Na guerra dos símbolos a violência é real. Artigo de Ivânia Vieira

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25 Outubro 2022

"A agressão não à imagem em si e sim à crença e valores da comunidade católica do bairro Colônia Oliveira Machado da qual São Francisco é padroeiro revitaliza em larga escala o desrespeito, o ódio e a determinação em promover a violência comunicacional na cotidianidade local e nacional. O que se viu em seguida, em diferentes lugares do Brasil, reedita no tempo pós-moderno a perseguição a povos e grupos de cristãos", escreve Ivânia Vieira, jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Comunicação, articulista no jornal A Crítica de Manaus, cofundadora do Fórum de Mulheres Afroameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).


Eis o artigo.


No dia 4 de outubro quando o ataque feito por um homem ao arremessar um pedaço de pau sobre romeiros e decepar a mão da imagem de São Francisco, em Manaus, um sinal estava dado. Não como ato novo e sim na ampliação e disseminação da conduta em diferentes cidades brasileiras.

A agressão não à imagem em si e sim à crença e valores da comunidade católica do bairro Colônia Oliveira Machado da qual São Francisco é padroeiro revitaliza em larga escala o desrespeito, o ódio e a determinação em promover a violência comunicacional na cotidianidade local e nacional. O que se viu em seguida, em diferentes lugares do Brasil, reedita no tempo pós-moderno a perseguição a povos e grupos de cristãos.


Os eventos religiosos, como o Círio de Nazaré, em Belém (PA), as cenas de violência e violação na Igreja de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), como posicionamento político-eleitoral; os ataques ao cardeal e arcebispo metropolitano de São Paulo, Dom Odilo Scherer, por conta da cor vermelha na roupa tradicionalmente usada em celebração; em Manaus, durante missa celebrada pelo cardeal e arcebispo metropolitano de Manaus, Dom Leonardo Steiner, no dia 16, participantes vestidos em amarelo e verde enunciam sentidos, valor e poder dessa comunicação cerceadora.

“A Economia das trocas simbólicas observa que o discurso não é uma simples troca de signos em situações de comunicação, mas o encontro de certas disposições sociais (o habitus desses agentes) com certos mercados simbólicos e seus sistemas muito particulares de formação de preços”, afirma o pesquisador Liráucio Girardi Jr, em artigo intitulado “Pierre Bourdieu: mercado linguísticos e poder simbólico”.



O poder simbólico é o poder de fazer coisas com palavras ou imagens, o poder de fazer ver, de fazer crer e de fazer agir; de confirmar ou transformar uma visão de mundo.

As lutas simbólicas, assinala Girardi, são as marcas das lutas pela manutenção ou reposicionamento das posições do discurso nas mais diversas esferas do mundo social. No interior delas, certos enunciados disputam a condição de discursos legítimos, isto é, passam a ser avaliados, reconhecidos e passam a circular e a ter “efeitos” sociais. Deixam de ser simplesmente textos. Afetam a vida, imprimem marcas.

De acordo com o pesquisador, para mudar o mundo, faz-se necessário realizar um complexo trabalho sobre a produção de representações autorizadas e sobre a capacidade de sua circulação pelos diversos mercados simbólicos dispersos hierarquicamente pelo mundo social: “o poder simbólico só se exerce sobre aqueles que, em sua trajetória social e em seu processo de socialização, desenvolveram os esquemas de percepção capazes de reconhecer a sua autoridade. A condição da eficácia simbólica do discurso é a possibilidade desse encontro”.


Ergue cidades inteiras onde moram o amordaçamento, a mentira e a perversidade na engrenagem de modelação do pensamento único.

“O campo político e o campo midiático transformam-se, nos dias de hoje, em um complexo espaço de lutas simbólicas”, acresço o religioso onde ordens religiosas e suas igrejas atuam como organizações empresariais de matriz autoritária. Pela força e o medo tentam submeter fiéis ao apoio, pelo voto, a personagens e projetos privados de poder, sustentados pela verba pública e a oferta de postos na estrutura de governo.


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