5º domingo do tempo comum – Ano A – Ser sal e ser luz: a missão de espalhar sabor e beleza no mundo

03 Fevereiro 2023

Na reflexão a seguir, Marlise Ritter nos recorda que "é missão de cada cristão/ã batizado/a ser discípulo/a missionário/a. E ao identificar-se com o Mestre e Seu Projeto de vida vai estreitando os laços na vivência de uma espiritualidade encarnada, em sua realidade e nos diferentes areópagos, sendo sujeito eclesial, na Igreja e na Sociedade."

Marlise Ritter – cristã leiga, casada há 21 anos, mãe de um filho de 18 anos. Ela possui formação em Ciências Religiosas na PUC/RS, em história pela FAPA/RS e pós graduação em Administração pela UNINTER. Atualmente atua no Conselho Nacional do Laicato do Brasil – CNLB, colabora em diversas pastorais e participa do grupo “Famílias dos Carismas da CRB”, grupo este voltado para a partilha de carismas da VRC com leigas e leigos.

 

 

Leituras do dia


1ª leitura: Is 58,7-10
Salmo: Sl 111(112),4-5.6-7.8a.9 (R. 4a.3b)
2ª leitura: 1Cor 2,1-5
Evangelho: Mt 5,13-16

O Quinto Domingo do Tempo Comum tem como tema principal: ser Sal da terra e Luz do Mundo. Recordo o refrão do Hino do Ano Nacional do Laicato: Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo, levai aos povos todos o amor, meu dom fecundo! Teu Reino, ó Jesus Cristo, queremos propagar, seguindo o teu exemplo, o mundo transformar! (Letra e Música: Adenor Leonardo Terra)

Nesta perspectiva iniciamos a nossa reflexão com a primeira leitura de (Is 58, 7-10), que retrata o tempo do retorno do Exílio, no século VI a.C., e constatamos os estragos da deportação; o templo está destruído que era o lugar das liturgias, penitências, orações e sacrifícios ... parece que Deus não escuta; parece surdo aos apelos. 

É então que o profeta que chamamos de Terceiro Isaías intervém para dizer que a única maneira de restabelecer a justiça não é pela oração passiva, nem pelo jejum ou pelas mortificações, mas pelo compromisso com os mais fracos, os mais pobres e com a cura das feridas: “Repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente” (Is 58,7). É então, diz o profeta, que “a sua luz brilhará como a aurora, suas feridas vão sarar rapidamente, a justiça que você pratica irá à sua frente e a glória de Javé virá acompanhando você” (Is 58,8). No fundo, o que o profeta Isaías diz é o seguinte: o verdadeiro culto que Deus ouve e que muda qualquer coisa na dura realidade da existência é o compromisso social que leva a pessoa a ser um sinal vivo do amor de Deus e da esperança cristã no meio do povo.

Trazendo para nossa realidade e encontrando semelhanças com aquela situação nos perguntamos: Como ser uma “luz” que dá testemunho do amor e da misericórdia de Deus? A minha fé e a minha relação com Deus se traduz na luta pela libertação dos meus irmãos e irmãs? O meu compromisso de fé leva-me a estar atento à partilha com os pobres, os excluídos, marginalizados, os que estão nas periferias geográficas e existenciais, conforme nos pede o Papa Francisco? A minha vivência cristã traduz-se em ser profeta/profetiza do amor, da esperança, da justiça e da reconciliação?

Na segunda leitura (1Cor 2,1-5) Paulo recorda aos coríntios que a “sabedoria humana” não salva nem realiza plenamente. A realização plena está em Jesus Cristo e na “loucura da cruz”. 

Paulo apresenta-se na dupla condição de evangelizador e de homem. Como evangelizador (vers. 1-2), Paulo não se apresentou com palavras grandiosas, com discursos sublimes, com filosofias elaboradas; mas apresentou-se com toda a simplicidade para anunciar esse paradoxo de um Deus fraco, que morreu numa cruz rejeitado por todos. Apesar de tudo, em Corinto nasceu uma comunidade cristã cheia de força e de fé.

Qual foi, então, a razão pela qual os coríntios aderiram à proposta de Jesus, apresentada humildemente por Paulo? Para além do nosso esforço, da nossa entrega, da nossa doação, das nossas técnicas, está o Espírito de Deus que potencia e torna eficaz a Palavra que anunciamos.

