O empobrecimento da teologia. Artigo do teólogo José María Castillo

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16 Mai 2017

“O controle de Roma sobre a teologia foi muito forte, desde o final do pontificado de Paulo VI até a renúncia ao papado por Bento XVI. O resultado foi tremendo: na Igreja, nos seminários, nos centros de estudos teológicos, há medo, muito medo. E bem sabemos que o medo bloqueia o pensamento e paralisa a criatividade”, escreve o teólogo espanhol José María Castillo, em artigo publicado por Teología Sin Censura, 13-05-2017. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

Pela lei da vida, a grande geração de teólogos, que tornaram possível a renovação teológica realizada pelo Vaticano II, está a ponto de se extinguir completamente. E nas décadas seguintes, infelizmente, não surgiu uma geração nova que pôde continuar o trabalho que os grandes teólogos do século XX iniciaram.

Os estudos bíblicos, alguns trabalhos históricos e algo também no que se refere à espiritualidade são âmbitos do quefazer teológico que se mantiveram dignamente. Mas, inclusive movimentos importantes, como ocorreu com a Teologia da Libertação, dão a impressão que estão vindo abaixo. Tomara que me equivoque.

O que aconteceu na Igreja? O que estamos passando? A primeira coisa que deveríamos levar em conta é que o que estamos vivendo nesta ordem de coisas é muito grave. Os demais âmbitos do saber não param de crescer: as ciências, os estudos históricos e sociais, as mais diversas tecnologias sobretudo, surpreendem-nos todos os dias com novas descobertas. Ao passo que a teologia (falo, concretamente, da católica) segue firme, inacessível ao desalento, a cada dia interessando a menos gente, incapaz de dar resposta às perguntas que são feitas por tantas pessoas e, sobretudo, empenhada em manter, como intocáveis, supostas “verdades” que não sei como podem continuar sendo defendidas a estas alturas.

Para apresentar alguns exemplos: Como podemos seguir falando de Deus, com a segurança com que dizemos o que pensa e o que quer, sabendo que Deus é o Transcendente, que – portanto – não está ao nosso alcance? Como é possível falar de Deus sem saber exatamente o que dizemos? Como se pode assegurar que “por um homem o pecado entrou no mundo”? É que iremos apresentar como verdades centrais de nossa fé o que, na realidade, são mitos que possuem mais de 4.000 anos de antiguidade? Com quais argumentos é possível afirmar que o pecado de Adão e a redenção desse pecado são verdades centrais de nossa fé? Como é possível defender que a morte de Cristo foi um “sacrifício ritual” que Deus precisou para perdoar nossas maldades e nos salvar para o céu? Como é possível dizer às pessoas que o sofrimento, a desgraça, a dor e a morte são “bênçãos” que Deus nos envia? Por que continuamos mantendo rituais litúrgicos que têm mais de 1.500 anos de antiguidade e que ninguém mais compreende, nem sabe por que continuam sendo impostos às pessoas? De verdade, acreditamos no que nos dizem em alguns sermões sobre a morte, o purgatório e o inferno?

Enfim, a lista de perguntas estranhas, incríveis e contraditórias seria interminável. E, enquanto isso, as igrejas vazias ou com algumas pessoas idosas, que comparecem à missa por inércia ou por costume. Ao mesmo tempo em que nossos bispos elevam o grito ao céu, por assuntos de sexo, calam-se (ou fazem afirmações tão genéricas que equivalem a silêncios cúmplices) diante da quantidade de abusos contra menores cometidos por clérigos, abusos de poder daqueles que gerenciam esse poder para abusar de uns, roubar outros e humilhar aos que possuem a seu alcance.

Insisto em que, na minha modesta maneira de ver, o problema está na pobre, pobríssima teologia que temos. Uma teologia que não leva a sério o mais importante da teologia cristã, que é a “encarnação” de Deus em Jesus. O chamado de Jesus para “segui-lo”. A exemplaridade da vida e do projeto de vida de Jesus. E a grande pergunta que nós, crentes, teríamos que enfrentar: Como tornamos presente o Evangelho de Jesus, neste tempo e nesta sociedade que nos coube viver?

Termino insistindo em que o controle de Roma sobre a teologia foi muito forte, desde o final do pontificado de Paulo VI até a renúncia ao papado por Bento XVI. O resultado foi tremendo: na Igreja, nos seminários, nos centros de estudos teológicos, há medo, muito medo. E bem sabemos que o medo bloqueia o pensamento e paralisa a criatividade.

A organização da Igreja, nesta ordem de coisas, não pode continuar como esteve por tantos anos. O Papa Francisco quer uma “Igreja em saída”, aberta, tolerante, criativa. Mas, seguiremos adiante com este projeto? Infelizmente, na Igreja há muitos homens, com cetros, que não estão dispostos a deixar o poder, da forma como eles o exercem. Se é assim, adiante! Logo teremos liquidado o pouco que nos resta.

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