Celestino V, modelo de Francisco: ''Ele escolheu a pobreza''

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09 Julho 2014

O Papa Bergoglio, como padroeiro do seu sonho de uma Igreja "samaritana e pobre", não coloca só Francisco de Assis, do qual assumiu o nome, mas também Celestino V, o papa da renúncia, que, nos quatro meses em que reinou, deu exemplo de "pobreza, misericórdia e despojamento": ele falou a respeito disso no sábado, em Isernia, com palavras que acrescentam um elemento significativo à figura de papa que ele vai esboçando.

A reportagem é de Luigi Accattoli, publicada no jornal Corriere della Sera, 08-07-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Foi escrito pela revista dos jesuítas de Milão, Aggiornamenti Sociali, que a expressão "Papa Francesco" é um oxímoro, isto é, a aproximação de dois termos dissonantes: o despojamento que caracterizou Francisco e o "poder das Chaves" que é próprio do papa.

A mesma revista também observou que, ao buscar o seu sonho, o Papa Bergoglio não podia se referir a nenhum dos seus antecessores, tanto que ninguém até ele ousara se chamar Francisco.

Aqui, em vez, o papa argentino se refere a Celestino V, unindo-o a Francisco de Assis e lendo nos dois, lado a lado, a sua ideia de Igreja. Ele fez isso em Isernia, pátria de Celestino, no dia de aniversário da sua eleição ao papado, que ocorreu no dia 5 de julho de 1294, há exatamente 720 anos.

"Esses dois santos – disse – deram um exemplo. Eles sabiam que, como clérigos – um era diácono, o outro, bispo, bispo de Roma –, como clérigos ambos, deviam dar o exemplo de pobreza, de misericórdia e de despojamento total de si mesmos".

Embora proclamado santo (por Clemente V, em 1313), Celestino V não é levado em grande honra na tradição papal e, quando os papas mais recentes, de Paulo VI a Bento XVI, lhe prestaram homenagem, a consideração sempre foi para a santidade do eremita e para a humildade da sua renúncia ao papado.

É sem precedentes a referência do Papa Francisco ao seu "exemplo" de "despojamento" dado como "bispo de Roma". O Papa Bergoglio disse ter encontrado "uma ideia forte" em Celestino V, que, na sua consideração, o aproximou a Francisco de Assis: ambos tinham "um senso muito forte da misericórdia de Deus que renova o mundo", "eram muito próximos das pessoas", tinham "a mesma compaixão de Jesus em relação a tantas pessoas cansadas e oprimidas", fizeram "uma escolha contracorrente" (a da pobreza) entendida "não apenas como ascese pessoal, mas também como testemunho profético e como profecia de um mundo novo".

As palavras são comprometedoras: desde sábado, sabemos que Celestino V é um dos modelos aos quais o atual bispo de Roma faz referênia.