"Al Qaeda é um rótulo e uma rede, uma teia flexível de franquias", explica analista francês

Mais Lidos

  • O economista Branko Milanovic é um dos críticos mais incisivos da desigualdade global. Ele conversou com Jacobin sobre como o declínio da globalização neoliberal está exacerbando suas tendências mais destrutivas

    “Quando o neoliberalismo entra em colapso, destrói mais ainda”. Entrevista com Branko Milanovic

    LER MAIS
  • Abin aponta Terceiro Comando Puro, facção com símbolos evangélicos, como terceira força do crime no país

    LER MAIS
  • Estereótipos como conservador ou progressista “ocultam a heterogeneidade das trajetórias, marcadas por classe, raça, gênero, religião e território” das juventudes, afirma a psicóloga

    Jovens ativistas das direitas radicais apostam no antagonismo e se compreendem como contracultura. Entrevista especial com Beatriz Besen

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

02 Mai 2011

O governo do Paquistão não só só sabia onde Osama bin Laden se escondeu por dez anos como também o protegia, segundo o francês Olivier Roy, um dos maiores especialistas em terrorismo.

Diretor do centro de estudos CERI (Paris), ele disse que a morte de Bin Laden só reforça o declínio da Al Qaeda.

A entrevista é de Samy Adghirni e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 03-05-2011.

Eis a entrevista.

Qual o impacto da morte de Bin Laden sobre a Al Qaeda?

É a materialização física da marginalização da Al Qaeda, que já estava em curso, como havia ficado claro nos protestos por democracia no mundo árabe.

Embora nunca tenha existido um fluxo em massa para reforçar as fileiras da Al Qaeda, houve um certo fascínio pela organização. Muitos jovens aderiram à Al Qaeda atraídos por esse modelo de terrorismo trágico e heroico. Esse fascínio desapareceu. Há duas razões para isso. A primeira: os atentados ficaram repetitivos. A segunda: o contexto mudou com a chegada de novas exigências políticas.

A cultura política árabe que prevaleceu desde os anos 50, com o fascínio por líderes carismáticos e a glorificação das causas supranacionais, mudou bastante. Hoje, nós estamos diante de perspectivas mais nacionais e democráticas.

Isso supõe a diminuição da ameaça terrorista?

Faço paralelo com a extrema-esquerda dos anos 70. Sempre haverá um rastro. Dez pessoas e um pouco de dinheiro bastam para fazer um atentado. Mas a dinâmica política desapareceu. Por isso, haverá menos atentados no médio prazo.

A Al Qaeda hoje é um rótulo ou um grupo estruturado?

É um rótulo e uma rede. Não é uma organização hierárquica nem piramidal, é uma teia flexível de franquias que geralmente têm contato com a central. Sabemos, por exemplo, que a maioria dos chefes de atentados esteve no Paquistão.

Ayman al Zawahiri sucederá a Bin Laden?

A princípio, sim. Mas não se pode descartar a possibilidade de que, em algum momento, alguém se manifeste dizendo: "Agora eu sou o chefe". É um sistema de franquia, então qualquer um pode se proclamar líder.

Como avalia o fato de que Bin Laden foi morto nos arredores da capital paquistanesa, quando muita gente pensava que ele se escondia nas montanhas da fronteira Paquistão-Afeganistão?

Isso prova que os paquistaneses sempre souberam onde ele estava. Não fizeram nada porque precisavam da sobrevivência de Bin Laden para pressionar os americanos. Era a última cartada do Paquistão. Por isso resolveram entregá-lo de bandeja aos americanos.