08 Mai 2014
Invejados, temidos, mas também admirados por terem sido pioneiros de um modo diferente de ser missionários, cientistas, confessores de reis católicos ou simplesmente, como diria o seu ex-geral Pedro Arrupe, "homens para os outros". Essa é a história de fundo da Companhia de Jesus e dos seus religiosos: os jesuítas.
A reportagem é de Filippo Rizzi, publicada no jornal Avvenire, 04-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O livro, escrito por um historiador profissional e filho da ordem inaciana, o norte-americano John W. O'Malley, intitulado Gesuiti. Una storia da Ignazio a Bergoglio (Ed. Vita e Pensiero, 146 páginas), nos conta os quase cinco séculos da vida da Companhia de Jesus, pontilhada de luzes e sombras, erros e acertos, sucessos e insucessos, até hoje.
O padre O'Malley leva o leitor quase pela mão ao nascimento da Companhia, às intuições de Inácio de Loyola e dos seus primeiros companheiros sobre aquela que se tornaria uma das ordens mais influentes na história da Igreja, durante toda a Reforma Católica.
Lendo essas páginas, encontram-se os grandes pioneiros de um modo diferente de fazer evangelização, especialmente no Oriente, como Matteo Ricci ou Alessandro Valignano; reconhec-se especialmente à Companhia de Jesus o fato de ter criado no seu interior homens de grande engenho e capazes de dialogar com o mundo das ciências modernas, como Cristóvão Clávio (amigo de Galileu), ou com as artes visuais, como o irmão coadjutor (o "Fra Angelico dos jesuítas"), pintor e arquiteto Andrea Pozzo.
O livro mergulha na expansão do mundo e, sobretudo na Europa dos inacianos, também em nível geopolítico (um amplo olhar também é voltado às "reducciones" no Paraguai), mas também narra as polêmicas teológicas das quais foram protagonistas muitos dos seus membros: da controvérsia sobre a graça com os dominicanos à mais feroz e mortal com os "inimigos" de sempre da Companhia, os jansenistas.
Amargas e quase românticas são as páginas dedicadas à supressão de 1773 por parte de Clemente XIV e à fatigante reconstituição da ordem, 41 anos depois, por parte de Pio VII. O segredo e a força dos jesuítas, segundo O'Malley, residem no apostolado intelectual e na educação, na atenção aos pobres, mas também em saber se adaptar a qualquer tipo de circunstância (o autor cita, não por acaso, o famoso lema do jesuíta Jerônimo Nadal: "O mundo é a nossa casa").
Também são lembrados os momentos de crise depois do Concílio, a incompreensão com Paulo VI vivida por Pedro Arrupe em 1974, durante a 32ª Congregação Geral (entre cujos delegados também figuravam Carlo Maria Martini e Jorge Mario Bergoglio), ou de atrito, anos depois, com João Paulo II.
O padre O'Malley não esconde a crise de vocações e, em certo sentido, de identidade que a ordem sofreu no mundo ocidental, mas entrevê na eleição, pela primeira vez, de um jesuíta ao sólio de Pedro e na vitalidade das províncias asiáticas da Companhia (a Índia em primeiro lugar) a autêntica fronteira à qual os filhos de Santo Inácio saberão avançar, para continuar incidindo, especialmente hoje, em um mundo globalizado, nos fatos mais importantes, mas também nos mais particulares da história.
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Uma Companhia de protagonistas: os jesuítas, de Inácio a Bergoglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU