Onde há perdão e reconciliação, aí está Jesus

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04 Setembro 2020

Publicamos aqui o comentário de Enzo Bianchi, monge italiano fundador da Comunidade de Bose, sobre o Evangelho deste 23º Domingo do Tempo Comum, 6 de setembro de 2020 (Mateus 18,15-20). A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

No capítulo 18 do Evangelho segundo Mateus, Jesus dirige aos discípulos um discurso sobre algumas exigências fundamentais para aqueles que vivem juntos no seu Nome: hoje, escutamos as suas palavras sobre a difícil arte da correção fraterna.

Em todas as formas de vida comum, chega a hora em que alguém comete um pecado: pode se tratar de uma ofensa causada pessoalmente a outro, ou de um pecado manifesto aos olhos de todos. Como tratar quem se manchou com tal culpa?

Acima de tudo, é preciso se dar conta do pecado: não se deve fingir que nada aconteceu, em nome de uma vida tranquila ou, pior, de uma doentia cumplicidade com quem caiu. Cada um de nós, de fato, é guardião do outro (cf. Gn 4,9) e recebeu de Deus a responsabilidade de desviá-lo dos seus caminhos perversos: “Se não avisares o injusto para que mude de comportamento, o injusto morrerá por causa de sua própria culpa, mas é a ti que eu pedirei contas do sangue dele” (Ez 33,8).

É nesse sentido que Jesus diz: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, à sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão”, porque, para usar ainda as palavras do profeta, “ele se converterá da sua conduta e terá a vida” (Ez 33,11).

Ter a coragem de dirigir ao irmão uma palavra franca, face a face e no momento oportuno, livra-nos do risco de guardar rancor contra ele, de murmurar contra ele dirigindo-nos a um terceiro, de nos sentirmos melhor do que ele, observando a palha que está no seu olho sem nos darmos conta da trave que está no nosso (cf. Mt 7,3). E também pode nos abrir para a capacidade de acolher, de nossa parte, a correção, quando formos nós que caiamos no erro.

A correção, como o apóstolo também adverte, deve ser feita com doçura e paciência (cf. Gl 6,1; 1Ts 5,14; 2Tm 2,25), sem ferir o culpado com a desculpa de fazer o seu bem. Essa é a intenção que anima as subsequentes palavras de Jesus, que mostra um discernimento inspirado na misericórdia e na gradualidade: “Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que ‘toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas’ (Dt 19,15). Se ele não vos der ouvido, dize-o à ekklesia”, à Igreja local.

Assim, a correção fraterna pode tornar-se um evento eclesial, sob a insígnia daquele amor que é a única lei da comunidade cristã: o amor ciente do fato de que o pecado de um membro contamina todo o corpo, o amor de quem não quer que sequer uma ovelha se perca (cf. Mt 18,9-14)…

Por fim, pode acontecer que, apesar de tudo isso, o irmão persevere nos seus caminhos de morte. Então, diz Jesus, “seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público”, isto é, seja excluído da comunidade. Esse ato de “excomunhão”, realizado com tristeza, limita-se a atestar a vontade do irmão de se separar da comunhão...

Mas mesmo sobre essa decisão extrema reina a misericórdia que o Senhor Jesus ensinou e pediu a quem crê nele. Compreende-se isso a partir daquilo que ele acrescenta: “Tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu”.

Desse modo, ele entrega a todos os seus discípulos a responsabilidade confiada anteriormente apenas a Pedro (cf. Mt 16,19), a de excluir e readmitir na comunidade cristã. E isso com base em que medida? A do perdão superabundante, concedido ao irmão “até setenta vezes sete” (Mt 18,22), como Jesus logo esclarecerá depois ao próprio Pedro. Caso contrário, como poderíamos pedir ao Pai com coração sincero: “Perdoa as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6,12)?

Portanto, é significativo que, entre o ensinamento de Jesus sobre a correção fraterna e as suas palavras sobre o perdão, coloque-se a exortação a rezar concordando no seu Nome, penhor de um cumprimento certo por parte do Pai que está nos céus. Sim, quando há unanimidade na oração, quando nos esforçamos para ter em nós os sentimentos de Cristo (cf. Fl 2,5), então ele mesmo está presente e julga no meio da sua comunidade.

“Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles”, assegurou-nos Jesus: mas nós sabemos rezar por unanimidade antes de decidir em relação a “um irmão pelo qual Cristo morreu” (1Cor 8,11)?

 

 

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