Bertone, o balanço de um fracasso

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03 Setembro 2013

O secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, sai de cena. Na manhã desse sábado, ocorreu a nomeação do seu sucessor, Mons. Pietro Parolin, núncio na Venezuela e ex-subsecretário de Assuntos Exteriores da Santa Sé de 2002 a 2009.

A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 31-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O "zelador" era como chamavam Bertone as línguas pérfidas na Cúria, porque Bento XVI – desconhecendo os mecanismos da máquina vaticana – tinha decidido confiar-se completamente ao seu fiel colaborador, ex-secretário da Congregação para a Doutrina da Fé.

O Papa Ratzinger conhecia os seus limites, mas, sentindo-o em total sintonia com os seus próprios desejos e sabendo que ele nunca assumiria uma posição de crítica contra ele (dos papéis do Wikileaks, vem à tona que a diplomacia vaticana considerava Bertone como um "yes-man" ao extremo do pontífice), sempre quis defendê-lo.

Desde a sua nomeação em 2006, grande parte da Cúria foi hostil contra ele, considerando-o alheio tanto à experiência diplomática quanto ao savoir-faire e ao conhecimento necessários para uma máquina complexa como o governo central da Igreja Católica. Os críticos criticaram a falta de liderança unida à rigidez centralizadora e à tendência obsessiva de colocar seus próprios homens nos gânglios da Cúria, especialmente nos setores econômicos.

Se o pontificado ratzingeriano chegou a um beco sem saída, a partir do qual o próprio Bento XVI salvou a Igreja com o gesto revolucionário da renúncia papal, muitas responsabilidades recaem sobre Bertone.

Entre os maiores erros de governo, a gestão catastrófica do caso Williamson, o bispo lefebvriano negacionista reabilitado em 2009 da excomunhão. Quando as agências de todo o mundo já relatavam o antissemitismo virulento de Williamson, Bertone procedeu como se nada tivesse acontecido com a publicação do ato de remissão da excomunhão: sem falar abertamente com Bento XVI, que tinha decidido anteriormente pela clemência.

A Bertone como secretário de Estado remonta a responsabilidade última de ter deixado que fosse nomeado como arcebispo de Varsóvia um ex-agente da polícia secreta comunista polonesa (forçado a renunciar no mesmo dia da solene cerimônia de posse da cátedra episcopal).

Mas, acima de tudo, Bertone fez sistematicamente as escolhas erradas nos casos financeiros do Vaticano. Ele bombardeou, mandando-o como núncio aos Estados Unidos, o secretário-geral do Governatorato do mini-Estado pontifício, Dom Viganò, que tinha denunciado a corrupção sistemática nos contratos do Vaticano.

Quando Bento XVI, em dezembro de 2010, criou para o Vaticano uma Autoridade de Informação Financeira, confiando-lhe o pleno controle dos movimentações de dinheiro nos órgãos da Santa Sé, Bertone, um ano depois, reduziu os poderes dessa entidade de supervisão e apoiou a tese de que as informações a serem dadas às autoridades judiciais italianas sobre movimentações financeiras suspeitas no IOR não podiam ser anteriores a 2010.

Pouco depois, ele deu sinal verde ao "golpe" no banco vaticano (liderado pelo líder dos Cavaleiros de Colombo e membro do conselho de diretores do IOR, Carl Anderson), que levou à defenestração em 2012 do presidente Gotti Tedeschi. Um presidente que pediu em vão transparência total sobre "contas correntes externas" obscuras do IOR e uma regular certificação dos balanços financeiros por obra de uma agência independente internacional.

Em vão, ao longo dos anos, cardeais de renome – de Scola a Schönborn, de Ruini a Bagnasco – pediram que Bento XVI substituísse o secretário de Estado. O cardeal alemão Meisner, um fidelíssimo de Ratzinger, revelou que já tinha implorado, há quatro anos, ao então pontífice: "Eu disse: Santo Padre, o senhor tem que demitir o cardeal Bertone! Ele é responsável [pelo caso Williamson], exatamente como um ministro em um governo secular". Bento XVI nunca teve a força para fazer isso. No plano italiano, Bertone foi um ávido defensor de um pacto de ferro com Berlusconi.

O homem escolhido pelo Papa Francisco, Mons. Pietro Parolin, um diplomata, vem da grande "escola" dos cardeais Casaroli e Silvestrini. Uma escola de sensibilidade e de atenção à complexidade do mundo e das sociedades contemporâneas.

Antes de ser enviado para a Venezuela em 2009, ele tinha alcançado o objetivo de lançar as bases do acordo entre a Santa Sé e o Vietnã, que levou às relações diplomáticas entre as duas partes e que, a partir de 2010, permite que o Vaticano nomeie os bispos no país comunista asiático, apresentando ao governo uma terna (como acontecia nos Estados da Europa Oriental durante a Guerra Fria).

Parolin deverá ser o secretário de Estado de uma Cúria mais leve e aberta à colaboração com os bispos do mundo. Um papel importante também terá a "comissão de reforma" coordenada pelo cardeal Maradiaga.

Bertone continuará sendo, por enquanto, camerlengo vaticano e, por um ano apenas, presidente da Comissão de Vigilância do IOR.

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