Megaoperação do STF mira bolsonaristas da Amazônia

Foto: Redes Sociais

17 Dezembro 2022

Na manhã desta quinta-feira, 15 de dezembro de 2022, a Polícia Federal cumpriu 81 mandados de busca e apreensão em todo o País, 32 deles na Amazônia Legal; foram apreendidos com golpistas de Santa Catarina armamentos como fuzil, rifles com lunetas e submetralhadoras.

A reportagem é de Márcio Camilo, Leanderson Lima e Francisco Costa, publicada por Amazônia Real, 15-12-2022.

Bolsonaristas da Amazônia Legal estão entre os alvos dos 81 mandados de busca e apreensão, autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A Polícia Federal (PF) cumpriu na manhã desta quinta-feira (15), 32 mandados nos 9 estados da Amazônia Legal. A operação investiga os atos golpistas e antidemocráticos contra o resultado da eleição presidencial, e procura interromper os acampamentos e bloqueios rodoviários espalhados em todo o País, que ameaçam, inclusive, a cerimônia de posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Foi em Santa Catarina, estado no Sul do País que foi alvo de 15 mandados, que a PF encontrou um arsenal em posse dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). “Nas operações policiais contra atos antidemocráticos, determinadas pelo STF, foram encontradas várias armas (submetralhadora, fuzil, rifles com lunetas etc). Definitivamente isso não é ‘liberdade de expressão'”, condenou o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, no Twitter.

Os nomes que sofreram busca e apreensão não foram divulgados pela PF, em razão da investigação correr em segredo de Justiça. A Amazônia Real conseguiu apurar o nome de algumas pessoas que foram alvo do STF. Mato Grosso foi o estado com o maior número de mandados na Amazônia Legal: 20, no total, seguido por Acre (9), Amazonas (2) e Rondônia (1). Também houve ações em Mato Grosso do Sul (17), Distrito Federal (1) e Paraná (16).

Chamada de megaoperação, ela consiste de duas decisões do ministro Alexandre de Moraes que incluíram, ainda, quatro ordens de prisão, quebras de sigilo bancário, apreensão de passaportes, suspensão de certificados de registro de colecionador de armas (os CACs), bloqueio de contas bancárias e de 168 perfis em redes sociais de dezenas de suspeitos de organizar e financiar atos antidemocráticos. Na nota oficial, a PF informa que foram 81 mandados de busca de apreensão, enquanto em conteúdo divulgado pelo STF existe a menção de 103 mandados. As decisões foram tomadas no âmbito da Petição 10685, que está relacionada ao Inquérito 4879, que apura atos ilegais e que atentam contra a democracia.

Também por ordem de Alexandre de Moraes, empenhado em desmobilizar os golpistas atuando em todo o País, foi preso na noite de segunda-feira (12) uma liderança indígena bolsonarista, José Acácio Serere Xavante, conhecido como cacique Tsererê. Depois de sua prisão, golpistas acampados em Brasília tentaram invadir a sede da PF e incendiaram veículos na capital federal.


Empresários golpistas

Rafael Yonekubo com Carlos Bolsonaro | Foto: Reprodução redes sociais

O empresário mato-grossense Rafael Yonekubo, de 42 anos, recebeu a “visita” dos agentes da PF por volta das seis horas desta quinta, em sua casa na capital Cuiabá. A reportagem da Amazônia Real teve acesso a um vídeo, que circula pelos grupos de WhatsApp bolsonaristas, em que o investigado relata o ocorrido:

“Bom dia, meus amigos. Hoje é dia 15 de dezembro de 2022. Seis e cinco, mais ou menos, da manhã. Xandão mandou a Polícia Federal vir aqui em casa, mas está tudo bem, graças a Deus. Os policiais federais que aqui estavam, eram seis, se não me engano, foram compreensíveis e muito bem educados. Fizeram a busca e apreensão e levaram meus aparelhos celular. Então, eu estou incomunicável, mas tudo bem, e qualquer informação eu vou mandando para o pessoal por vídeo”, disse o empresário. Xandão é o apelido utilizado pelos bolsonaristas para se referir ao ministro Alexandre de Moraes.

