Padre Llanos. “Um caminho próprio, independente, irrepetível”

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Por: Jonas | 25 Mai 2013

“Como é possível passar de uma saudação fascista à romana para o punho ao alto, numa concentração comunista?” O ministro da Justiça, Alberto Ruiz Gallardón, fez esta pergunta diante de uma centena de pessoas que compareceu na apresentação de “Azul y Rojo”, a biografia do padre Llanos, escrita por Pedro Miguel Lamet (foto) e que aconteceu na Universidade Pontifícia Comillas.

A reportagem é de Jesús Bastante, publicada no sítio Religión Digital, 22-05-2013. A tradução é do Cepat.

 
Fonte: http://goo.gl/9WzmI  

“Ele compreendeu que a vitória de um bando na Guerra Civil era, na realidade, uma flecha envenenada”, afirmou o ministro, como resposta. “Isso não o servia para poder construir uma Espanha nova, pela qual ele lutou quando estava do lado azul, e do lado vermelho, como muitos fizeram, entre eles, meu pai”. Os “filhos dos vencedores”, que desde meados dos anos 1950 começaram uma “atitude de rebeldia”, sem a qual, talvez, não entenderíamos a Transição.

O ministro falou da linha divisória entre as duas cores do padre Llanos, no dia 24 de setembro de 1955. “Meu pai levou padre Llanos ao Pozo del Tío Raimundo. Nesse dia, reza-se um Te Deum e, na manhã seguinte, o padre Llanos já está irremissivelmente do outro lado. Do outro lado de um mundo de desigualdades, mas, também, de si mesmo”.

“Ele procurou um caminho próprio, que o levou a construir uma personalidade singular, independente, irrepetível, e que é capaz de suscitar, após tantos anos, o entusiasmo, o interesse de tantas pessoas”, apontou Gallardón, que destacou que o livro apresenta “muitas perguntas” para desvelar “a personalidade enigmática do padre Llanos”.

José María de Llanos se lançou ao lado contrário. Faz uma mudança radical, que também é produzida numa mesma geração”, afirmou Gallardón, e que possibilitou que, em 1975, fosse apresentada a possibilidade de uma solução democrática. “Sua conversão foi admirável, porque quis ser um entre meus irmãos dos pobres”. Llanos, em sua opinião, “no Pozo, identificou-se com as pessoas” como parte desse processo de convergência entre o pessoal e o social.

Sobre o livro, “não se arrependerão de lê-lo”. Gallardón destacou que nos mostra “uma época apaixonante no religioso, no político”, e ressaltou o fato de “uma personalidade como a do padre Llanos ter militado onde militou, desempenhando um grande papel público”. Hoje, Llanos “estaria muito esperançoso se tivesse visto, na cadeira de Pedro, um homem simples, amante dos pobres, como é o papa Francisco. Porque o padre Llanos deixou a todos um sentimento de esperança”.

Foi um ato muito familiar, com muitos amigos e antigos colaboradores de José María de Llanos. Com risadas, recordações e esperanças. A Universidade Pontifícia Comillas acolheu a apresentação de “Azul y Rojo. José María de Llanos”, a biografia do famoso jesuíta, escrita por outro jesuíta, Pedro Miguel Lamet, e publicada por La Esfera.

Reitor: Um livro apaixonante

O ato foi aberto por Julio L. Martínez, S.J, reitor da Universidade Pontifícia Comillas, que afirmou: “apaixonei-me em ler este livro”; e que agradeceu Lamet por tê-lo escrito e apresentado neste centro. “Para a Universidade é um orgulho, um ato assim”, de um jesuíta, como em relação à Díez-Alegría – sobre quem Lamet também escreveu a biografia -, “sem papéis”, e “sem cores”, embora fosse oscilando entre o azul – foi confessor de Franco – e o vermelho – acabou atrelado com as Comissões Operárias e confessando a La Pasionaria -.

Ymelda Navajo, diretora de La Esfera, ressaltou que Pedro Miguel Lamet “é um autor muito querido, um excelente ensaísta e jornalista” que soube refletir todas as facetas de Llanos, “um personagem poliédrico”. Em “Azul y Rojo”, o autor “desfaz tópicos e nos permite conhecer a autêntica vida do sacerdote, dando-nos a conhecer o franquismo e a transição”.

“É um livro apaixonante, a vida de um lutador”, acrescentou a diretora, que ressaltou que “o padre Llanos, antes de tudo, foi um poeta”.

Paca Sauquillo: “A vida de Llanos é a história da Espanha”

Por sua vez, Paca Sauquillo, do Movimento pela Paz, o Desarme e a Liberdade, recordou as pessoas que vinham do Pozo, de Valderrama, dos amigos e colaboradores de Llanos. “Poderiam falar melhor do que eu a respeito da figura do padre Llanos”, brincou. Sauquillo recordou os primeiros anos de Llanos em Palomeras Altas e El Pozo, e insistiu no fato de que sua pessoa “não nos deixa impassível. É um personagem frágil, mas com um grande caráter de líder, corajoso e criativo”.

Sauquillo rememorou a criação das Comissões Operárias na Igreja do padre Llanos, no Pozo, de sua luta com os vizinhos – “nem os vizinhos se convertiam às suas ideias, nem ele tentava isto, porque ali era preciso ser tolerante e viver, e ajudá-los a viver” – e dos primeiros atos públicos do Partido Comunista. “Foi ali que ele apareceu na concentração [comunista], onde levantou o punho. A partir desse momento, entrega-se ao mais revolucionário”, apontou Sauquillo.

“Tornou-se muito amigo de Carrillo, de La Pasionaria e de Carmen Díaz de Rivera, e começa a ter algumas ideias de entrega aos demais, por meio da política”. A vida de Llanos “é a história da Espanha, dos que passaram do lado azul para a luta. Sua figura é uma das grandes na história recente da Espanha”, concluiu.

Lamet: “Um homem paradoxal, complexo”

Finalmente, Pedro Miguel Lamet iniciou sua intervenção agradecendo a presença dos assistentes e com suas palavras “tão cordiais em relação à figura de Llanos”. Após dois anos de trabalho, “o livro está aí, tem vida própria”. Por que este livro? Por seu caráter, e por seu gênio, e pelas “içadas de bandeira”, que realizava na paróquia, com seus hinos. “Em algum momento, o Governo de Franco chegou a lhe pedir algo, quando vinha algum mandatário, essa era a ONU do padre Llanos”. É que o jesuíta “foi um cidadão do mundo”.

“Era um homem difícil, insuportável, mas genial. Díaz Alegría dizia que Llanos era a vesícula biliar do Corpo Místico, a fase azul e rosa de Picasso”, brincou Lamet, que destacou sua personalidade e força como “tremendas”.

“A parte azul é mais desconhecida do que a vermelha”, destacou o autor, que ressaltou que “foi um homem paradoxal, complexo”. “Llanos era mais do que um punho, uma vida”, apontou, destacando que naquela época, nem os cinzas, nem os bispos, nem o provincial da Companhia, intrometiam-se com ele. “Franco tinha uma lista dos intocáveis, e entre eles estava Llanos”, acrescentou o jornalista, que concluiu relembrando uma cena do funeral. “O padre Elías Royón rezava o Rosário, e os comunistas cantavam A Internacional”.

“O mais importante de Llanos, mais do que seu compromisso político, era seu amor pelo Evangelho”, concluiu Lamet, que apontou que numa sociedade como a de hoje, “onde não abundam profetas, figuras como a de Llanos são, acima das crenças e ideologias, uma admoestação para as nossas consciências”.

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