As mulheres e a Reforma. Entrevista com Lidia Maggi

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25 Outubro 2016

Encontramos a pastora batista Lidia Maggi, teóloga conhecida também pelo seu compromisso em campo ecumênico, que exerce o seu ministério em Varese, na Itália. O foco da conversa é o papel da mulher na vida social e da Igreja.

A reportagem é de Domenico Segna, publicada no sítio da revista Il Regno, 23-10-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Poderíamos definir Catarina de Bora, a monja cisterciense que se converteu junto com outras oito companheiras ao protestantismo e que, depois, se tornou esposa de Martinho Lutero, como a primeira sufragista da história moderna? Em outras palavras, o que significou o advento da Reforma na vida cotidiana das mulheres?

A Reforma, dentro da Igreja, redescobre o primado da palavra de Deus, chegando a colocar no centro da fé a relação com a Escritura. E ela faz isso em um contexto em que a educação era privilégio de poucos, acima de tudo homens e ricos. Exortar, encorajar e promover a alfabetização das pessoas, a fim de permitir que cada crente leia e estude a Bíblia, foi uma verdadeira revolução cultural, da qual as mulheres também se beneficiaram. Encorajadas a aprender a escrever, ler, memorizar parágrafos inteiros da Bíblia, as mulheres, mesmo as mais simples, são arrancadas da ignorância.

A memória da necessidade de educar homens e mulheres nas Igrejas, para lhes permitir investigar pessoalmente as Escrituras, está conservada no modo pelo qual ainda hoje são chamados os encontros de formação bíblica para crianças, adolescentes e adultos: "Escola Dominical", expressão que pode criar algum desconforto para meninos e meninas que têm medo de ir para a escola também aos domingos... Expressão mantida, porém, até para não esquecer a contribuição das Igrejas reformadas na alfabetização de todos, sem discriminação de gênero.

"A mulher deve aprender em silêncio, em plena submissão" (1Timóteo 2, 11): muitas vezes, faz-se referência a essa passagem para defender uma suposta misoginia da Bíblia. Nela, no entanto, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, o papel das mulheres é muito mais complexo. Que leitura é feita pelo mundo evangélico da relação entre a Bíblia e as mulheres? A Bíblia das mulheres é apenas um título da editora Claudiana ou algo mais? Quem são as mulheres de Deus?

Há uma singular semelhança entre aquilo que aconteceu com a Escritura e a história das mulheres dentro das Igrejas. Uma condição análoga a une, para o bem ou para o mal. Assim como se passou de uma Igreja primitiva, em que encontravam expressão uma pluralidade de ministérios e de dons que envolviam homens e mulheres, a uma organização eclesial em que os ministérios foram centralizados e as mulheres cada vez mais marginalizadas, assim também a Escritura viveu a mesma parábola. De Palavra entregue a uma comunidade totalmente profética, ela se tornou um livro sequestrado, Palavra em exílio.

Há apenas poucas décadas, antes do Concílio Vaticano II, para muitos católicos, a Bíblia era considerada o livro dos protestantes, que não devia ser lida sem permissão e mediação magisterial. Portanto, mulheres e Escritura, unidas em uma história análoga de redução ao silêncio, passaram da liberdade evangélica à suspeita eclesiástica. Tal problema também diz respeito às Igrejas de tradição reformada que, embora tendo colocado no centro da fé a Palavra atestada na Bíblia, nem sempre a honraram no modo de lê-la e de interpretá-la.

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