Yonekubo é bolsonarista de carteirinha e fã fervoroso de Bolsonaro. Em suas redes sociais, ele se autodenomina como “cristão, conservador, ativista político e armamentista”. Há uma série de posts incentivando os atos golpistas, e colocando em xeque a lisura do processo eleitoral, sem apresentar qualquer tipo de prova que respalde a acusação.

Em um vídeo publicado em sua conta no Facebook, em 7 de novembro, Yonekubo divulgou uma carreata de camioneiros em Cuiabá, contra o resultado da eleição presidencial. No vídeo, ele registra o comboio de veículos passando em frente à 13ª Brigada do Exército, e sendo aplaudido pela multidão bolsonarista: “Estamos aqui em Cuiabá, na décima terceira brigada, onde começou a se formar a carreata dos caminhões. Uma parte já está indo para Brasília e a outra parte está aqui em Cuiabá, fazendo a resistência”, disse empresário no vídeo, que conta com 7, 7 mil seguidores no Facebook e mais 4.169 no Instagram.

De acordo com a Justiça Eleitoral, o empresário, que é do partido PTB, está como suplente de deputado estadual na próxima gestão da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (AL-MT). A reportagem tentou entrar em contato com ele, por meio de suas redes sociais, no entanto, não obteve respostas. Seu celular caiu direto na caixa postal, pois está apreendido pela PF.


Advogada pró-Bolsonaro

Analady Carneiro em frente ao quartel em Cuiabá | Foto: Reprodução redes sociais

Quem também teve o seu celular apreendido foi a advogada Analady Carneiro. Ela sofreu busca e apreensão em sua residência, também em Cuiabá, na capital mato-grossense. O Facebook dela é tomado de fotos de Bolsonaro e de postagens de cunho golpista. Em um desses conteúdos ela replica um vídeo do Youtube intitulado “A BALA DE PRATA DE BOLSONARO”, em que há uma série de mensagens dúbias – inclusive com uma fala do atual presidente da República – incentivando para que as pessoas continuem em frente aos quartéis, pedindo intervenção militar contra o resultado da eleição.

Analady Carneiro também já participou de atos antidemocráticos em frente ao quartel da 13ª Brigada do Exército, que fica na avenida do CPA – uma das principais vias de Cuiabá.

Já o militar reformado Adavilso Azevedo foi outro alvo da operação em Cuiabá. Depois de ter sofrido busca e apreensão em sua casa, foi até a sede da PF, na capital, prestar depoimento. Aos repórteres que estavam no local, ele negou que tenha financiado qualquer tipo de ato golpista.

Em seu perfil no Instagram, aparece em uma foto junto de Bolsonaro. Foi candidato a deputado estadual pelo PL, alcançando uma vaga de suplência. Nas redes, se identifica como “mobilizador das carretas e motociatas”.


No Amazonas

Bloqueio na BR 217 em Boca do Acre, no Amazonas | Foto reprodução redes sociais

Dois mandados judiciais foram cumpridos no município de Boca do Acre (distante a 1.558 quilômetros de Manaus), no interior do Amazonas. A operação no município foi considerada discreta. Os nomes dos empresários investigados também não foram divulgados, porque o inquérito segue em segredo de justiça.

Em Boca do Acre, as manifestações golpistas tiveram início na manhã da terça-feira, dia 1º de novembro. A estrada alvo dos bloqueios foi a BR-317. O primeiro ponto foi feito logo após a entrada do Projeto de Assentamento do Monte. Nos dias seguintes, os bolsonaristas fizeram um segundo bloqueio no Km 10, que fica próximo ao Parque de Exposições Agropecuárias. Boca do Acre foi um dos três municípios do interior do Amazonas onde Bolsonaro venceu as eleições do segundo turno. Os outros foram Apuí e Guajará. O atual presidente também venceu em Manaus, mas perdeu nos outros 58 municípios do Amazonas.

Os manifestantes cortaram árvores, usaram pneus e atearam fogo, para que ninguém pudesse passar. O bloqueio do trecho da estrada foi encerrado 48 horas depois.

