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28 Novembro 2014

Diversas são as razões que podem nos fazer dormir: o cansaço, o avançado da hora, a falta de interesse... Neste 1º Domingo do Advento, por três vezes, nos é lançado um chamamento de urgência e é Jesus mesmo quem o faz: «Vigiai!» Não nos deixemos adormecer, pois é o Senhor mesmo que vem nos encontrar.

A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 1º Domingo de Advento. A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.

Eis o texto.

Referências bíblicas:
1ª leitura: Um apelo ao Senhor, para que venha (Is 63,16-17.19;64,2-7)
2ª leitura: A Igreja é fiel na espera do Senhor (1Coríntios 1,3-9)
Evangelho: «Vigiai!» (Marcos 13,33-37)

Partiu para o estrangeiro...

Este tema do dono da casa que se ausenta retorna muitas vezes nos evangelhos. Sob certa forma, na verdade, vivemos da presença de Deus. Sendo assim, como poderíamos nos separar d’Ele se é a fonte da qual jorramos? Ou, se quisermos, é como a terra da qual as nossas raízes retiram o que nos faz existir. Só que esta relação, para nós tão real e fundante, não está ao alcance dos sentidos pelos quais tomamos conhecimento do que está à nossa volta. Para resumir, a experiência que temos de Deus funda-se na fé, e não no que vemos. É sem dúvida para aliviar esta forma de ausência, que tantas pessoas mostram-se tão ávidas por milagres e intervenções divinas perceptíveis aos sentidos. Não nego os milagres, mas penso que não sejam necessários para a fé. Não são o nosso pão de cada dia. Não há no Credo nenhum milagre: não confundamos milagre com mistério. Nem mesmo o Cristo é acessível à nossa percepção: só o conhecemos pelo testemunho dos apóstolos. Pois, mesmo estes se foram, «partiram»! E os cristãos sempre pensaram que o que chamamos de «revelação» só chegaria ao final com a morte do último deles. Mas partiram anunciando-nos o retorno do Cristo. Não nas incertezas e fragilidades da condição humana, mas no que podemos chamar de «Glória divina», esta «glória» que deve ser a nossa e que vem Ele mesmo nos trazer.

O tempo do Advento

Pouco traduzida do Latim, esta palavra significa vinda, chegada. Vamos, pois, celebrar o aniversário do nascimento de Jesus, mesmo sendo uma convenção, a data fixada, mas celebremos mais ainda esta vinda na Glória, de que acabamos de falar. A vida cristã é uma vida de espera. De insatisfação por um mundo alterado pelo mal e pela desgraça, mas, também, para os que são lúcidos, de consciência da insuficiência pessoal. De fato, como já se disse, este desejo duma outra coisa, do novo, do diferente, refere-se não somente aos crentes. Investe-se em tantas coisas, nas ciências e técnicas para mudar o mundo e a vida, no desejo, tantas vezes perverso, de ser mais: de ser mais rico, mais importante, mais considerado, mais escutado. Nós, crentes, esperamos o «Reino de Deus», quer dizer, a reunião dos homens na unidade do amor. É o que significa a última vinda do Cristo. O que implica, com certeza, na vinda do Cristo que, desde o nosso primeiro dia, está a caminho em nossas vidas pessoais. Lembremos o que escreve Paulo em Filipenses 3,13: «Esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus.» O Cristo vem para nós e a nossa espera ativa é a nossa maneira de ir para Ele. Vemos assim que o tempo da ausência do dono da casa que partiu em viagem não é um tempo morto, mas um tempo de intensa gestação.

A humanidade em sua infância

No fundo, por um mês apenas, vamos concentrar nossa atenção numa realidade que é permanente, em algo que nos deve habitar todos os dias. Estamos numa espécie de entretempo: o Cristo já veio entre nós e a sua vinda, há dois mil anos, trouxe à plena luz a presença do «Verbo» que está em ação desde sempre. Já aí e já tendo vindo, o Cristo completará e cumprirá a sua união com todo este universo que veio dele, mas que só poderá se realizar com a conivência das liberdades humanas. É a esta conivência que nós, crentes, temos de dar nascimento. No fundo, apesar de todo menosprezo, o Natal é precisamente a festa da infância: somos esta humanidade na sua infância, exigindo crescer e completar-se. O Cristo, cujo corpo é a humanidade una e em crescimento, é este mesmo que veio e que virá. Nós o esperamos, mas também o recebemos sem cessar. Mas que dificuldade, exprimir em termos de tempos gramaticais realidades referidas à eternidade! O Cristo que está por vir encontra-se já presente, em nossa própria espera. Devemos repetir: isto tudo só é acessível por meio da fé, mas, pela fé, tomamos posse disto realmente. Para dar lugar ao que vem sem cessar, vamos abrir um pouco de espaço em nossas vidas, vamos aliviar as nossas agendas e realizar alguns gestos tendo em vista a união desta humanidade que, tornando-se Una, torna-se o corpo do Cristo.

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