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Foto: PxHere

06 Janeiro 2022

 

José Luis Fevereiro

 

SOBRE O ARTIGO DE GUIDO MANTEGA

 

Acabei de ler o artigo de Mantega, economista da campanha de Lula. Assim como Marconi do PDT envia sinais trocados.

Se critica o teto de gastos, por outro lado enaltece os superavit fiscais dos governos Lula e critica os déficits de 2016 para cá. Típico artigo da forma Lula de fazer política. Sinalizar para os 2 lados.

Não adianta falar em ampliação de programas sociais, em retomada do investimento público, em usar o papel do Estado como motor da reindustrialização sem questionar frontalmente os paradigmas macroeconômicos liberais.

Sem revogar o teto de gastos e aumentar o gasto público nada disso para em pé. Conciliar isso com orçamentos equilibrados e superavits primários é defender a quadratura do círculo.

O cenário de hoje não é o de 2003. Não tem espaço para equilibrismos. E isso precisa ser dito na campanha.

Vai ter omelete, mas ovos serão quebrados. Ou não terá omelete.

 

Samuel Braun

 

Guido Mantega foi o melhor ministro da economia deste século, por isso e por escrever em nome do próximo presidente virtualmente eleito, é importante comentar seu texto na Folha - lembrando isso, é um texto dele pra Folha.

Dois dias atrás o economista Nelson Marconi também publicou lá texto em nome de Ciro Gomes. Como Ciro pode cumprir na eleição o papel de grilo falante de esquerda (caso queira), também é importante falar desse texto, até para saber como se põe à esquerda de Mantega - se é que o faz.

Vou começar por Marconi.

Propõe a "instituição de tributação progressiva sobre lucros e dividendos, heranças e patrimônio, desonerando compensatoriamente a produção" é um plano de "desenvolvimento científico e tecnológico" tal qual fizeram EUA, Alemanha e França.

No detalhamento desse plano, sugere o "desenvolvimento de novas fontes de energia, a reorientação do uso do petróleo, as alterações na forma de produzir carnes e outros alimentos, a implantação de uma infraestrutura de baixo uso de carbono e os necessários avanços tecnológicos na área da saúde", "incluindo a microeletrônica, softwares e inteligência artificial".

Eu concordo 101% com as sugestões de desenvolvimento relatadas acima e creio que o futuro ministro do planejamento e desenvolvimento industrial deve se pautar por esse caminho. Meu senão está na parte fiscal e monetária, ou, em termos leigos, nas condições macroeconômicas que possibilitem estes planos.

Marconi sugere, como Ciro em seu conhecido livro, que primeiro "devemos equacionar a questão fiscal a médio prazo, tornando a trajetória da dívida pública sustentável". Óbvio que o diagnóstico aqui é de que a dívida pública atualmente não é sustentável. Como se trata de ponto factual - ou é ou não é - esclareço logo que a dívida pública de um país monetariamente soberana é, por definição, "sustentável".

A palavra equacionar é bastante ampla, servindo ao fiscalismo entender gastar menos do que arrecada e aos novo-desenvolvimentistas dizer que se trata de um equilíbrio de longo prazo, com déficits, com a possível subida do PIB. Um mandato presidencial no Brasil tem 4 anos, sendo o médio prazo algo provavelmente superior a isso. É preciso saber se ele propõe déficit por todos os anos de um suposto mandato ou superávit dentro desse período, até mesmo no primeiro ano como diz Ciro. Dizer que um dia o PIB vai crescer e baixar proporcionalmente a dívida todo heterodoxo dirá, já que se trata de uma consequência, agora dizer que este é o objetivo exige declarar qual o prazo. Não há possibilidade de prever prazo? Então o prometido é apenas déficit, e o resto é consequência esperada e não política implementada.

Há ainda uma menção a juros baixos e câmbio industrializante - que basicamente é dólar alto para tornar os produtos brasileiros baratos no exterior.

Em resumo, Marconi, assim como o próprio Ciro já fez, promete um excelente plano de retomada de investimentos, reconhece que tem de ser pelo gasto público ou não será, mas contraditoriamente propõe condições fiscais que inviabilizam o financiamento do plano.

Apenas especulando sobre esta lacuna, pode ser que pretendam mais que compensar a desoneração da produção (redução de arrecadação) com a tributação de lucros, dividendos, heranças e patrimônio. No texto se fala apenas em compensar, mas, tendo em vista a meta de "equilíbrio fiscal", parece que os planos todos de desenvolvimento estarão limitados à um saldo positivo nessa complexa transição tributária.

Na vida real da política nacional esse é o plano daqueles que se põem - ou podem se por, ou aqui e ali julgam vantajoso se pôr - à esquerda da candidatura de Lula. Plano próprio e provavelmente mais ousado alguns partidos sem representação institucional, e mesmo eu, temos, mas o que conta pro debate nacional é esse acima.

