28 Novembro 2023
O governo dos Emirados Árabes Unidos foi acusado de aproveitar seu papel como anfitrião da COP28 para favorecer interesses da indústria petroleira com outros países.
A informação é publicada por ClimaInfo, 28-11-2023.
Mais um capítulo da novela protagonizada pelos Emirados Árabes Unidos para a COP28: o governo anfitrião da Conferência da ONU sobre o Clima teria aproveitado essa condição para fechar acordos de combustíveis fósseis com pelo menos 15 países, entre eles o Brasil, de acordo com denúncia publicada pela BBC nesta 2ª feira (27/11).
A reportagem obteve documentos oficiais que mostram como a petroleira estatal ADNOC, presidida pelo executivo Sultan al-Jaber – que, pasmem, também presidirá a COP28 a partir do dia 30 – utilizou reuniões preparatórias às negociações climáticas para assinar acordos comerciais para exploração e venda de petróleo e gás.
Os documentos vazados foram preparados para orientar al-Jaber nas conversas com ministros e representantes governamentais sobre a COP. A reportagem cita que, para o encontro do executivo com a ministra brasileira Marina Silva, ele solicitaria uma ajuda para “garantir o alinhamento e o endosso” em relação a uma oferta da ADNOC para compra de parte da petroquímica Braskem.
Questionada, a equipe organizadora da COP28 negou que essas orientações tenham sido transmitidas a seus funcionários nas interações com representantes governamentais de outros países. Ao mesmo tempo, não está claro se al-Jaber de fato levou essas questões para as conversas com ministros e chefes de governo. De toda forma, o caso intensifica o mal-estar e a irritação da sociedade civil com os conflitos de interesse que marcam a presidência da COP28.
“Se as alegações forem verdadeiras, isto é totalmente inaceitável e um verdadeiro escândalo”, afirmou Kaisa Kosonen, coordenadora de política do Greenpeace Internacional. “O líder de uma COP deveria se concentrar na promoção de soluções climáticas de forma imparcial e não em acordos de bastidores que estão alimentando a crise climática. Este é exatamente o tipo de conflito de interesse que temíamos quando o CEO de uma empresa petroleira foi nomeado para a presidência da COP”.
Já Ann Harrison, da Anistia Internacional, reiterou que a comunidade internacional não pode considerar al-Jaber como um mediador honesto para a COP28 enquanto ele seguir no comando da ADNOC. “Pedimos a al-Jaber que renuncie ao seu cargo na ADNOC se quiser liderar uma cúpula bem-sucedida”.
“Este é o momento ‘Volkswagen 2015’ [alusão ao escândalo do Dieselgate]
This is the 'Volkswagen 2015' moment for the #COP28 Presidency. Caught red handed, the COP Presidency has no other option but to now unequivocally step up the transparency, responsibility and accountability with which they lead the process. [1/2]https://t.co/mOpmYDfTaL
— Christiana Figueres (@CFigueres) November 27, 2023
para a Presidência da COP. Pega em flagrante, ela não tem outra alternativa senão reforçar a transparência, a responsabilidade e o accountability com os quais lideraram o processo”, avaliou Christiana Figueres, ex-secretária-executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), em post no falecido Twitter. “Esta Presidência da COP estará sob escrutínio público como nunca antes. Este é um desafio tremendo e uma oportunidade transformacional para ela”.
AFP, Financial Times, Guardian e POLITICO, além do g1, repercutiram a denúncia da BBC contra o comando da COP28.
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Emirados Árabes sob pressão após vazamento de acordos petroleiros na COP28 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU