a pessoa humana" a seus filhos, ao mesmo tempo em que acompanham aqueles que lutam "com sua identidade como homem ou mulher".
"Essa ideologia leva a programas de educação e promulgações legislativas que promovem uma identidade pessoal e intimidade emocional radicalmente separadas da diferença biológica entre homem e mulher. Consequentemente, a identidade humana torna-se uma escolha para o indivíduo, que também pode mudar ao longo do tempo", diz o texto.
"Tal visão da pessoa humana é altamente difundida em todos os setores da sociedade, levantando desafios pastorais significativos e urgentes para a Igreja, bem como desafios nos campos do direito, medicina, educação, negócios e liberdade religiosa."
Estudos de gênero têm destaque nas universidades ocidentais desde a década de 1950, com muitos defensores insistindo que um foco tradicional em papéis binários masculino-feminino discrimina as pessoas que exibem variação sexual.
A última década viu um aumento acentuado de pessoas que desejam mudar de sexo, embora os oponentes tenham expressado temores sobre a perda de espaços exclusivos para mulheres em prisões e hospitais, bem como injustiça em esportes onde homens biológicos competem como mulheres.
No Reino Unido, onde os cidadãos transgêneros representam 0,5% da população de 67,85 milhões, de acordo com um censo de 2021, os médicos de saúde pública pararam de prescrever hormônios bloqueadores da puberdade a jovens com disforia de gênero por motivos de segurança em 1º de abril, enquanto um relatório de 10 de abril disse que os serviços de gênero para crianças eram guiados por ideologia em vez de "princípios normais de pediatria e saúde mental".
Na Escócia, uma nova Lei de Crimes de Ódio e Ordem Pública, em vigor em 1º de abril, tornou crime questionar a identidade transgênero ou "características sexuais variadas" de uma pessoa, e foi condenada como contrária aos ensinamentos da Igreja pela Conferência Episcopal Escocesa muito antes de entrar em vigor.
Em sua reflexão de 24 de abril, os bispos do Reino Unido disseram que as pessoas "em diferentes esferas da sociedade" compartilhavam a crença da Igreja Católica, fundada no Livro do Gênesis, na "importância do corpo humano como criado".
"Ser homem ou mulher é... 'componente fundamental da personalidade'", disseram os bispos, citando o documento do Vaticano de 2004 sobre a colaboração de homens e mulheres na Igreja e no mundo.
"Devemos honrar nosso corpo resistindo a intervenções médicas, destinadas a 'reatribuir' gênero onde elas destroem a fertilidade ou a função sexual do corpo. Visões que promovem uma visão enganosa do corpo humano são profundamente preocupantes, pois promovem uma visão tão limitada e falha da pessoa humana", escreveram os bispos. O documento diz que os papéis masculinos e femininos são determinados não apenas por "fatores biológicos ou genéticos", mas também por "temperamento, história familiar, cultura, experiência, educação, influência de amigos, familiares e pessoas respeitadas".
No entanto, o acompanhamento pastoral daqueles que enfrentam incongruência e disforia de gênero também deve ser baseado no "respeito aos pais como educadores primários".
"Não podemos encorajar ou dar apoio a intervenções médicas reconstrutivas ou medicamentosas que prejudiquem o corpo", diz o documento.
Entre vários documentos eclesiásticos, a reflexão dos bispos do Reino Unido cita as exortações apostólicas do papa Evangelii Gaudium (2013) e Amoris Laetitia (2016), bem como Dignitas Infinitas, uma declaração de 8 de abril do Dicastério para a Doutrina da Fé, que deplorou os maus-tratos às pessoas por causa da orientação sexual, mas também criticou o uso da teoria de gênero para justificar mudanças de sexo e "novos direitos".
Os bispos disseram que a Dignitas Infinitas solidificou os ensinamentos papais, destacando "a importância de manter unida a pastoral daqueles que sofrem disforia de gênero ou se identificam como transgêneros e a necessidade de proclamar a verdade da pessoa humana".
Eles acrescentaram que a Igreja ofereceu um acolhimento compassivo, sensível e respeitoso aos católicos adultos que "escolheram fazer a transição social e médica", mas disseram que as paróquias, locais de trabalho e escolas católicas devem refletir "a compreensão católica fundamental da pessoa humana" em seu trabalho.
Em entrevista coletiva em Londres, em 24 de abril, o cardeal Vincent Nichols, de Westminster, disse que a reflexão dos bispos está em "absoluta harmonia" com o Vaticano. No entanto, acrescentou que não se pretende que seja uma "declaração doutrinária" e disse que caberá aos educadores católicos decidir se "pronomes preferidos" serão permitidos para alunos que se identificam como trans ou LGBTQ+ nas escolas católicas.
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Bispos britânicos expressam rejeição à ideologia de gênero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU