A história dos padres operários depois de 1965 ainda está por ser escrita

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07 Dezembro 2015

"Os padres faziam parte do mundo do trabalho. O que os bispos temiam era a aproximação dos padres operários ao movimento progressista e ao comunismo através do compromisso sindical", afirmam Nathalie Viet-De Paule e Tangi Cavalin.

A reportagem é de Dominique Greiner, publicada no jornal La Croix, 04-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Qual é a situação da historiografia dos padres operários?

Nathalie Viet-De Paule – É preciso distinguir a primeira geração, anterior a 1954, e a segunda, posterior a 1965. Foram feitos muitos estudos sobre a primeira geração. Para ser mais precisa, os pesquisadores se interessaram pelos padres operários nas fábricas ou nos canteiros de obras, mas ignoraram os padres operários na agricultura, que também eram numerosos, mas que não foram afetados pela proibição de 1954. A história da segunda geração continua por ser escrita.

Por que isso não foi feito?

Nathalie Viet-De Paule – A segunda geração não teve o mesmo impacto midiático do que a primeira, que provocou um grande frisson. A crise de 1954 lhe deu uma visibilidade clara.

Tangi Cavalin – Depende também do fato de que Émile Poulat, que estudou as origens dos padres operários até 1947, considerava que só a primeira geração era significativa das relações entre a Igreja e a cultura contemporânea. Ele convenceu os historiadores do pouco interesse de estudar a segunda.

Qual é a origem da crise de 1954?

Tangi Cavalin – É difícil responder a essa pergunta, porque os arquivos romanos sobre esse período ainda não são consultáveis. No entanto, pode-se dizer que a decisão de 1954 é o sinal de uma preocupação da hierarquia da Igreja Católica na França e ainda mais em Roma. Essa decisão deve ser recolocada novamente em um conjunto de condenações: a dos teólogos como Chenu ou Congar em 1954, ou mesmo a da revista progressista Quinzaine em 1955. A essência do problema era que os padres faziam parte do mundo do trabalho. O que os bispos temiam era a aproximação dos padres operários ao movimento progressista e ao comunismo através do compromisso sindical. Além disso, em 1954, os padres puderam trabalhar, mas só a tempo parcial, o que torna quase impossível desempenhar o trabalho de operário. A proibição doutrinal cairia em 1959. Essa condenação chegou em resposta a um relatório transmitido pelo cardeal Feltin, que desejava que os padres operários pudessem voltar a trabalhar em tempo integral para lutar contra a descristianização da França. Nesse ponto, a sensação que prevaleceu foi a de que as especificidades franceses não eram reconhecidas por Roma.

Então, o ano de 1965 marca a revogação dessa proibição?

Nathalie Viet-De Paule – Assiste-se principalmente a uma reorganização, a um enquadramento dos padres operários. Claro, um comunicado publicado no fim do Concílio Vaticano II anunciou que os padres operários poderiam exercer uma atividade em tempo integral, mas essa autorização era concedida apenas pelo Secretariado Nacional da Missão Operária, sob a autoridade dos bispos. O seu número foi limitado. Mesmo os militantes operários tinha voz na nomeação dos padres operários, aos quais se impunha que fossem inseridos nos ambientes da Ação Católica (JOC, ACO, paróquias missionárias...) e vivessem em equipe. Eles podiam se inscreve em um sindicato, mas não tinham o direito de exercer responsabilidades sindicais. As condições impostas a essa segunda geração, portanto, não têm nada a ver com o modo pelo qual a primeira geração de padres operários viveu a sua missão: uma missão que, justamente, explorava um caminho diferente do da Ação Católica, cujos limites já eram percebidos, como testemunha o livro La France pays de mission?, lançado em 1943.

Tangi Cavalin – A autorização da retomada dos padres operários só foi possível sob o preço dessas condições. O cardeal Veuillot, que desejava essa retomada, as aceitou a título de garantias dadas ao Santo Ofício.

O que aconteceu depois?

Tangi Cavalin – Tudo isso não durou muito tempo. Depois de 1968, a Missão Ouvrière perdeu o controle da admissão dos padres ao trabalho. Foram inúmeros até meados dos anos 1970 aqueles que entrar amno mundo do trabalho operário, enquanto muitos tinham entrado em seminários ou na vida religiosa com essa perspectiva. Mas essa geração não se renovou. Sobre os padres operários, virou-se a página.

Que balanço podemos fazer dessa experiência?

Nathalie Viet-De Paule – A primeira geração de padres operários permitiu que se mostrasse que os valores evangélicos coincidiam com os do movimento operário na luta por mais justiça. Isso também é verdade para a segunda geração? Sem dúvida, mas até 1968 os padres operários não tinham responsabilidade sindical. O fato é que a experiência dos padres operários marcou o imaginário social como manifestação de uma proximidade. Muitas pessoas dizem ter conhecido um padre operário... simplesmente porque esse padre parecia ser "social" ou próximo das pessoas para elas, sem ser necessariamente operário.

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