Sobre a disputa em torno do casamento gay: um olhar ecumênico. Artigo de Karl Lehmann

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09 Junho 2015

O diálogo ecumênico de hoje – para todas as questões, também para o matrimônio – não deve se tornar demasiadamente "de hoje" e não deve passar facilmente por cima daquilo que já foi encontrado em comum. Também aqui vale o velho ditado: "Eile mit Weile!" (apressemo-nos devagar!).

A opinião é do cardeal Karl Lehmann, bispo de Mainz, na Alemanha, em artigo publicado no sítio Bistummainz.de, 02-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

A atenção para a formação da opinião pública sobre o casamento gay, como se expressou na votação irlandesa, também envolveu a Alemanha em medida excepcional. É absolutamente surpreendente que nós cheguemos quase a imitar a pequena Irlanda, até agora considerada "arquicatólica". Um olhar para a mídia e, em particular, para o mundo da informação deixa evidente como é forte a influência da rede, que também promete novos estímulos para uma mais ampla equiparação do casamento gay.

Tanto o bispo Heinrich Bedford-Strohm, presidente do Conselho da Igreja Evangélica Alemã (EKD), quanto a embaixadora do Jubileu da Reforma, Margot Kässmann, acolheram esses estímulos. Ao mesmo tempo, na Saxônia, foi eleito um novo bispo da Igreja Evangélica, Carsten Rentzig, que nunca fez segredo da sua atitude crítica em relação às uniões entre pessoas do mesmo sexo. Isso já deixa prever notáveis tensões.

Até mesmo para a Igreja Católica já é evidente, a partir das respostas ao amplo questionário em vista do Sínodo 2013-2014, que devemos nos colocar a temática da homossexualidade de um modo absolutamente novo.

Os tons acesos dos últimos dias não devem nos impedir de ver como o debate sobre esse problema também está aceso na Igreja Católica. Isso fica evidente a partir da controversa declaração da assembleia geral do Comitê Central dos Leigos Católicos de maio. Em todos os posicionamentos, falta até agora a capacidade de enfrentar o problema de maneira tranquila e com a necessária distinção (vejam-se as palavras prudentes do Catecismo da Igreja Católica, nn. 2.357-2.359; e do Catecismo Católico para os Adultos II, nn. 385-387).

O assunto seguramente vai nos ocupar de modo intenso nos próximos meses, e não só no Sínodo dos bispos ordinário do fim deste ano. Não se trata de temas teológicos especialísticos que permanecem até bastante distantes, mas da vida cotidiana de todos os cristãos. Vimos quanto material explosivo pode brotar, a partir do documento de orientação do Conselho da Igreja Evangélica sobre a família, "Zwischen Autonomie und Angewiesenheit" (Entre autonomia e dependência), de 2013.

As discussões do Sínodo dos bispos do fim de 2015 sobre esses e outros aspectos do âmbito da sexualidade não serão menos acesos. Também será importante que as Igrejas do nosso país falem e discutam juntas o máximo possível.

Mas não estamos particularmente bem equipados para fazer isso. O matrimônio, nos diálogos ecumênicos das últimas décadas, ao menos no nosso país (mas não só entre nós!), teve um espaço relativamente pequeno. O diálogo torna-se ainda mais urgente por causa disso. No entanto, deve ocorrer muito mais em profundidade.

Por exemplo, é assustador o que foi deduzido da breve citação de Lutero de que o matrimônio é "coisa mundana" ("weltlich Ding"), e que consequências foram tiradas daí para hoje. Embora não tenhamos muitas declarações conjuntas sobre matrimônio e família, aquilo que foi elaborado anteriormente pode ser facilmente perdido, também simplesmente porque quase não é mais conhecido.

Cito como exemplo uma declaração conjunta de 15 de outubro de 1981, assinada pelos presidentes de então da Conferência Episcopal Alemã e do Conselho da EKD, ou seja, pelo cardeal Josef Höffner e pelo bispo evangélico Eduard Lohse, intitulada "Ja zur Ehe" (Sim ao matrimônio).

No marco da reelaboração da questão sobre se as condenações doutrinais do século XVI ainda atingiam o parceiro atual, foi elaborado sobre o matrimônio um posicionamento comum muito detalhado (veja-se Lehrverurteilungen – kirchentrennend I [Condenações doutrinais que separam as Igrejas I], Friburgo-Göttingen 1986, p. 141-156).

O diálogo ecumênico de hoje – para todas as questões, também para o matrimônio – não deve se tornar demasiadamente "de hoje" e não deve passar facilmente por cima daquilo que já foi encontrado em comum. Também aqui vale o velho ditado: "Eile mit Weile!" (apressemo-nos devagar!).