Youtuber mira CNBB 'esquerdizada' e rejeita fama de 'MBL dos católicos'

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21 Mai 2018

Bernardo Pires Küster, 30, já foi chamado de "empregadinho servil da CIA, do professor Olavo de Carvalho, da Opus Dei, da maçonaria judaica, da TFP [a ultraconservadora Tradição, Família e Propriedade] e do Mossad [o serviço secreto de Israel]".

A reportagem é de Anna Virginia Balloussier, publicada por Folha de S. Paulo, 21-05-2018.

Teve também a fama recente de "MBL dos católicos", uma comparação que afirma ser sem pé nem cabeça, já que ele vive "metendo o cacete" no movimento liberal liderado por Kim Kataguiri.

O jornalista e tradutor paranaense, que virou um dos maiores youtubers católicos do país, acha graça dos rótulos que colam nele. Já ironizou no Facebook que "nem Reinaldo Azevedo teve tantos patrões" quanto os associados aí em cima para ele - o colunista da Folha é outro que costuma enervar grupos de esquerda.

O que Bernardo admite que é: uma pedra no sapato da CNBB" (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Decorado com uma foto dele segurando um rifle, seu canal do YouTube tem 169 mil seguidores. Na página no Facebook, na qual a foto de capa traz freiras armadas, são 91 mil.

Os dois são abastecidos por vídeos como "Cala a Boca, Abortista!" e "Projeto de Ditadura LGBTTQI+@Y123", que questiona o projeto de lei no Senado que cria o Estatuto da Diversidade Sexual e de Gênero. Bernardo incluiu "outras letras [em LGBTQ, de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Queers] pra facilitar o trabalho do pessoal que não para de aumentar essa sigla", diz.

A popularidade do ativista católico disparou após a publicação, dois meses atrás, de "CNBB no banco dos réus". A produção acumula 544 mil visualizações, enquanto vídeos veiculados no canal CNBB Nacional costumam alcançar algumas dezenas delas.

A peça de Bernardo dispara uma rajada de acusações contra o que ele julga ser uma entidade empesteada de comunismo. A primeira bofetada é contra o fundador da CNBB, dom Helder Câmara (1909-1999), a quem se refere como "o arcebispo vermelho".

Era um desafeto do regime que se instaurou no mesmo mês em que virou arcebispo de Olinda e Recife, abril de 1964. Ao arcebispo, tido como inimigo pelos militares, se atribuiu a frase "quando dou comida aos pobres, me chamam de santo, quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista".

Em sua videografia, Bernardo destrincha indícios do que vê como "esquerdização" na Igreja Católica brasileira. Tem a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, elogiando a CNBB. Outra imagem aponta a presença da Cáritas, braço da Igreja que se diz voltado "aos excluídos e excluídas", no Fórum Social Mundial deste ano, visto como uma "esquerdolândia".

O presidente da Cáritas, dom João Costa, é alvo preferencial. Bernardo reproduz uma entrevista em que o hoje arcebispo de Aracaju define sua ida a um comício de Lula em 1989 como "um dos momentos mais belos da minha vida". O youtuber indaga: por que não eleger um momento religioso como o mais belo?

Por meio de uma edição engraçadinha, as críticas são intercaladas com cenas como a que Lula fala para a câmera: "Chupa que a cana é doce".

O paranaense lembra da condenação do pontificado de Pio XII (1939-1958) ao comunismo, num decreto de 1949. "Aqueles que se aliam [ao movimento] são excomungados."

Bernardo se considera, "sem modéstia", o "maior" dos ativistas cristãos leigos –e destaca que sua ascensão se deu justamente em 2018, que a CNBB instituiu como "o ano do laicato", que incentiva o papel do católico na vida eclesial.

A "chave do sucesso", para ele, é "um clichezão": a linguagem humorística, "porque tem que ter um pouco de mojo", e sua independência. A despeito do que desafetos falam, diz, ele é independente –não tem "mecenas algum" patrocinando seu conteúdo.

"O brasileiro tem uma mania grande de achar que é impossível alguém agir por simples obrigação moral interior", afirma por telefone à Folha, de Londrina, onde vive.

O que ele diz ter é o apoio moral "de muitos religiosos, com carmelos inteiros rezando por mim, pelo menos dez grandes bispos me apoiando, mas jamais publicamente" – para não criar indisposição dentro da Igreja, afirma.

Ala conservadora traz arcebispos de Rio e São Paulo, diz Bernardo.

Se não diz diretamente quem o apoia, Bernardo elenca quem são os nomes conservadores do bispado: os arcebispos Odilo Scherer (São Paulo), Orani Tempesta (Rio) e Fernando Guimarães (do Ordinariado Militar do Brasil) e dom Henrique Soares, da Diocese de Palmares (PE).

O youtuber está com o padre Paulo Ricardo numa foto em seu perfil no Facebook. Autor de textos como "o governo Dilma prepara-se para implantar aborto no Brasil", o clérigo já foi chamado de "Malafaia da Igreja Católica" por blogs de esquerda.

Dom Leonardo Steiner é apontado como o "homem mais poderoso da CNBB", do qual é secretário-geral. O religioso, segundo Bernardo, traz a esquerda em seu DNA eclesiástico. Seu mentor seria dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia e um dos maiores expoentes da progressista Teologia da Libertação.

Frei Betto chama dom Pedro de "santo e herói", e João Pedro Stedile, ideólogo do MST, já o comparou a Che Guevara.

Protagonista de um vídeo produzido pelo leigo católico e visto 117 mil vezes, dom Leonardo sofreu um infarto (do qual se recupera) às vésperas da Assembleia-Geral da CNBB, em abril. "Dizem que é por minha culpa", afirma Bernardo.

O presidente da CNBB, cardeal Sérgio da Rocha, ocupa um cargo de "honra, como a rainha da Inglaterra", e é "permissivo" com o esquerdismo no órgão, segundo o ativista.

Após ampla repercussão em outras redes, o próximo desafio ele já decretou: turbinar seu Twitter, seguido por 12 mil.

Por lá escreve que, em vez de duas horas de banho de sol, o detento Lula poderia ter "duas horas de sova".

Achincalha outras causas caras a progressistas: "Deus tá vendo você falar que povos indígenas têm direito à terra porque estavam nela primeiro, mas grita que Israel deve abrir mão de seu território, mesmo que os judeus estejam lá milênios antes de seus inimigos".

Procurada pela Folha, a CNBB não se manifestou até a conclusão desta reportagem.

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