Agora vamos ao que diz Guido Mantega, por Lula.

Ele passa de forma muito mais genérica por tudo que Marconi fala, como por progressividade tributária, retomada da indústria, controle da inflação e manutenção de juros baixos. Ressalta, em grande parte do texto, os ganhos sociais e econômicos do período petista e lembra que antes, com FHC, e depois, com Temer e Bolsonaro, a coisa foi sempre pior.

E aí começam os erros do mesmo tipo citados em Marconi: defesa de superávit fiscal, ou mesmo da ideia geral que anima as leis específicas (LRF, Teto, etc), qual seja, que o Estado deve gastar menos do que arrecada, e nunca mais. Dizendo de outra forma: que o Estado deve tirar renda da economia. Fica parecendo que a discordância com o Teto de Gastos é na dose, não no remédio.

Guido cita destacadamente a necessidade de desfazer as reformas liberais, ou seja, as leis criadas inspiradas nessa máxima da responsabilidade fiscal. A reforma trabalhista é tosca e fácil de ser tomada por Judas, mas vem no bojo de uma decisão de Dilma, Nelson Barbosa e Joaquim Levy de baixar os salários e gerar desemprego "de ajuste" para aumentar os lucros e a participação proporcional na renda dos patrões. Guido foi inclusive demitido para que se implementasse isso, então ele sabe bem da contradição.

O diagnóstico sério da academia sobre o período do PT é que teve um primeiro e longo momento de aumento salarial e elevação da demanda via gastos públicos, provocando maior participação do trabalho no produto nacional e redução das desigualdades na renda do trabalho, MAS sem impactar na renda do capital, que seguiu aumentando. A metade mais pobre ganhou, os 10% mais ricos ganharam, e os 40% do meio foram comprimidos. O segundo momento, curto e que desembocou na decisão desastrosa de Dilma citada acima, foi de tentar manter os resultados distributivos sem usar o Estado, cortando os gastos públicos. O resultado foi queda na demanda e consequente queda nós investimentos. Os 10% de cima passaram a ganhar mais, os 40% seguintes seguram perdendo e os 50% de baixo desabaram.

Além de consertar o erro do cavalo de pau dado em direção à política econômica liberal, e retomar o caminho do primeiro momento, é preciso também corrigir o erro do primeiro momento: a ausência de uma política tributária progressista como forma de reduzir os lucros do capital. Vou repetir: para reduzir os ganhos do capital. Sim, a redução da desigualdade só se dará com ações pelo lado do desenvolvimento econômico, aumento de demanda e renda, mas também com controle da apreensão deste aumento da renda pelo capital. A reforma tributária, então, não é para financiar os planos de desenvolvimento, é para reduzir a desigualdade.

E todo esse debate passa ao largo no texto de Guido. Assim também passa no texto de Marconi. Joga a favor do economista de Ciro detalhar as ações industrializantes, joga a favor do ex-ministro de Lula dizer praticamente o mesmo numa chapa viável e sob forte marcação dos interesses de mercado.

A carta de Mantega está à esquerda do que foi o segundo mandato de Dilma. De certa forma aponta para o melhor período do governo Lula. Mas isso é totalmente insuficiente em 2022, depois da "herança maldita" iniciada em Levy e Barbosa, e levada a cabo com Meirelles e Guedes. No ritmo que a carta aponta chegaremos em 2026 almejando o patamar de conquistas de 2008 a 2010, e só. Podia ser pior? Sim, podia ser Nelson Barbosa escrevendo, propondo "um outro Teto de Gastos". Ou Haddad, pondo alguém do Insper do ghost writer. Mas é pouco.

Assim como é pouco o diferencial de Marconi e seu detalhamento. O Plano de Reconstrução e Transformação, do PT, é também repleto de políticas específicas do mesmo tipo que o pedetista sugere. E a academia está repleta de ótimos planos desses. A pasta de desenvolvimento e planejamento tem uma década de avenida aberta pela frente para recuperar projetos abandonados. O problema é saber se essa pasta terá liberdade total de implementar tudo necessário, ou ficará amarrada na linha de largada com uma política fiscal austericida.

 

José Luis Fevereiro

 

Nelson Marconi pelo PDT e Guido Mantega pelo PT escreveram artigos na Folha em nome dos seus candidatos. Em comum a capitulação simbólica ao fiscalismo e as genuflexões ao mito da "responsabilidade fiscal".

Até aí nada de novo. O curioso foi que parte dos Ciristas correram a apontar o problema no texto de Mantega ao mesmo tempo que o negavam em Marconi. E parte dos petistas fizeram o mesmo de sinal trocado, apontando o problema em Marconi e o negando em Mantega.

Felizmente não faltaram outros Ciristas e Petistas que reconheceram o problema nos seus representantes.

