6º domingo de Páscoa – Ano C – Quem ama guardará minha palavra

Por: MpvM | 20 Mai 2022

 

 "Quem guarda a palavra de Deus se compromete com o amor incondicional numa entrega plena, livre. Numa experiência de permanecer Nele numa perspectiva de vida nova. Permanecer Nele garante os bons frutos. Tudo é mais palha que o vento leva. É uma relação onde Deus se faz morada em nós, onde o amor divino nos habilita a ser geradora e tecedora do amor. A profundidade nas relações nos fortalece. O amor transforma tudo, o ser humano, as estruturas sociais, a realidade onde estamos inseridas e nos introduz na morada do Pai."

 

 

A reflexão de Maria Helena Morra, scm,  religiosa do Instituto Sagrado Coração de Maria. Ela é mestre em teologia pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus - CES/BH, atualmente denominado Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE, de Belo Horizonte/MG, e doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica - PUC-Minas. Atualmente é professora na PUC-Minas, membro da “Rede Um Grito pela Vida” e dedica-se a assessorias na área de educação e teologia.

 

Leitura do Dia


1ª leitura Atos 15,1-2.22-29
O salmo 66 (67) , 2-3.5.86.8 (R 4)
2ª. leitura - Ap 21,10-14. 22-23
Evangelho Jo 14, 23-29

 

Neste 6º domingo do tempo Pascal somos convocadas/os a ouvir a mensagem de Deus através das leituras bíblicas deste domingo.

 

A primeira leitura(Atos dos Apóstolos15,1-2.22-29) nos traz algumas discussões e pontos controversos da Igreja primitiva, apontando o ápice da discórdia sobre a aceitação dos gentios na Igreja. Pedro, no entanto, acreditava que ninguém deveria ser considerado impuro, nem mesmo os gentios. Na passagem de Atos 15, 1-2 há uma controvérsia em torno da circuncisão. Há uma interrogação a respeito da compreensão da experiência da salvação, vinculada à experiência da circuncisão.

 

Durante um evento chamado Concílio de Jerusalém (cerca de 49-50 D.C) esta questão foi refletida e os apóstolos escolheram dois participantes da comunidade e os enviaram com uma carta para os membros da Igreja com as orientações definidas nesta reunião.

 

Ainda nos versículos 22-29 aparece uma problemática ligada ao exercício da missão de pessoas sem mandato da parte dos apóstolos e anciãos. Pessoas que saíram pregando, perturbando e transtornando outros com suas palavras. Nesta carta, falam também da decisão de não imporem outro peso além das coisas indispensáveis para o bom andamento da vida da comunidade, como a abstenção das carnes imoladas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e de união ilegítimas.

 


Ao iniciar, o salmo (Salmo 66/67) conclama: Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem!

 

Os salmos refletem a realidade da vida do povo que interage com o seu Deus numa situação especifica: pode ser de louvor; de libertação; de instrução ou de celebração. O salmo 66 (67) se insere dentro deste contexto. É um salmo de ação de graças onde o povo suplica a Deus a sua graça e a sua benção. Tem uma composição harmoniosa e a voz do salmista apresenta um sentido musical que se desenvolve numa dinâmica melodiosa. É um salmo curto, belo que convoca ao reconhecimento da presença fecunda de Deus, que cuida do seu povo. Esse Deus que está presente na caminhada do povo.

 

Nos versículos 2-3 aparece o clamor do salmista pedindo a Deus que tenha misericórdia do povo. É uma súplica interpelativa a Deus, para que faça brilhar a sua face e se possa experimentar a força da sua salvação. Explicita assim fortes emoções e contemplação. A primeira e a terceira estrofes contém formulas de oração que parecem ter sido tiradas da benção sacerdotal do livro de Números. Podemos reportar ao Capítulo 6, 24-26 :

Iahweh te abençoe e te guarde!
Iahweh faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te seja benigno!
Iahweh mostre para ti a sua face e te conceda a paz!

