Millennials: a primeira geração global e conectada

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15 Junho 2017

Embora a revista Time os definiu como a geração “eu, eu e eu” pelo elevado número de casos de desordem de personalidade narcisista que sofriam, os nascidos entre 1982 e 2004, conhecidos como millennials, formam a primeira geração global graças à ferramenta com a qual se comunicam, informam e pretendem transformar o mundo: a Internet.

A reportagem é de Esther Ortiz, publicada por Bez, 12-06-2017. A tradução é do Cepat.

Os millennials são objeto de uma multidão de estudos e informes, não só porque constituirão 75% da força de trabalho mundial, em 2020, mas por ser “a maior geração do mundo, a primeira de nativos digitais e a que nos dará pistas para estudar as gerações vindouras”, como explica o cientista político e consultor de comunicação, Santiago Castelo. “É a primeira geração que usa o celular desde quando se levanta até se deitar”, acrescenta, como demonstram as cerca de 90 horas mensais que investem em aplicativos móveis.

Para Castelo, este rótulo pode ser aplicado a jovens entre 18 e 35 anos de qualquer região do mundo, considerando que “assim como toda categoria sociológica, possui suas limitações e problemas ao generalizar”. “As grandes tendências se repetem porque a vida millennial está atravessada e influenciada pelo celular e pela conexão à Internet”, afirma este especialista, coordenador do estudo Millennials en Latinoamérica: una perspectiva desde Ecuador. No entanto, enquanto a penetração do celular é quase global, não acontece o mesmo com os smartphones.

Exclusão digital millennial

Segundo dados do Banco Mundial, embora mais de 60% dos africanos subsaarianos utilizem o celular, em países como Camarões, Etiópia, Uganda, Tanzânia e Ruanda se trata de telefones simples, sem conexão à Internet, algo que só 4% de sua população possuem.

Como revela um estudo do Pew Research Center, existe uma relação entre renda per capita e a capacidade de comprar um destes dispositivos, muito comuns na União Europeia e nos Estados Unidos, mas pouco frequentes nos países em vias de desenvolvimento. Estes dados se reproduzem nos millennials: 100% dos espanhóis, sul-coreanos, canadenses, australianos e italianos possuem um smartphone, frente a 8% de ugandeses, 20% de paquistaneses e 34% de indianos. Embora reconheça a dificuldade da tecnologia em adentrar em regiões do mundo sacudidas por conflitos, Castelo afirma que o celular é “o bem desejado por excelência hoje em dia”. Qualquer pessoa, independentemente de sua classe social ou das dificuldades que tenha, a primeira coisa que deseja é um celular com conexão, não um carro, nem uma casa”, destaca.

Esta naturalização do acesso à Rede explica também como esta geração se informa. Algo que para Lucía González, diretora de Verne, “tem muito a ver com sua desafeição política”, como explicou durante a apresentação de Millennial Dialogue, um ambicioso estudo da Foundation for European Progressive Studies, em 21 países, que revela algumas diferenças entre os jovens espanhóis e seus coetâneos europeus. São 78% os que acreditam que “os políticos ignoram” suas opiniões, algo com o qual apenas 31% dos noruegueses concordam. No país nórdico, 99% dos millennials acreditam que os políticos “querem o melhor para eles”, algo que na Espanha só 21% concordam.

Bolha de filtros e fake news da geração que “já não vai à banca”

“O uso tecnológico supõe uma diferença brutal; somos a primeira geração que não vai à banca, afirma González, millennial da “primeira onda”. “Antes, quando as pessoas viam você lendo um jornal em um bar ou em uma varanda, descreviam você ideologicamente; hoje, isso se faz através dos links que compartilhamos: 70 likes já nos definem”, destaca.

“Lideramos as formas de consumir informação e somos o futuro; os meios de comunicação aprenderam que o ouro reside em chamar nossa atenção, algo que nós, jornalistas, fazemos, às vezes, da forma menos adequada”, reconhece.

Como jornalista especializada em tecnologia, González opina que “a ilusão de que a Internet nos oferece tudo, nos faz acreditar que estamos bem informados”, advertindo que, como denunciou o ativista Eli Parisier, “pode ser que vivamos em uma bolha de filtros, sem saber, o que tem muito a ver com o fenômeno das fake news”. Os informadores digitais de notícias impedem que as mesmas possam ser contrastadas e verificadas, dando lugar a boatos e ao falseamento de dados via memes”, destaca. González recomenda aos jovens que “sejam proativos”, caso não queiram se informar “a base de Google” e ficar “à mercê dos algoritmos baseados em seus hábitos”. Aconselha-os, além disso, a não esquecer que as redes são “apenas uma parte da realidade” e que o contexto “se perde”.

Empoderados como ninguém, graças ao uso do celular

Contudo, a Rede é muito mais que a via de acesso à informação para estes jovens: é sua principal ferramenta política e de ativismo. “Sua capacidade de ação é alta e, graças ao uso do celular, estão empoderados como nenhuma outra geração”, explica Santiago Castelo. “Entram na política com a tecnologia: de forma disruptiva. Participam e militam menos e fazem isto de forma mais esporádica e desestruturada, por isso plataformas como Change.org possuem 10 milhões de usuários millennials na América Latina”, aponta o cientista político. É o que Pippa Norris descreve como uma “fênix democrática” que certifica o “óbito dos modos de ativismo político mais antigos”, substituídos por novas formas de compromisso cívico que os complementem. “A maioria destes jovens opina que as redes sociais influenciam na política de um país”, conclui Castelo.

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