É isso que me dá esperança de que o debate vale a pena.

 

David Deccache

 

Isso diz muito sobre a dominância fiscalista na esquerda. Estamos ferrados.

 

Faustino Teixeira

 

Gerar Filhos num Tempo com horizontes fechados

Li com atenção o discurso do papa Francisco na sua primeira audiência geral de 2022. Ele aborda um tema extremamente delicado para os dias atuais: a questão de ter ou não filhos. A presença dos filhos é sempre motivo de alegria para as famílias, mas temos ciência das extremas dificuldades, tanto no âmbito financeiro como emocional, para experimentar essa realidade. Com as condições econômicas em curso, com o preço das escolas, a dificuldade dos casais em administrar com tranquilidade a situação que a presença de filhos envolve, o tema reveste uma disposição e séria responsabilidade.

Temos também a situação demográfica mundial, que nos anuncia um mundo com 10 bilhões de pessoas, sem nenhuma possibilidade de acomodar tanta gente num mundo com recursos precários, e uma situação global cheia de ameaças para a vida.

Tudo isso tem que ser colocado na tela para o discernimento de cada um.

Quando a antropóloga americana, Donna Waraway sublinha que é necessário ter parentes e não filhos, ela toca corajosamente numa questão nuclear. Sublinha que estamos diante de um horizonte muito complexo em âmbito mundial. Ela fala que temos que "seguir com o problema", ou seja, sobreviver na "barriga do monstro". Isto requer muita responsabilidade. O desafio que se coloca é o de "gerar parentescos raros", o que significa consolidar "colaborações e e combinações inesperadas".

O papa Francisco faz certa ironia com a situação atual em que pessoas preferem adotar animais do que procriar humanos. Vejo que essa questão dos animais é igualmente séria para ser motivo de ironia. Com todo o respeito, o papa Francisco deveria estar mais atento ao que significa hoje a "virada animal" e "virada vegetal".

Vou partilhar com vocês o discurso do papa, feito em sua última audiência, para que todos possam fazer um discernimento próprio:

"Não é suficiente pôr um filho no mundo para dizer que também somos pais ou mães. ´Não se nasce pai, torna-se tal... E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exerce a paternidade a seu respeito` (Carta ap. Patris corde). Penso, em particular, em todos aqueles que se abrem a acolher a vida através da adoção, que é uma atitude tão generosa e positiva. José mostra-nos que este tipo de vínculo não é secundário, não é uma alternativa. Este tipo de escolha está entre as formas mais elevadas de amor e de paternidade e maternidade. Quantas crianças no mundo estão à espera de alguém que cuide delas! E quantos cônjuges desejam ser pais e mães, mas não o conseguem por razões biológicas; ou, embora já tenham filhos, querem partilhar o afeto familiar com quantos não o têm. Não devemos ter medo de escolher o caminho da adoção, de assumir o “risco” do acolhimento. E hoje, também, com a orfandade, existe um determinado egoísmo. Há dias, falei sobre o inverno demográfico que há atualmente: as pessoas não querem ter filhos, ou apenas um e nada mais. E muitos casais não têm filhos porque não querem, ou têm só um porque não querem outros, mas têm dois cães, dois gatos… Pois é, cães e gatos ocupam o lugar dos filhos. Sim, faz rir, entendo, mas é a realidade. E esta negação da paternidade e da maternidade diminui-nos, cancela a nossa humanidade. E assim a civilização torna-se mais velha e sem humanidade, porque se perde a riqueza da paternidade e da maternidade."

 

 

João Mendonça Mendonça

 

É importante contextualizar a catequese na realidade europeia, sobretudo italiana, na qual a crise demográfica é muito maior que para nós no Brasil, apesar de que também nós estamos envelhecendo. Não vi ironia nas palavras do Papa ao se referir a casais que preferem criar gatos e cachorros no lugar de crianças, há tempos que observo isso em muitos ambientes. Cachorros e gatos têm até clínicas especializadas, hotéis, quando os donos viajam e nao podem levar, sem comentar que é sempre mais comum ver nos voos cais e gatos pequenos entre os passageiros...

 

Auditoria Cidadã da Dívida

 

Tragédia social: esse é um dos termos para se definir a realidade vivenciada pelos brasileiros na atualidade.

De acordo com o relatório da Riqueza Global, publicado em 2021, pelo banco Credit Suisse, a situação da desigualdade no Brasil é alarmante: apenas 1% da população mais rica do Brasil detém quase a metade de toda a riqueza nacional (49,6%).

A mesma pandemia que provocou o aumento significativo da pobreza e da fome no país também contribuiu para o crescimento recorde do número de super ricos, devido ao aprofundamento dos mecanismos do sistema da dívida, que não tem servido para investimentos sociais, mas para transferir a riqueza produzida pelos trabalhadores para o capital financeiro.

