Cartazes contra o Papa Francisco: um ataque preciso, brutal e bem planejado que não deve ser minimizado

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08 Fevereiro 2017

O ataque foi preciso, violento, bem planejado. Equivocam-se os defensores de Francisco que querem minimizar. E também se equivoca o Vaticano ao difundir a ordem tácita: “Não se preocupem com eles, olhem e passem adiante”.

A nota é de Marco Politi, publicada no seu blog no sítio do jornal Il Fatto Quotidiano, 05-02-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Porque os cartazes contra o Papa Bergoglio afixados no sábado em muitas partes do centro de Roma tocam os pontos vitais do imaginário deste pontificado. Em primeiro lugar, a relação direta com a massa dos fiéis e também com o povo que não acredita, mas escuta com atenção as palavras de Francisco: relação ridicularizada e deformada pela foto, que, nos cartazes, mostra um pontífice carrancudo.

Ainda mais insidiosa é a segunda mensagem veiculada pelos cartazes: o ataque brutal contra o coração da sua boa notícia, a misericórdia. Como se dissesse: “Você é um ditador sorrateiro que fala de misericórdia, mas persegue aqueles que não concordam com você: da Ordem de Malta aos Franciscanos da Imaculada, aos sacerdotes incômodos para você... e você não tem sequer a coragem de responder àqueles cardeais que o colocam em discussão”.

Verdadeiro e falso em uma mensagem de luta política sem fronteiras não importam (a campanha eleitoral de Trump ensina isso). E o ataque dos cartazes é “político”, em seu pleno sentido, contra o pontificado bergogliano.

Refinado na sua perfídia também é o uso do dialeto romano. “A France’...”. Uma careta que visa a esvaziar, na sua vulgaridade, toda preeminência moral da personalidade colocada no alvo. Equivocam-se aqueles que minimizam, considerando o caso como um mero desdobramento de um clima da comunicação contemporânea, que se tornou cada vez mais explícito, polarizado e agressivo. O que é verdade. Mas, no caso de Francisco, a onda dos cartazes zombeteiros é algo mais: é mais um passo de uma escalada que tem como objetivo a difamação sistemática do seu reformismo e, em última análise, a mobilização de forças em vista do futuro conclave, do qual (de acordo com os conservadores) absolutamente não deve sair um Francisco II.

Ridicularizar o papa em Roma, com métodos que lembram os tuítes de Trump contra os seus adversários ou os insultos de estádio contra jogadores e árbitros, significa justamente arrastar para baixo a figura de Francisco, para colocá-lo no mesmo nível do insultos de boteco.

Nesse caso – quem quer que sejam os gatos pingados que, um dia, poderão ser identificados como autores materiais do fato – não existe um único marioneteiro. Existe, em vez disso, desde os primeiros meses do pontificado e em aceleração com o primeiro Sínodo sobre a família, a coagulação constante e crescente de múltiplos grupos, padres, bispos e cardeais apoiados por uma galáxia de sites, cujo lema é: “Este papa não nos agrada. É um demagogo, um populista, um comunista, um feminista, um herege... Que protestantiza a Igreja Católica, diminui o primado papal, tira sacralidade da cátedra de Pedro, afasta-se da Tradição, semeia confusão entre os fiéis...”.

Pegue-se um mapa e apontem-se com um alfinete os locais de onde provêm os cardeais e os bispos que assinaram livros contra a reviravolta pastoral de Francisco em tema de ética familiar, que assinaram abaixo-assinados, que lhe enviaram uma carta acusando-o praticamente de manipulação da ordem dos trabalhos do Sínodo de 2015, que, por fim (com a carta dos quatro cardeais do ano passado), substancialmente o acusaram de trair a palavra de Deus inscrita no Evangelho, e se terá um mapa da rede mundial – na Cúria e nos cinco continentes – daqueles que alimentar mau humor contra a linha do pontífice. Padres, teólogos, bispos e cardeais que se opõem a ele abertamente e que, nos bastidores, são apoiados por aqueles que compartilham as suas ideias, mas não querem se expor e, enquanto isso, fazem resistência passiva.

Os cartazes de Roma, que atacam Bergoglio publicamente na Roma da qual ele é bispo e na qual desempenha (como afirma a definição católica tradicional) a sua “missão de pastor universal”, são o sinal alarmante de um movimento contrário a ele, que não dá trégua e encarna a própria agressividade extenuante que teve, nos Estados Unidos, o Tea Party Movement.

A semelhança chama a atenção. Esse movimento, que incessantemente, ano após ano, desagregou a imagem de Obama, obviamente não era capaz de removê-lo como presidente, mas, no fim do seu mandato, pesou enormemente na eleição presidencial.

Há um “movimento do sagrado incenso” bastante numeroso como demonstraram os votos no Sínodo sobre a família e variadamente agressivo, que visa a corroer a partir de dentro dos ambientes eclesiásticos a autoridade de Bergoglio. O amplo consenso de que ele goza nas pesquisas é apenas uma parte da questão. A outra dimensão refere-se à Igreja como instituição. E, nessa dimensão, a guerra subterrânea é violenta.

Bergoglio, mostrando tranquilidade, até agora ordenou discretamente aos seus defensores na hierarquia que não deem importância aos ataques dirigidos a ele. Mas a história ensina que, em uma guerra civil, quem não combate eficazmente os ataques, acaba se desgastando. E aqui quem se desgasta não é tanto a personalidade histórica de Francisco, mas sim a vitalidade da frente reformadora.

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