Por: MpvM | 15 Fevereiro 2023
As leituras deste 7º Domingo do tempo comum giram em torno do chamado à vocação da santidade, um chamado que nos acompanha desde os primeiros escritos bíblicos até documentos oficiais da Igreja, como o que nos escreveu por último o Papa Francisco, sobre o chamado à Santidade.
A consciência de que o caminho da Santidade é o amor, o amor-prática, saída de si, atenção, entrega, doação da vida, vem nas palavras de Moisés, no Salmo, nas palavras de Paulo, mas fortemente e com firmeza, nas palavras de Jesus no Evangelho.
A reflexão é de Gizele Barbosa, fsp. Ela é religiosa da Congregação das Irmãs Paulinas, escritora, comunicadora, cronista e redatora digital. Atualmente é social media e produtora de conteúdos para web na Paulinas Cursos EaD da Paulinas Editora. Escreve artigos na Revista Família Cristã e por três anos foi articulista na revista infanto-juvenil Super Mais na sessão de curiosidades e datas comemorativas. Tem textos publicados na Revista Cidade Nova e sites de dioceses com comentários sobre Igreja, atualidade e cultura. Mantém um blog onde escreve sobre o cotidiano. Como projeto em andamento, é autora do livro infanto-juvenil “A menina que cuidava dos pobres” sobre a Irmã Dulce dos pobres que será publicado em 2020 por Paulinas Editora. Graduanda em Teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza/UNINTER (2016/2020).
Referências bíblicas
1ª Leitura - Lv 19,1-2.17-18
Salmo - Sl 102,1-2.3-4.8.10.12-13 (R.1a.8a)
2ª Leitura - 1Cor 3,16-23
Evangelho - Mt 5,38-48
Como chave para compreender as palavras santidade, amor, perfeição, aplicamos a visão de amor como a bondade vivida cotidianamente, principalmente nos relacionamentos. Observando cada uma das leituras vamos perceber a importância da santidade na vida cristã de ontem e de hoje.
A perfeição de Deus e a perfeição humana – 1ª Leitura - Lv 19,1-2.17-18
Santo é aquele que é separado, diferente, consiste no fato de não ser confundido no meio de outras coisas ou realidades. Esse é o principal atributo de Deus, Santo.
No decorrer da sua história, o povo de Israel foi se organizando em relação às leis, normas e comportamentos que deveriam ajudar na vivência e no não rompimento da sua relação com Deus. Uma lei que se abre e se encerra com prescrições culturais, mas que ao mesmo tempo dá condições para a aproximação e o relacionamento com Deus.
Assim como o Deus de Israel era diferente e não se confundia diante dos outros deuses, assim deveria ser o Povo de Israel ao ser diferente e não se deixar guiar pela conduta de outros povos.
Não odiar, não praticar o mal, crescer pessoal e comunitariamente, sem vingança ou rancor, faz o povo participar da santidade de Deus em relação a outros povos. Daí a importância de manter relações saudáveis em uma comunidade fraterna. Significa que a Santidade de Deus é expressa na comunidade e nos textos bíblicos como um reflexo daquilo Deus é: fonte de santidade.
Imagine a bondade como uma luz que ilumina a convivência, ou seja, a perfeição de que fala o texto de Levítico... Significa que essa luz é também uma ação do próprio Deus, que é perfeito, na vida da pessoa e do povo que o acolhe.
Como conceber, em meio a tanta desumanidade, presente hoje na sociedade, se somos capazes de chegar a sermos perfeitos como Deus é? De fato, nunca conseguiremos, mas é essa a beleza da Escritura, o próprio Deus nos abre essa possibilidade e nos coloca no caminho da perfeição, que é o amor. E como bem sabemos, não é possível amar a Deus se não amamos os irmãos.
Somos templos do Espírito – 2ª Leitura - 1 Cor 3,16-23
Não deixar que as coisas do mundo sejam aquilo que rege sua vida. É isso que para Paulo é o mais importante. Quem tem a Cristo como fonte de vida não precisa de outras coisas senão a própria vida em Cristo. Cristo como fundamento da nossa fé é o bastante para conduzir a vida sendo para Deus um lugar onde Ele pode habitar.