É preciso que o modelo econômico brasileiro, que reproduz e alimenta as desigualdades no país seja repensado, para que, de fato, a dignidade humana seja alcançada por todos os cidadãos.

Saiba mais sobre o tema no vídeo 9 da Campanha É Hora de Virar o Jogo, "Por que não mudamos de patamar?"

 

 

 

Mara Paraguassu

 

A certidão de Rondônia

Aos 38 anos de idade, Rondônia se consagra como amálgama de culturas de diferentes lugares do Brasil. Poucos sabem que o nome de nosso Estado é feliz concepção de Edgard Roquette-Pinto, médico, antropólogo, pesquisador, educador, homem de múltiplos talentos, pioneiro no uso da comunicação a serviço da educação. Criou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, posteriormente Rádio MEC.

A alma de cientista o levou a se engajar na expedição de Cândido Mariano da Silva Rondon, um pedido feito por ele logo que se conheceram, no Museu Nacional, onde Roquette-Pinto trabalhou por uma década. Aceito, tinha por tarefa registrar áudios e imagens da Missão Rondon.

Em 1912 estava ele em Vilhena, conviveu com os Nambiquara, escreveu o livro "Rondônia", de vasto conteúdo etnográfico que desmistifica o estigma que a elite de então tinha a respeito dos indígenas.

Ilustres brasileiros escreveram nossa história, muito antes de sermos uma nova estrela da federação.

A cada dia, em nosso tempo, fazemos parte dela, com orgulho e confiança. Viva Rondônia!

 

Faustino Teixeira

 

Uma lindeza esse burrinho de Giotto...

 

 

Fernando Altemeyer Junior

 

Pagela da Folhinha do Sagrado Coração ano 2022 dia 3 de janeiro verso.

 

 

Antonio Spadaro SJ

 

Un grande pittore, Van Gogh, scriveva che il bisogno di Dio lo spingeva a uscire di notte per dipingere le stelle. Sì, perché Dio ci ha fatti così: impastati di desiderio; orientati, come i magi, verso le stelle. Noi siamo ciò che desideriamo. #PapaFrancesco #Epifania2022

Um grande pintor, Van Gogh, escrevia que a necessidade de Deus o levava a sair à noite para pintar as estrelas. Sim, porque Deus nos fez assim: amassados de desejo; orientados, como os magos, para as estrelas. Nós somos o que desejamos.

 

 

Celso Augusto Schröder

Camarões do mundo todo, uni-vos!!!

 

Sean Purdy

 

Observe

 

Faustino Teixeira

 

Novo 'Grande Sertão' reflete a era Bolsonaro com milícias e tem Diadorim não binário

Diretor Guel Arraes reinventa Guimarães Rosa no cinema para retratar um Brasil que chama de perverso e degenerado 

Ana Luiza Albuquerque

RIO DE JANEIRO

Dos jagunços para os criminosos urbanos, do sertão para uma imensa periferia. Reinventado por Guel Arraes e Jorge Furtado, o clássico "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa, está sendo transformado para chegar às telas de cinema, com estreia prevista para novembro deste ano.

Numa visita ao set no mês passado, foi possível acompanhar a gravação de uma cena que se passa num baile funk, por exemplo. Ali reluziam roupas douradas e prateadas, paetês, glitter, correntes e bonés. Cada elemento se somava para formar um cenário com um quê de distópico, de futurista, de não real.

"Fomos criando elementos para 'desrealizar' um pouco. Como se fosse a terceira geração de um mesmo bando, quase uma tribo que já tivesse seus rituais, suas roupas. Fomos alegorizando. Mais na tradição do Glauber [Rocha, cineasta] do que do cinema documental", afirma Guel Arraes, diretor do filme.

A adaptação transpôs o sertão para uma gigantesca periferia urbana, cercada por um enorme muro. Enquanto no livro as batalhas são entre jagunços, no filme a guerra acontece entre bandidos e policiais.

As personagens principais são as mesmas, presentes na memória de gerações de brasileiros – Riobaldo, vivido por Caio Blat, Diadorim, papel de Luisa Arraes, Joca Ramiro, papel de Rodrigo Lombardi, Zé Bebelo, vivido por Luis Miranda, e Hermógenes, papel de Eduardo Sterblitch.

A adaptação também mantém temas que nortearam a obra de Guimarães Rosa –a guerra, a ética, a coragem, a violência. "Não é uma questão de cadeia, de bandido. É a guerra brasileira. Ela existe desde sempre, se reproduz, se repete. É a nossa tragédia", diz Arraes.

As gravações terminaram em dezembro, depois de sete semanas de filmagem, meses de ensaio e uma pandemia. A produção calcula que as precauções contra a transmissão do novo coronavírus tenham tomado de 40 a 50 minutos por dia. Para entrar no set, por exemplo, esta repórter teve de fazer um teste rápido de Covid.

