28° Domingo do tempo comum – Ano C – Subsídio exegético

Por: MpvM | 07 Outubro 2022


Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF

 

Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló

 

Leituras do dia

 

Primeira Leitura: 2Rs 5,14-17
Segunda Leitura: 2Tm 2,8-13
Salmo: 97,1-4
Evangelho: Lc 17,11-19

 

O Evangelho

 

Lembremos que o Evangelho segundo Lucas, ou para Teófilo, é uma obra com objetivo evidentemente catequético. Sendo assim, toda sua organização, e a forma como as narrativas são apresentadas, quer ensinar algo sobre o sentido do projeto libertador de Jesus, apresentado em Lc 4,18-19. A passagem dos “dez leprosos” está dentro da viagem de Jesus entre a Galileia e Jerusalém que inicia em 9.51-52, onde o povo samaritano é mencionado ao Jesus enviar mensageiros para preparar o caminho. Lucas quer demonstrar que o Evangelho de Jesus destrói as barreiras, derruba os muros, supera os ódios e inclui todas as pessoas excluídas. A inclusão não é uma concessão de Jesus, mas se revela na forma como as pessoas, antes excluídas, acolhem o Evangelho. No Evangelho deste Domingo, Jesus esta perto de Jerusalém, tanto que os homens curados – até por serem homens - poderiam se apresentar aos sacerdotes (v. 14). Só depois do milagre, dado a todos, se revela que a única pessoa que acolhe plenamente o Evangelho é um samaritano ou estrangeiro.

 

A dinâmica da narrativa e seus acentos

 

v.11 – Lucas mostra que Jesus não evitava o caminho através da Samaria, para ir da Galileia a Jerusalém, diferente de outras pessoas preconceituosas que não iam por ali.

 

v.12-13 – “Entrando numa ‘certa’ aldeia” (tina komen), coloca a ação em um lugar qualquer, porém pequeno, possivelmente da periferia, onde há um bom número de homens leprosos – pode que expulsos de outros lugares – que gritam por misericórdia, ou piedade (eleison).

 

v.14 – O simples reconhecimento de sua petição, e o fato de se tornar visíveis para o sacerdotes, já os “limpa” da doença (como se falava em relação à lepra).

 

v.15-16 – Só um deles, ao ver-se curado, volta para agradecer, e este era um samaritano (isto é, duplamente excluído por ser leproso e samaritano).

 

v. 17-19 – Jesus apresenta o ensinamento catequético ao perguntar, “onde estão os outros nove?” e “não houve quem voltasse para dar glória a Deus a não ser este estrangeiro?”. Declarando finalmente a salvação – inclusão e libertação – de quem antes foi excluído.

 

Resumo catequético da narrativa

 

a. A opção de Jesus de passar pela Samaria dirige seu projeto em direção às pessoas excluídas e discriminadas.

 

b. Jesus anda pelas periferias, pequenas aldeias, indo ao encontro das pessoas excluídas – discriminadas ou expulsas - dos centros de poder.

 

c. Jesus provoca a visibilidade daquelas pessoas que a religião e o poder dominante não quer ver ao mandar os homens se apresentarem aos sacerdotes, Este é o princípio da cura da sociedade,

 

d. Jesus mostra que as pessoas mais discriminadas, dupla ou triplamente, por causa da sua condição social, física e étnica, são as mensageiras preferenciais da fé libertadora.

 

Relacionando com as outras leituras

 

Na narrativa do 2º Livro dos Reis vemos a quebra das barreiras da guerra e do ódio. A cura de estrangeiro (o Sírio Naamã) pelo profeta Eliseu, fez com que este guerreiro se humilhasse ao tomar banho no barrento rio Jordão, e que – sob a oposição do Rei de Israel – aceitasse a dádiva de Deus através de seu antigo inimigo. Na 2ª Carta a Timóteo se fala de que assumir o Evangelho implica em assumir os sofrimentos das pessoas excluídas e discriminadas, fazendo que as pessoas que o anunciam sejam vistas como criminosas ou malfeitoras. No entanto, nem mesmo quando falhamos em nossa fidelidade – nos omitindo – Deus permanece fiel.

 

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