Já no Evangelho de Mateus (Mt 5, 13-16) que é uma continuidade do Sermão da Montanha, Jesus apresenta a nova Lei que deve reger a caminhada do novo Povo de Deus na história.

O texto que nos é proposto reúne duas metáforas – a do sal e a da luz – que definem a missão daqueles que aceitam viver no espírito das bem-aventuranças.

A primeira comparação é a do sal (vers. 13). O sal é, em primeiro lugar, o elemento que se mistura na comida, que se dissolve e que dá sabor aos alimentos. Também é um elemento que assegura a conservação dos alimentos. Simboliza, nesta linha, aquilo que é inalterável… No Antigo Testamento, o sal é usado para significar o valor durável de um contrato; nesse contexto, falar de uma “aliança de sal” (Nm 18,19) é falar de um compromisso permanente, perene (cf. 2 Cr 13,5).

Dizer que os/as discípulos/as são “o sal” significa confirmar a permanência do projeto salvador e libertador de Deus no mundo e na história.

A referência à perda do sabor (“se o sal perder o sabor… já não serve para nada”) é um alerta aos discípulos para a necessidade de um compromisso efetivo com o testemunho do “Reino”: se recusarem ser sal e se demitirem das suas responsabilidades, o mundo guiar-se-á por critérios de egoísmo, de injustiça, de violência, de perversidade, de intolerância e estará cada vez mais distante da realidade do “Reino” que Jesus veio propor. Nesse caso, a vida dos/as discípulos/as terá sido inútil.

A segunda comparação é a da luz (vers. 14-16). Para explicar, Jesus utiliza duas imagens. A primeira imagem (a da cidade situada sobre um monte) leva-nos a Is 60,1-3, onde se fala da “luz” de Deus que devia brilhar sobre Jerusalém e, a partir de lá, iluminar todos os povos. A segunda imagem (a da lâmpada colocada sobre o candeeiro, a fim de iluminar todos os que estão em casa) repete e explicita a mensagem da primeira: os que aderem ao “Reino” devem ser uma luz que ilumina e desafia o mundo.

Estas duas imagens não pretendem, contudo, dizer que os/as discípulos/as de Jesus devam, mostrar-se, escolher lugares de visibilidade de onde recebam aplausos. Mas pretende dizer que a missão deve levá-los a dar testemunho, a questionar o mundo, a ser uma interpelação profética, a ser um reflexo da luz de Deus; e que não devem esconder-se, demitir-se da sua missão, ou fugir às suas responsabilidades.

É desse comprometimento que nascerá uma nova compreensão do Reino, buscado incansavelmente, conforme o Documento CNBB, Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade. Sal da Terra e Luz do Mundo: “...chamados pelo Batismo e pela crisma ao seguimento de Jesus Cristo, os cristãos leigos e leigas assumem a responsabilidade de serem sujeitos na Igreja e na Sociedade: sal e luz”. [1] E continua dizendo que “a partir da sua vocação especifica os cristãos leigos e leigas vivem o seguimento de Jesus na família, na comunidade eclesial, no trabalho profissional, na multiforme participação na sociedade civil colaborando assim na construção de uma sociedade justa, solidária, e pacifica, que seja sinal do Reino de Deus inaugurado por Jesus de Nazaré” (nº11).

Portanto, é missão de cada cristão/ã batizado/a ser discípulo/a missionário/a. E ao identificar-se com o Mestre e Seu Projeto de vida vai estreitando os laços na vivência de uma espiritualidade encarnada, em sua realidade e nos diferentes areópagos, sendo sujeito eclesial, na Igreja e na Sociedade. [1]

Assim caminhamos com a Igreja no Brasil, que está no 3º Ano Vocacional e tem como Tema: Graça e Missão e como Lema: Corações ardentes, pés a caminho (cf Lc 24, 32-33). Este é um convite para que vivamos nossa vocação cristã, discernindo a graça do chamado e a urgência da missão, sendo sal da terra e luz do mundo.

 

Notas

[1] CNBB. Cristãos Leigas e leigos na Igreja e na Sociedade. Documento 105 – Sal da Terra e Luz do Mundo (Mt 5,13-14), 2016. 1ª edição – Paulinas 

[2] Idem.

 

Para refletir

Pensemos em tudo isso e deixemos que o Espirito Santo de Deus nos guie e encontre espaço em nossas vidas, em nossos corações, em nossas ações!

 

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