"Os ensaios foram mais difíceis porque não podia tirar a máscara", conta a atriz Luisa Arraes, filha do diretor e encarregada de interpretar Diadorim na trama. "Como você vai ensaiar uma cena vendo só o olho da outra pessoa? Mas depois acostumamos."

Muitos diretores já quiseram adaptar "Grande Sertão" para as telas, como já escreveu o cineasta Fernando Meirelles. Segundo Guel Arraes, que dirigiu filmes como "O Auto da Compadecida" e "Lisbela e o Prisioneiro", a oportunidade surgiu por meio do diretor Heitor Dhalia, que havia comprado os direitos da obra.

Arraes conta que ele e Jorge Furtado já tinham vontade de falar sobre a violência urbana de um ponto de vista ainda pouco explorado, o dos bandidos. Foi daí que veio a ideia de transportar os jagunços para o cenário da guerra nas cidades.

Decidido o ângulo, eles encararam um novo desafio —transformar a poética particular de Guimarães Rosa em dramaturgia. Para isso, conseguiram na maior parte do tempo aproveitar o material original do autor sem grandes edições, mesmo no caso de cenas que não existiam no livro.

"Se a cena falava de morte, você ia no livro e encontrava frases incríveis sobre a morte. O livro nunca nos falhou", diz Arraes.

Ele também teve a preocupação de fazer com que a obra, muito densa, se apresentasse de um jeito mais popular, ou palatável para o espectador. Por isso, o filme segue a ordem cronológica dos fatos, o que não é o caso do livro. Também foi produzida uma série de quatro episódios para a TV Globo.

Filho do ex-governador pernambucano Miguel Arraes, exilado durante a ditadura militar, o diretor diz que o filme não fala diretamente de um ponto de vista político. Fala, sim, de um ponto de vista artístico sobre uma questão que a política trata muito mal – a violência urbana.

Ele afirma que tanto a direita, com o discurso do "bandido bom é bandido morto", quanto a esquerda, com soluções a muito longo prazo, tratam o tema de uma forma demagógica. Arraes diz que, do ponto de vista artístico, a maneira como Guimarães Rosa aborda a questão é muito mais grandiosa.

O diretor afirma que o Brasil é uma "civilização incrível", mas tem um lado violento. "Agora mesmo com Bolsonaro, isso ficou muito evidente, quando os monstros saíram do armário. Isso é o Brasil também, não vem de fora, vem muito de dentro. O livro deu a chance de tratar disso sem proselitismo político."

Interpretando Riobaldo, personagem principal, Caio Blat é mais enfático ao relacionar o filme ao momento político do país. "A gente está vivendo o aumento da violência urbana, da força das milícias. A gente tem a Presidência da República tomada pelo apoio direto de milicianos. ‘Grande Sertão’ é uma obra que se repete, como se fosse circular. É essa a história do Brasil", diz.

Blat conta que, no mesmo dia em que foi filmada uma cena em que policiais levavam cinco garotos para serem assassinados no alto da favela, ao menos nove pessoas foram mortas pela Polícia Militar no Complexo do Salgueiro. "Olhamos para trás, estava a polícia de verdade apontando o fuzil para a gente, e tinha acabado de acontecer uma chacina naquele dia."

Fazendo o papel de Riobaldo pela terceira vez, o ator diz que esse é o personagem mais fantástico que já viveu. Ele e Luisa Arraes, hoje sua mulher, encenaram a versão de "Grande Sertão" para o teatro assinada por Bia Lessa e também gravaram outro filme.

Luisa Arraes diz que leu a obra pela primeira vez aos 18 anos e que mergulhou fundo na história. "É o livro mais lindo do mundo. É uma daquelas coisas impossíveis de montar, um desafio que está sempre na cabeça de todo grande artista, mas que sempre dá um medo", afirma.

Ela considera o filme o maior desafio de sua vida e diz que, se pudesse, interpretaria esse livro para sempre. "Eu estou pensando que vai acabar amanhã, e o que que eu vou fazer depois disso?"

Na trama a atriz interpreta Diadorim, que na obra original é um jagunço que vive um amor com Riobaldo. Ao fim do livro, publicado em 1956, é revelado que a personagem era do sexo feminino.

Com a atualização das discussões sobre gênero, a abordagem será diferente no filme — Diadorim poderia ser considerada, por exemplo, uma pessoa não binária. A questão não será discutida diretamente, mas Guel Arraes diz que esse é o principal tema comportamental na adaptação.

