06 Julho 2022
“O ser humano não para de brincar porque envelhece, mas envelhece porque para de brincar.”
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, publicado por Il Sole 24 Ore, 03-07-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o artigo.
Para alguns antropólogos, a hominização teria se realizado quando aquele ser ainda animalesco abandonou o caminho da necessidade, da utilidade, da prevaricação, e fez um ato gratuito e “inútil”, como começar a brincar ou a traçar algum signo simbólico, ou a apontar para as cores das flores.
Infelizmente, é preciso reconhecer que o jogo livre e puro está se transformando cada vez mais em um negócio e até mesmo em violência: basta pensar na degeneração do esporte dentro e fora dos estádios nos jogos de futebol, no cálculo financeiro que gira em torno deles, no doping e assim por diante.
Antes de ser pervertida pelos jogos eletrônicos, a criança consegue atestar a beleza e a criatividade do brincar: uma pá e um pouco de areia, aos seus olhos, tornam-se arquitetura, assim como uma vassoura pode se transformar em um cavalo.
Da mesma forma, o idoso – antes de ser isolado em um apartamento de um edifício de periferia anônimo – passava horas de serenidade e de compromisso absoluto jogando cartas com os amigos ou jogando bocha, uma prática que agora quase desapareceu.
Todas essas observações, aliás um pouco óbvias, nos fazem compreender o significado da frase supramencionada do escritor irlandês George B. Shaw: mesmo no idoso, o jogo consegue manter o espírito vivo e livre, e até a mente fresca. E, a esse respeito, como não defender o valor das palavras cruzadas?
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Palavras cruzadas. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU