Deus é misericórdia, não “teologia complicada”, diz Francisco aos padres

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30 Março 2016

O Papa Francisco deu início à celebração mundial católica dos dias que levam à Páscoa com um chamado na quinta-feira, dia 24 de março, para que as pessoas “rompam aqueles esquemas estreitos” no sentido serem mais misericordiosas para com os outros, dizendo aos sacerdotes que por vezes eles se cegam à vontade de Deus “devido ao excesso de teologias complicadas”.

A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 24-03-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Em uma missa solene na Basílica de São Pedro para a celebração da Quinta-Feira Santa, o pontífice falou que Jesus combateu não em busca de sua própria glória, mas para “abrir uma brecha à torrente da misericórdia que deseja (…) derramar sobre a terra”.

“A Misericórdia do nosso Deus é infinita e inefável”, disse o papa. “O Senhor prefere ver alguma coisa desperdiçada antes que faltar uma gota de misericórdia”.

Segundo ele, Deus “prefere que muitas sementes acabem comidas pelas aves em vez de faltar à sementeira uma única semente, visto que todas têm a capacidade de dar fruto abundante, ora 30, ora 60, e até mesmo 100 por uma”.

Falando diretamente a milhares de padres que participavam da liturgia, Francisco acrescentou que Jesus havia chamado para serem os ministros de Deus o povo pobre, o faminto, o prisioneiro de guerra, pessoas sem futuro, um resto descartado.

“Nós, como sacerdotes, identifiquemo-nos com aquele povo descartado, que o Senhor salva”, complementou. “Lembremo-nos de que existem multidões inumeráveis de pessoas pobres, ignorantes, prisioneiras, que estão naquela situação porque outros as oprimem”.

Francisco então encorajou os ali presentes a recordarem que “cada um de nós sabe em que medida tantas vezes somos cegos, estamos privados da luz maravilhosa da fé, e não porque nos falte o Evangelho ao alcance da mão, mas por um excesso de teologias complicadas”.

“Sentimos que a nossa alma morre sedenta de espiritualidade, e não por falta de Água Viva – que nos limitamos a sorver aos goles – mas por um excesso de espiritualidades sem compromisso, espiritualidades superficiais”, disse ele.

O pontífice falava na homilia da Missa do Santo Crisma, celebração anual realizada na Quinta-Feira Santa durante a qual o papa abençoa os óleos sacramentais a serem usados ao longo de todo o ano litúrgico.

Geralmente a celebração conta com a presença de muitos sacerdotes. Durante a missa, o papa leva os ministros presentes a renovarem os seus votos sacerdotais.

A Quinta-Feira Santa é celebrada pelos cristãos ao redor do mundo para marcar o dia em que Jesus teve a sua última ceia. Esta celebração dá início aos três dias que conduzem ao Domingo de Páscoa, conhecido como o Tríduo Pascal.

Francisco vai dar continuidade à celebração à tarde, dirigindo-se a um centro para refugiados perto de Roma, onde simbolicamente lavará os pés de refugiados e refugiadas, seguindo o exemplo de Jesus, quem teria lavado os pés de seus discípulos.

Em uma das únicas mudanças litúrgicas feitas até agora em seu pontificado de três anos, o papa alterou, em janeiro passado, o Direito Canônico para permitir que os padres lavem os pés tanto de mulheres como de homens em tais cerimônias, feitas nas igrejas ao redor do mundo na Quinta-Feira Santa.

Durante a homilia na manhã quinta-feira, o papa novamente salientou a natureza misericordiosa de Deus. Disse que as pessoas deveriam olhar para o exemplo divino e sem hesitar em mostrar um excesso de misericórdia para com os outros.

O pontífice afirmou que, depois de Deus conceder o perdão através de sua misericórdia, as pessoas são imediatamente restauradas em sua dignidade: “[Deus] não só perdoa dívidas incalculáveis (...), mas faz-nos passar diretamente da vergonha mais envergonhada para a dignidade mais alta, sem qualquer etapa intermédia”.

Em seu discurso dirigido diretamente aos padres, o pontífice falou que estes às vezes também se sentem “prisioneiros (…) por um mundanismo virtual que se abre e fecha com um simples clique”.

“Somos oprimidos, não por ameaças e empurrões, como muitas pessoas pobres, mas pelo fascínio de mil e uma propostas de consumo a que não conseguimos renunciar para caminhar, livres, pelas sendas que nos conduzem ao amor dos nossos irmãos, ao rebanho do Senhor, às ovelhas que aguardam pela voz dos seus pastores”, disse.

Francisco encerrou a homilia mencionando o Ano Jubilar da Misericórdia atualmente em curso, pedindo a Deus que “nos comprometamos a comunicar a Misericórdia de Deus a todos os homens, praticando as obras que o Espírito suscita em cada um para o bem comum de todo o Povo fiel de Deus”.

Nesse mesmo dia à tarde, o pontífice irá se dirigir ao centro de refugiados, a 25 quilômetros ao norte de Roma, para celebrar a Missa Vespertina da Ceia do Senhor com 892 migrantes que pediram asilo na Europa.

Uma vez aí, o papa irá lavar os pés de oito homens e quatro mulheres, segundo informou o Vaticano. Cinco destas pessoas serão católicas; três ortodoxas; três muçulmanas; e uma hindu.

O centro de refugiados, em operação desde 2007 e que ajuda refugiados de 25 países diferentes, disse que a visita de Francisco “nos convida a um compromisso renovado em ajudar os migrantes”.

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