Luisa Arraes diz que tentou criar Diadorim no meio do caminho. "Diadorim é muito misterioso, então pode ter a leitura que quiser. Ou estar disfarçado ou se identificar 100% com aquilo", afirma. A atriz conta que precisou malhar por um ano e meio para ganhar os músculos do personagem e que observou mudanças na forma como passou a ser tratada pelas pessoas. "Por mais que seja uma encenação, só o fato de estar mais forte, fazer um personagem masculino, o respeito é outro. Tudo muda."

O diretor diz que a maior emoção de gravar "Grande Sertão" talvez tenha sido trabalhar com a filha. "Tem uma cumplicidade há muito tempo. A gente pegou talvez o trabalho mais difícil da minha vida. Ter ela por perto era uma emoção, um estímulo, uma coisa."

Rodrigo Lombardi, agora no papel de Joca Ramiro, chegou a interpretar o autor Guimarães Rosa em "Passaporte para Liberdade", minissérie da Globo. No novo filme, ele diz que teve dois desafios. O primeiro foi encaixar a poesia do autor na força bruta exigida pelas cenas. O segundo foi tentar entender o universo de Guel Arraes.

"Costumo dizer que a gente está fazendo uma obra de 'Guelmarães'. A cara do Guel está muito no filme. Demorei um pouco para entender esse movimento, mas depois que entendi foi só curtição, um prazer", conta.

Lombardi diz que Guimarães Rosa era um inventor de palavras e que o livro deve ser lido sem titubear. "Ele bate em você e cria uma sensação. A leitura tem que ser corrida. O filme faz isso por você. O ritmo do Guel é o ritmo que a gente tem que ter na leitura do Guimarães. Tem que ser muito fluido", afirma.

Único ator negro entre os principais, Luis Miranda foi escalado para viver o coronel Bebelo, anteriormente imaginado para Lázaro Ramos. Guel Arraes diz que, com exceção de Riobaldo, o personagem é o mais rico e humanizada da trama, "uma das melhores construções do Guimarães". "Era preciso ter um herói negro."

Miranda concorda que Zé Bebelo é um grande herói e diz que o papel foi um presente. "Talvez a polícia seja a que mais oprime os negros. Trazer um Zé Bebelo negro, com ética de comportamento, de julgamento, me parece pertinente. É pertinente que o chefe da lei e o grande herói seja um negro", afirma.

Entre os temas levantados pelo filme, o ator lembra a ética, a diversidade, na figura de Diadorim, e um "apelo sociológico" ao falar sobre uma sociedade "em declive, degenerada, perversa". "Acho que se encontra bem com esse momento Bolsonaro. Uma sociedade cruel, que enquanto tem gente morrendo no hospital quer fazer festa, nossos artistas querendo vender seus abadás. A gente está falando disso."

 

André Vallias

 

Quando o cardápio inclui fezes

SÉRGIO RODRIGUES

Há 50 anos, o médico mineiro Pedro Nava estreou tardiamente –logo ia completar 70 – como memorialista, lançando o primeiro livro de uma série que se tornaria um ponto alto do gênero no país: "Baú de ossos" (Companhia das Letras).

Mais do que pela data redonda, a obra-prima de Nava me vem à lembrança por incluir um escatológico caso de família que, datado do Segundo Reinado, joga luzes sobre o mar de merda –"merda viva", diria o memorialista – em que Bolsonaro mergulhou o Brasil.

A história tem como protagonista uma megera da família paterna do autor, uma dona Irifila, casada com o comendador Iriclérico Narbal Pamplona. Sim, a graça quase inverossímil do caso começa pelos nomes.

O casal oferecia um contraste marcante. Enquanto Iriclérico era amigo de comes e bebes, jogos de salão e boa conversa, Irifila era o cão. "Era contra os namoros, contra o riso, contra as festas, contra as cantigas, contra as danças, contra o álcool, contra o fumo, contra o jogo", conta Nava.

Um dia, Irifila se encheu das rodinhas de carteado, guloseimas, charutos e prosa que Iriclérico tinha o hábito de promover em casa uma vez por semana. Advertiu o marido de que não queria mais saber daquilo, mas o comendador, com patriarcal distração, não lhe deu ouvidos. E chegou a hora da vingança.

Iriclérico recebia naquele dia ninguém menos que o visconde de Ouro Preto. O mais ilustre e poderoso de seus amigos era também padrinho de um de seus filhos. Irifila caprichou no serviço.

Após se esmerar na enumeração das gostosuras que a dona da casa mandou servir em bandejas de prata recém-polidas, Nava passa então ao prato principal:

"E no meio da maior bandeja, a mais alta compoteira com o doce do dia – aparecendo todo escuro e lustroso, através das facetas do cristal grosso, de um pardo saboroso como o da banana mole, da pasta de caju, do colchão de passas com ameixas-pretas, do cascão de goiaba com rapadura."

Iriclérico estava numa felicidade contagiante. Aí vem o golpe de mestre de Nava, quer dizer, de Irifila. "O comendador resplandecente destampou a compoteira: estava cheia, até as bordas, de merda viva! Nunca ninguém, jamais, ousara coisa igual."