 

Nos versículos 5,6,8 o salmista faz um chamado a todos os povos da terra para que se alegrem e exultem a Deus, porque Ele julga com justiça e retidão. O salmista nos convoca ao reconhecimento da presença do nosso Deus, caminhando sobre a terra, fazendo-a frutificar/produzindo frutos.

 

Se colocarmos nossa confiança em Deus nada vai nos faltar. As bênçãos provocam alegria, júbilo, ação de graças. São um convite para que agradeçamos a Deus pelos benefícios recebidos.

A segunda leitura é do livro do Apocalipse 21,10-14. 22-23. Segundo Bortolini, o livro do Apocalipse usa uma linguagem camuflada, que incentiva a resistência e dribla a marcação do poder opressor. A mensagem do Apocalipse não é abstrata, é bem situada. No entanto, é necessário desenvolver uma metodologia de reconstrução no imaginário do povo, para que se recomponha como povo. Na dinâmica da reconstrução há de se usar símbolos e mitos, que não demarquem significados, mas que possam direcionar novas perspectivas.

 

A Nova Jerusalém acontece quando, na nossa caminhada, somos capazes de transformar as relações de injustiça. Na Nova Jerusalém não há templo, nem sol, nem lua. O seu templo é Deus e o Cordeiro. A sua Luz é a gloria de Deus, o Cordeiro e a Lâmpada.

 

Comecemos a mudar o modo como nos relacionamos. Vemos no versículo 10 que há valores transcendentes: Ele então me arrebatou em espírito sobre um grande e alto monte, e mostrou-me a cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, junto de Deus, com a Glória de Deus. A imagem da Cidade Santa que está presente em Ap 21,10-14 é a imagem de uma sociedade que oprimiu os antepassados (Babilônia), que desmascara a violência de Roma, num tempo de sutil opressão política e extrema exploração econômica, sem dizer as coisas às claras. É uma transformação autêntica que deve ser anunciada e vivenciada. A história de Deus irrompe dentro da história da humanidade. O versículo 22 diz "Não vi nenhum templo nela, pois o seu templo é o Senhor, o Deus todo poderoso, e o Cordeiro". É a denúncia de corrupção vivida com os que se diziam mediadores entre as pessoas e Deus.

 

No Evangelho de hoje (Jo 14, 23-29) Jesus diz aos seus discípulos: Se alguém me ama guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos Nele a nossa morada.

 

Quem guarda a palavra de Deus se compromete com o amor incondicional numa entrega plena, livre. Numa experiência de permanecer Nele numa perspectiva de vida nova. Permanecer Nele garante os bons frutos. Tudo é mais palha que o vento leva. É uma relação onde Deus se faz morada em nós, onde o amor divino nos habilita a ser geradora e tecedora do amor. A profundidade nas relações nos fortalece. O amor transforma tudo, o ser humano as estruturas sociais, a realidade onde estamos inseridas e nos introduz na morada do Pai.

 

Quem não me ama não guardará a minha palavra. No entanto, a Palavra que escutais não é minha, mas do Pai que me enviou. Mas o Espirito Santo vos dará lucidez e vão perceber tudo o que eu vos disse enquanto estava convosco. O Paraclito é apresentado como mestre (Jo 14,24 ) Ele traz uma novidade no campo das Palavras e do ensinamento. Vai relembrar tudo que foi ensinado por Jesus. A revelação ainda não cumpriu a plenitude da sua caminhada. O Paraclito é a atualização de tudo que Jesus viveu e fez.

 

Quem não se compromete em guardar o amor de Cristo não se compromete também com seus mandamentos. Não vai testemunhar o que Jesus construiu com a sua presença entre nós. Não vai ter a claridade para vivenciar sua mensagem de vida e missão.

 

Para refletir

 

• Como as passagens bíblicas deste domingo tocam a nossa vida?

• Como o salmista, qual a benção que podemos salmodiar para o nosso Deus?

• Como esta liturgia nos desafia na dinâmica do amor? na experiência de vivenciar a palavra de Jesus?

 

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