5º Domingo da Quaresma – Ano B – Uma obediência que abraça e humaniza a vida dos aflitos

Por: MpvM | 15 Março 2024

"A Obediência de Jesus, portanto, não é uma vivência cega, fundamentalista, condenadora; ela é uma obediência plena à missão de construir o Reino de Deus. É uma obediência discernida, lúcida, criativa e cheia de sentido. É uma obediência que abraça e humaniza a vida dos mais aflitos."

A reflexão é de Erika Gomes Duarte, consagrada secular da Comunidade Missionária de Villaregia. Ela possui graduação em teologia pela PUC Minas, especialização em Espiritualidade Cristã e Orientação Espiritual e mestrado em teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Atua como professora de teologia no ensino superior e na pastoral cristã.

Leituras do dia

1ª leitura - Jr 31,31-34
Salmo - Sl 50(51),3-4.12-13.14-15 (R. 12a)
2ª leitura - Hb 5,7-9
Evangelho - Jo 12,20-33

Eis o texto

Viver a obediência em sintonia com os critérios da vida de Jesus, é um chamado para as pessoas de todas as idades e de todos tempos. Em nossos dias atuais, ser obediente, é uma proposta que pode ressoar de diversas maneiras e se apresentar como um desafio bastante significativo. Peçamos, então ao Espírito Santo que nos inspire e abra nosso ser para que a escuta da Palavra possa amadurecer nossa experiência de fé.

As leituras deste 5º domingo da quaresma nos convidam a refletir acerca do sentido da obediência a partir da perspectiva bíblica, como também sobre seu impacto existencial na vida cristão de hoje.

Quantas vezes, em diferentes circunstâncias, nos deparamos com as seguintes questões em nossa própria consciência?... Até que ponto devo respeitar às regras da sociedade? É mesmo necessário, sempre obedecer meus pais? Posso entrar em desacordo com determinada figura de autoridade? 

Fidelidade, rebeldia, normas, desejos, imposições, submissões, premiações, punições, discernimento, vontade de Deus, são todas palavras e expressões que nos remetem ao tema Obediência, e que ecoam dentro de nós, suscitando um universo de emoções, recordações e perguntas sobre seu significado cristão.

Claramente, esta meditação não pretender oferecer conclusões fechadas para cada uma destas provocações que permeiam, de modo constante, a existência humana. A proposta de hoje consiste em acolher o que a liturgia da Palavra nos comunica, para assim, a partir delas, procurar identificar algumas pistas de reflexão que possam iluminar nosso cotidiano.

Na primeira leitura (Jr 31,31-34) , escutamos a promessa do próprio Senhor Deus que nos diz: “ imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei de escrevê-la em seu coração; ” (Jr 31,33). Já a segunda leitura  ( Hb 5,7-9), nos explica que a obediência filial de Jesus, não foi causa opressão para as pessoas e sim de salvação para a humanidade.

“Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem. (Hb 5,8-9).

E podemos prosseguir ainda com o Evangelho segundo João, no qual Jesus diz o seguinte: “Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora? ’ Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. ” (Jo 12,27).

A hora da qual Jesus nos fala é a hora da entrega de sua própria vida. E por meio destas palavas de Jesus, podemos contemplar o ato máximo de amor do Filho, que mesmo no sofrimento, foi fruto de um sim livre, consciente e coerente com todo o seu testemunho de vida.

Mas podemos nos perguntar: se Jesus era, então, uma pessoa obediente, porque será que em algumas narrativas Ele, por exemplo, cura enfermos no sábado? De acordo com os fariseus, naquela época, não era permitido fazer curas no sábado e eles, eram conhecidos, justamente, pela observância rígida da Lei.

A obediência de Jesus, portanto, não é uma vivência cega, fundamentalista, condenadora; ela é uma obediência plena à missão de construir o Reino de Deus. É uma obediência discernida, lúcida, criativa e cheia de sentido. É uma obediência que abraça e humaniza a vida dos mais aflitos.

Consequentemente, também nós, na contemporaneidade, somos chamados a viver de forma obediente, mas segundo os princípios assumidos por Jesus. Não se trata de uma submissão simplista a uma imposição normativa externa e mal compreendida.

Jesus, ao invés, nos ensina a respeito de uma obediência, que nasce de dentro de nós, que tem origem em nossos desejos mais profundos e verdadeiros e que se torna expressão de vida plena e de serviço para as pessoas que encontramos em nossa realidade. Isto porque a lei da liberdade e do encontro foi impressa por Deus em nossas entranhas e está escrita em nosso coração.

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