Para Paulo, o templo santo onde Deus habita somos nós. Não há como fugir dessa máxima, nem sair da dimensão relacional e incisiva do amor na comunidade. Ser templo de Deus exige coerência de vida e amor, sem ódio. O mal jamais deve dominar o lugar onde Deus habita, pelo contrário, o que Paulo evoca é justamente o combate à permanência de realidades onde prevalece o orgulho, o egoísmo, a não capacidade de viver juntos em comunidade e tudo aquilo que impede Deus de fazer morada na vida da comunidade.
Ser Cristão, batizado, membro de uma comunidade, significa dizer não ao ódio e sim ao Amor. Significa deixar que o Espírito Santo habite e assuma seu papel de conduzir o Cristão a uma vida de autêntico testemunho.
O Senhor é bondoso e compassivo – Sl 102,1-2.3-4.8.10.12-13
Deus revela a sua bondade, espera e dá oportunidade para que com bondade nós assim o respondamos, sendo bons e justos, com a compassividade que vem d'Ele mesmo.
O Salmo da liturgia deste domingo é um verdadeiro hino de agradecimento de alguém que experimentou a bondade de Deus em sua vida de forma extraordinária e assim reconhece. O verbo “bendizer” é como se fosse um apoio de toda a gratidão.
O verbo transita da segunda para a terceira pessoa indicando a ação que passa do individual para o coletivo. É um convite a toda humanidade, que reconheça as atitudes paternais de um Deus que é próximo.
É o povo escolhido que experimenta em meio ao sofrimento a companhia daquele que o acompanha. O salmo passa a admirar a bondade do Senhor, mas reconhece que esse é um gesto que deve ser repetido por todos, por toda da humanidade.
Amar os inimigos e orar pelos que nos perseguem - Evangelho - Mt 5,38-48
Desmontar as armadilhas do ódio. Armar a tenda do amor no meio da humanidade, com ações concretas e que espelham aquilo que desde a primeira leitura Deus vem comunicando: Amar para ser santo.
Jesus convida a sair da mediocridade e avançar na possibilidade de nos tornarmos cada vez mais humanizadores.
Soberba, autocomparação, injustiça, infidelidade, julgamentos, não devem fazer parte do caminho de perfeição proposto por Deus e possível para o ser humano. A obediência ao mandato de Deus é o que vai certificar que a pessoa está disposta a ser santo por iniciativa própria, como resposta, e não porque confia em suas próprias capacidades.
Ao enfatizar a importância da humildade e da disponibilidade para a reconciliação, Jesus inaugura uma nova forma de relacionamento com o próximo, com o inimigo e com aquele que persegue. Não “bater de frente”, mas frente a frente desconcertar o que não é bom com aquilo que é fruto da bondade de Deus. E, ao mesmo tempo, é o Espírito que dá todo esse movimento e gera essas ações.
A bondade do Pai, expressa nas palavras e atos do filho, faz gerar, por meio do Espírito, pessoas com atitudes novas e capazes de amar apesar da consciência mesquinha do “olho por olho, dente por dente” (Mt 5,38; Ex 21,24), uma lei que, na verdade, é anterior à existência do povo de Israel.
É basicamente uma retomada das atitudes que deve haver na vida cotidiana do povo de Israel, e mais ainda, daqueles que disseram sim ao seguimento de Jesus. Ele condena posturas que não estão alinhadas com o amor e coloca esse amor concreto como regra na comunidade. Aceitar ou não essa proposta de Jesus é uma escolha da própria pessoa, mas Jesus deixa claro que esse é um critério para a filiação divina.
Relacionar-se bem, amar e não odiar seus irmãos e nem aqueles que nos odeiam significa refletir na sua vida mesma aquilo que Deus é e quer de nós.
Para refletir:
Não se pode amar a Deus se não se ama o próximo. O perdão é uma condição pessoal e comunitária, cotidiana, exigente, mas fundamental para o seguimento de Jesus e a filiação divida. É assim, através do amor que Deus se comunica com o seu povo. E nós, o que estamos comunicando com a nossa vida Cristã?