Tomado de um choro convulsivo, "tremendo da cabeça aos pés, lívido da dor esquisita que lhe atravessava o peito, o estômago, e banhado dum suor de agonia", Iriclérico nunca se recuperou da cacetada. Até morrer, em 1896, não recebeu mais ninguém em casa. A vitória de Irifila foi completa.

O poder sinistro da armadilha que a megera montara para o marido tem raízes fundas, imemoriais –as mesmas que tornam tabuísmos, ou seja, palavrões, uma série de termos banais com os quais nos referimos a funções fisiológicas igualmente banais. Mas não em público!

Não era para aquela montanha de cagalhões estar ali, na mesa do comendador, numa elegante vasilha de cristal. Ao ser destampada com despreocupação, a piscina de barro instaurava violentamente uma dimensão de loucura, de pesadelo. Era evidente que alguém capaz de conceber tal coisa não recuaria diante de nada – nem do mais hediondo dos crimes.

E o Brasil dos últimos três anos com isso? "Dia sim, dia não", entre golden showers e "caguei para a CPI", entre internações espetaculosas por problemas intestinais e o hábito de falar merda, o presidente tornou sua retórica e seus atos um festival de escatologia. O fedor é nauseabundo. Que 2022 seja o ano de dar descarga.

Sérgio Rodrigues

Escritor e jornalista, autor de “O Drible” e “Viva a Língua Brasileira”.

FSP 5.01.2022

 

Geraldo Nazário

 

A ignorância cega!

 

 

Edward Neves Monteiro De Barros Guimarães

 

A TUA PRÁXIS PROFÉTICA LIBERTADORA

 

A tua práxis profética libertadora,

oh Mestre do Caminho,

interpela, questiona e desinstala

os teus discípulos e discípulas:

abrir-se a força da Ruah divina,

anunciar a Boa Nova aos pobres,

libertar os cativos e os oprimidos,

e dedicar-se a recuperar a vista dos cegos.

Enviai a luz e a força do Espírito Santo,

sobre nós, teus discípulos e discípulas,

oh Profeta do Reino de Deus,

para que nossas ações evangelizadoras,

deem, de fato, continuidade a tua missão.

E, assim, elas contribuam, significativamente,

para a construção de uma nova sociedade,

justa, solidária, inclusiva e fraternasororal,

sem famintos, empobrecidos e oprimidos,

sem excluídos da mesa da cidadania,

e da irmandade dos filhos e filhas de Deus.

 

Edward Guimarães

Belo Horizonte, 06 de janeiro de 2021.

Poema oração provocado pelo Evangelho (Lucas, 4, 14-22a).

 

Marcelo Barros

 

Somos todos reis, rainhas, magos e magas

 

A Epifania é a mais antiga celebração do Natal. Nela, contemplamos o Cristo, nascido em Belém e anunciado aos pastores que se manifesta Salvação para toda a humanidade. Por isso, nesta festa, lemos como evangelho Mateus 2, 1- 12. Conforme esse evangelho, Jesus se abriu aos magos. Eles eram pais de santo daquela época. A tradição popular os chamou de reis e os considerou sábios - intelectuais. Ao contrário, no tempo dos evangelhos, o termo "magos" era usado no sentido de "bruxos". Em geral, se chamavam magos os sacerdotes da antiga religião persa. Na tradição bíblica, eram vistos com maus olhos e tidos como gente não recomendável (nada de santos).

Hoje, lemos nas Bíblias: abrindo os seus cofres, ofereceram ouro, incenso e mirra. Como peregrinos, vindos de terras tão longínquas, viajavam com cofres? Alguns manuscritos antigos trazem um termo grego que, no lugar de tesouros, falam em sacos de viagem, bagagem de andarilhos, quase de mendigos.... Gente como hoje o povo da rua.

Conforme o evangelho de Mateus, os magos são os primeiros a adorar Jesus. O evangelho não diz quantos eram. A tradição cristã os coloca como três e até dá nome a cada um: Melquior, Gaspar e Baltazar. Pinta um deles como negro e uma tradição oriental estampava um deles como uma jovem mulher. Portanto, ela deveria ter outro nome. Tudo isso para simbolizar a universalidade desse encontro macro-ecumênico: Jesus menino e os buscadores e buscadoras do sagrado de todos os tempos e todas as culturas.

Com esse espírito e essa espiritualidade, vamos reler e saborear o evangelho de hoje. Comumente, os padres e pastores fazem uma leitura na linha da teologia inclusivista. Dizem: “Os magos vêm de longe para adorar a Jesus, portanto para ser cristãos”. Com essa visão etnocêntrica e até dogmática, afirmam que o Cristianismo é uma religião universal que se abre e acolhe a todos e todas, mas contanto que eles e elas venham a nós e se convertam à nossa cultura, isso é, à nossa forma de adorar a Deus.