A PF cumpriu ainda mandado de busca e apreensão no município de Humaitá (distante a 591,33 quilômetros de Manaus). No dia 31 de outubro, manifestantes bloquearam um trecho da rodovia BR-320 (a Transamazônica). A interdição da estrada foi feita no Km 430, onde também fica localizado o distrito de Santo Antônio do Matupi, localizado entre Manicoré e Apuí, uma das regiões mais devastadas do Amazonas, e um dos maiores redutos bolsonaristas do Estado. Os nomes dos envolvidos na operação realizada no município de Humaitá também não forma divulgados.

Em Rondônia

Armas e balaclavas apreendidas com os manifestantes em Rondônia | Foto: PRF/Reprodução

Em Porto Velho, um servidor público vinculado a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento SustentávelSema, foi alvo de busca e apreensão pela PF. Na casa deles, os policiais apreenderam celulares e documentos. Ele não teve seu nome divulgado.

Na segunda-feira (12), três empresários foram detidos acusados de trocar tiros com a polícia, quando se preparavam para incendiar um ônibus, durante atos antidemocráticos. Na região conhecida como Curva da Morte, na BR-364, próximo ao município de Jaru, distante 293 quilômetros de Porto Velho. Na última terça-feira (13), a Polícia Rodoviária Federal desmobilizou os últimos bloqueios em rodovias no Estado. Os apoiadores de Bolsonaro mantém acampamento na área de esportes que fica na frente da 17ª Brigada de Infantaria de Selva, região central da capital rondoniense.


No Mato Grosso Sul

O ex-prefeito do município de Costa Rica (MS), Waldeli dos Santos | Foto: Reprodução redes sociais

Em Mato Grosso Sul, estado já fora da Amazônia Legal, houve o segundo maior número de mandados de busca e apreensão. A Amazônia Real também conseguiu apurar os nomes de 3 dos 17 alvos da operação. A médica e ex-candidata a deputada federal Sirlei Faustino Ratier é uma dessas pessoas suspeitas. Ela teve seu celular e passaporte apreendidos. Ela usa suas redes sociais para posts antidemocráticos, como um que pede a intervenção militar por meio da sigla “S.O.S Forças Armadas”.

Outro investigado, que sofreu busca e apreensão em sua casa, foi o ex-prefeito do município de Costa Rica (MS), Waldeli dos Santos. Em nota à imprensa local, ele disse que “sempre se expressará para apoiar e defender a democracia, o estado democrático de direito e as liberdades individuais e coletivas previstas na Constituição do Brasil”. Já a influenciadora digital Juliana Gaioso sofreu busca e apreensão em sua residência. Além disso, conforme a imprensa local, ela já é investigada pelo serviço de inteligência da Secretaria Estadual de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul por suspeita de financiar e organizar atos antidemocráticos em frente a quartéis do Exército no estado.

Em seu perfil no Facebook, que conta com mais de 80 mil seguidores, ela tem feito uma série de transmissões ao vivo dos atos golpistas que estão ocorrendo no gramado do Palácio da Alvorada, em Brasília. Em uma das publicações – feita na segunda-feira (12.12), a audiência registrada foi de 3,9 mil curtidas, 2, 5 mil comentários e 810 compartilhamentos. A Amazônia Real entrou em contato por email com os alvos da operação da PF, mas não obteve respostas até o fechamento da reportagem.

O STF baseou os mandados de busca e apreensão com informações obtidas por relatórios de inteligência enviados pelos Ministério Público, pelas Polícias Civil e Militar e Rodoviária dos estados. Foram identificados financiadores, organizadores e fornecedores que dão apoio aos bloqueios nas estradas, caminhoneiros, e proprietários de veículos que dão apoio à infraestrutura dos acampamentos dos golpistas.

Insatisfeitos com a derrota de Bolsonaro, os golpistas têm insistido em negar o resultado das urnas e atentado contra quem fale o contrário. É por essa razão que jornalistas em todo o Brasil têm sofrido ameaças e ataques dos bolsonaristas, inclusive profissionais da região Norte, conforme mostrou a Amazônia Real.

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