Hans Jonas, entre virtude e boa vida

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10 Fevereiro 2018

De acordo com o pensador alemão, o homem se realiza em um sadio pensamento filosófico, evitando o gnosticismo e as distorções científicas. Para não se tornar “formiga tecnológica”.

O comentário é de Simone Paliaga, publicada no jornal Avvenire, 09-02-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“Que a imagem do homem não vacile, se ofusque e desapareça, que os homens não se reduzam a formigas tecnológicas ou hedonistas sem alma ou marionetes atordoadas pelo nosso furioso poder.” A que recorrer para evitar essa deriva? Ao uso adequado da filosofia que leva à vida boa e ao exercício da virtude?

São dilemas que têm o sabor da atualidade, embora levantados por Hans Jonas em 1955. Por outro lado, poderia ser diferente se “as questões filosóficas – apontava o pensador seis anos antes – se repropõem a cada nova época, tanto desde o início, quanto à luz de todo o seu percurso histórico anterior?”.

As citações provêm das anotações do filósofo pertencentes à sua temporada canadense, de 1949 a 1955. Longamente conservadas no Hans Jonas Nachlass da Universidade de Konstanz, elas foram novamente buscadas e reunidas em estreia mundial por Fabio Fossa no livro Sulle cause e gli usi della filosofia e altri scritti inediti [Sobre as causas e os usos da filosofia e outros escritos inéditos] (Ed. Ets, 120 páginas).

Hans Jonas não é um dos autores mais conhecidos do grande público, mas seu currículo brilha. Depois dos estudos com Rudolf Bultmann e Martin Heidegger na Alemanha dos anos 1930, ele tomou o caminho do exílio, longe da Europa. Sua vida, porém, não se reduziu a estudo e contemplação.

Ao contrário, o agir constituiu um dado de relevo dele. Prova disso, durante a Segunda Guerra Mundial, foi a decisão de se alistar na Jewish Brigade, enquadrada no Exército britânico e operante no solo italiano.

As relações com a península marcam a vida de Jonas. Seria precisamente no retorno da Itália, em 1993, depois de ter recebido o Prêmio Nonino dedicado aos mestres do nosso tempo, que o filósofo alemão naturalizado estadunidense faleceria em Nova York, aos 90 anos de idade.

O nome de Jonas começou a sair dos cenáculos doutos assim que ele publicou “O princípio responsabilidade”, onde traça uma ética à altura da civilização tecnológica. Estamos, com Jonas, a anos-luz das choradeiras apocalípticas.

A Guerra Fria enfurecia (é o ano de 1979), e muitos continuavam gritando o perigo vermelho, pronto para desembarcar no Afeganistão. Poucos, no entanto, cuidavam dos potenciais desenvolvimentos destrutivos da civilização de mais alta taxa tecnológica que já existiu.

No entanto, a reflexão sobre o “Prometeu desenfreado” já despontava há muito tempo entre as notas de Jonas. Testemunha disso são os escritos da estada canadense que absolutamente não são um parêntese no caminho do pensamento de Jonas.

Ainda com o breve “Introdução à filosofia” e com “Virtude e sabedoria em Sócrates”, preparados no inverno de 1949 para os cursos do Dawson College da McGill University, veio à tona a constante atenção ao homem e à vida boa, remédio para não se tornar “formigas tecnológicas”.

“O homem é o resultado de suas ações passadas”, escreveu ele em 1949 em “Introdução à filosofia”. “Refiro-me ao passado cultural da estirpe, conservado na memória histórica; e somente enquanto esse passado for realmente lembrado, o homem está realmente consciente da sua existência presente e, consequentemente, do autêntico significado atual de seus problemas existenciais.”

É essa dimensão histórica que lhe permite se situar além do dualismo entre intelecto e vida, típico da filosofia grega. Mas sua historicidade não garante nada além de um ponto de partida. É necessário para o homem perseguir a vida boa e praticar a virtude, tormento do esforço teórico de Jonas. Agir eticamente no mundo histórico, buscando a virtude, permite evitar as espirais do gnosticismo ou as distorções do sonho cientificista que “promove a máxima realização de todos os fins desejáveis através da simples disponibilização dos meios”.

É preciso reparar o rasgão entre intelecto e vida. “A abordagem dualista à constituição substancial do homem – ele já escrevia em 1950 – dá conta do fato de que tanto a compreensão quanto a realização do fim do homem não dependem de um processo de desenvolvimento espontâneo, mas sim do exercício da virtude ética.” Virtude que não pode permanecer fechada na autossuficiência do intelecto e que, no Jonas maduro, assume as características da responsabilidade para com as gerações vindouras.

Responsabilidade que custaria a abrir caminho sem o “esforço da filosofia, que sempre deve recomeçar do início, fundada como é sobre a razão; e a razão não é o frio e impessoal intelecto, mas é permeada pela paixão do amor ou pela honestidade”.

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