Não podemos confundir adorar o Cristo com aderir ao Cristianismo que nem teria existido ainda como religião na época em que este evangelho foi escrito. E o próprio texto diz: que depois de reverenciar o menino como “rei” (adorar), os magos voltaram a seus países, isso é, à sua cultura e sua forma de viver a fé.

Uma leitura mais profunda deste conto poético que Mateus conta como parábola pode nos ajudar a fazer uma interpretação mais aberta e pluralista. A acolhida de Jesus é abertura ao outro. Belém e o presépio se tornam lugares que simbolizam um encontro de culturas e de religiões e não apenas o outro que entra na nossa. Conforme o evangelho, os magos seguem uma estrela. São astrólogos e o evangelho não critica isso. Conta que se prostraram diante do Menino como, na época, se prostravam diante de qualquer soberano oriental. Oferecem ouro, incenso e mirra, O oráculo de Isaías 60 que ouvimos na primeira leitura de hoje e o salmo 72 se referem a reis que vêm de longe trazendo seus tesouros como tributos ao rei Messias. No entanto, o evangelho diz que são presentes e não tributos. Ouro, incenso e mirra eram usados em cultos de religiões de mistério no Oriente.

Cada um de nós vive uma busca interior. Uns com mais intensidade e coragem. Outros se acomodam e deixam sua busca meio adormecida. Alguns nem percebem mais essa busca interior e ela é quem dá sentido à nossa vida. Nesses dias, em algumas regiões do Brasil, comunidades pobres fazem novenas e folias de Reis. Assim, nos lembram a todos que temos de retomar, permanentemente, nossa peregrinação....

Nossa peregrinação, simbolizada pelos magos, São João da Cruz chamou de "caminho na noite escura da fé". Infelizmente, muitas vezes, as Igrejas fazem de si mesmas não mais a casa de Belém onde as pessoas que vêm de longe podem encontrar o Menino e sim um centro religioso que atrai as pessoas para si. Nessa eclesiolatria, as pessoas se acomodam e desistem de caminhar.

Manter-se na estrada implica aceitar ser pequenino, desprotegido e quase sempre marginal... Nem todo mundo topa isso. Conforme os evangelhos, a Igreja não deveria nem ser a pousada e sim o grupo que caminha juntos. Por isso, é assembleia (Igreja) e não templo ou religião. O caminho é guiado pela estrela e não pela pousada.

A história dos magos é uma parábola, midrash da tradição cristã, escrito a partir dos textos judaicos. Conforme essa história, para aqueles bruxos do Oriente, não foi fácil reconhecer um novo chamado divino, através da luz da estrela. Eles não compreenderam que Deus os chamava para caminhar, não na direção de algum centro de peregrinação importante, mas de uma aldeiazinha perdida nas montanhas da Judéia chamada Belém. Eles estavam procurando um centro do poder religioso e político. Por isso, foram a Jerusalém e procuraram o rei Herodes. Esse contato dos magos com Herodes e com os sacerdotes só deu problema. Segundo o evangelho, eles acabaram involuntariamente provocando o massacre dos inocentes e a perseguição de Herodes ao menino Jesus. Os sacerdotes da religião correta (doutores da lei) sabiam muito bem a verdade - interpretaram corretamente a profecia de Miqueias na Bíblia - mas isso não os levou a Deus. Já os xamãs vindos do Oriente, que não tinham Bíblia, nem conheciam a verdadeira fé, foram adorar e reconheceram em uma criança pobre a presença divina.

O texto diz que a estrela que em Jerusalém tinha desaparecido do céu, reaparece quando eles deixam a cidade e seu templo e os conduz a Belém. Deus se encontra na casa da periferia, na gruta que não tem portas nem muros. Adorar é admirar-se, é reconhecer o divino no humano, em todo ser humano, mas especialmente no mais pequenino e pobre.

Os presentes dos magos são simbólicos dos presentes que devemos dar a todo ser humano, como sendo dados a Jesus. Ao oferecer a Jesus o ouro, os magos profetizam o reconhecimento da dignidade e do valor inestimável de todo ser humano, ali representado no menino de Belém. Toda criança merece que se ponham a seus pés toda a riqueza do mundo. O incenso significa o desejo de que a vida dessa criança desabroche e se eleve até Deus. Todo ser humano é chamado a ser divino, a se divinizar. A mirra é medicamento para aliviar os sofrimentos e significa que todo ser humano é frágil e merece cuidado. O menino de Belém é símbolo de que Deus introduz no mundo uma nova magia: o que o papa Francisco tem chamado de misericórdia. É esse caminho que devemos retomar e reacender como luz da estrela nas estradas da vida.