Amigo secreto

Deltan Dallagnol (à esquerda) com o ex-juiz Sérgio Moro | Foto: Reprodução

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22 Junho 2022

 

O documentário desconstroi de maneira consistente a imagem da operação Lava Jato como focada apenas em corrupção para captar seu objetivo maior: atingir Lula e os sistemas produtivos de óleo e gás do País e suas maiores empreiteiras, como a Odebrecht.

 

O comentário é de Neusa Barbosa, publicado por Cineweb, 07-06-2022.

 

Eis o texto. 

 

Diretora do premiado O Processo (2018), que acompanhava o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, Maria Augusta Ramos volta ao campo jurídico-político que marca sua obra para avançar numa reflexão sobre o estado de coisas do País.



A narrativa começa em 2017, com imagens de um depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao então juiz Sérgio Moro na operação Lava Jato, em que a insistência do segundo em perguntas já respondidas pelo primeiro deixa clara a intenção de mostrar aquelas imagens - traçar um perfil de Moro, que se tornaria uma celebridade nacional a partir da investigação.

 

 



Passo seguinte, está-se em 2019, quando o ex-juiz já era o ministro da Justiça do governo Bolsonaro e os ecos da chamada Vaza Jato começavam a abalar a imagem tão solidamente construída pela mídia hegemônica em torno de Moro e do procurador Deltan Dallagnol como heróis anticorrupção. O vazamento das mensagens trocadas entre Moro e os procuradores de Curitiba pelo hacker Walter Delgatti Netto expôs uma série de combinações no mínimo duvidosas e inúmeras ilegalidades cometidas secretamente por eles na condução da operação.



O documentário acompanha o trabalho principalmente de quatro jornalistas, investigando as pistas fornecidas pelas mensagens vazadas e que mudaram radicalmente o rumo dos acontecimentos - e particularmente o futuro de Moro, que se pretendeu candidato presidencial e acabou sendo considerado juiz suspeito em julgamento do Supremo Tribunal Federal. Os jornalistas são Carla Jiménez, Marina Rossi e Regiane Oliveira, do jornal El Pais, e Leandro Demori, do The Intercept.



Acompanhando entrevistas destes jornalistas e outros materiais, o filme inclui alguns depoimentos bombásticos, como do ex-delator e diretor da Odebrecht, Alexandrino Salles de Alencar, destacando que o foco de seus interrogadores da Lava Jato era sempre insistir em obter denúncias contra o ex-presidente Lula e seus familiares. Alencar afirma que foi pressionado no sentido de denunciar o ex-presidente e apenas ele.



Como é de hábito nesta diretora, sem recorrer a narrações, apenas a partir destes depoimentos e outras filmagens, o documentário desconstroi de maneira consistente a imagem da operação Lava Jato como focada apenas em corrupção para captar seu objetivo maior: atingir Lula e os sistemas produtivos de óleo e gás do País e suas maiores empreiteiras, como a Odebrecht.



Um outro nexo importante é o destaque para o papel desempenhado pelo FCPA (Foreign Corrupt Practices Act), uma lei federal promulgada em 1977 nos EUA para combater práticas de suborno de seus funcionários no exterior e que acabou desvirtuada como forma de intervenção disfarçada em empresas do exterior que façam concorrência aos norte-americanos - de que foram um grande exemplo grandes multas aplicadas à Petrobras e à Odebrecht nos EUA por supostas práticas de corrupção ocorridas no Brasil, envolvendo políticos brasileiros.



Do que trata realmente o filme é da desconstrução de Moro e da Lava Jato, deixando às claras seu caráter político e antinacional. Nada mais eloquente do que a constatação crítica do jornalista Leandro Demori sobre como a grande imprensa “terceirizou seu trabalho”, não checando devidamente os vazamentos das denúncias que lhes eram cotidianamente oferecidas pelos procuradores de Curitiba. Sem essa cega adesão midiática, a Lava Jato não poderia ter provocado os danos incalculáveis que causou ao País, precipitando-o na crise política em que atualmente se encontra.

 

Sinopse

 

Um grupo de jornalistas brasileiros investigam a Operação Lava Jato, que levou à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao posterior escândalo do vazamento de mensagens envolvendo juízes e procuradores, mostrando a manipulação de informações e ilegalidades jurídicas.

 

Ficha técnica

 

Nome: Amigo Secreto

Nome Original: Amigo Secreto

Cor filmagem: Colorida

Origem: Alemanha

Ano de produção: 2022

Gênero: Documentário

Duração: 131 min

Classificação: 12 anos

Direção: Maria Augusta Ramos

 

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