“Há um efeito Francisco nos cidadãos, mas ainda não na Igreja”. O bispo mexicano mais ameaçado acompanhará o Papa na visita ao México

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11 Fevereiro 2016

Ele é o rebelde. O bispo mais ameaçado do México. O prelado que nos anos noventa virou as costas aos ditados do Vaticano e se somou em Chiapas ao clero indigenista; o mesmo que agora defende os homossexuais e que enfrenta em rosto descoberto o cartel dos Zetas.

A voz de Raúl Vera (Acámbaro, Guanajuato, 1945) irrita a muitos, mas não deixa de ser escutada com atenção em Roma. A ascensão de Francisco e sua busca das periferias existenciais encontrou, no bispo de Saltillo (Coahulla), um de seus grandes porta-vozes em terras norte-americanas. No próximo dia 12 de fevereiro o Papa iniciará sua primeira visita ao México. Vera o acompanhará em todas as paradas.

A entrevista é de Jan Martínez Ahrens, publicada por El País, 09-02-2016. A tradução é de Benno Dischinger.

Eis a entrevista.

41 sacerdotes foram assassinados na última década. E você mesmo vive sob ameaça de morte. É tão perigoso ser religioso no México?

A sombra da morte cresce a cada dia, mas para todos, sejam presbíteros ou taxistas. E isso obedece à impunidade que há no México.

Durante muito tempo, você foi um marginalizado no episcopado. E agora?

Veja, sou uma pessoa que fala da mesma forma dentro das catedrais como fora. Mas nunca me senti separado dos meus irmãos bispos. O que vi, sim, é uma reação mais próxima e aberta quando se fala de violência.

Ciudad Juárez, Chiapas, Michoacán, Ecatepec… A viagem do Papa é um percurso pelos problemas do México?

Os lugares são emblemáticos, começando pela Basílica de Guadalupe, o primeiro que quis visitar. Francisco vem muito preocupado com a migração, com a necessidade de irmanar-se frente a um modelo econômico que impõe a morte e trata os seres humanos como mercadoria.

E que consequências terá a visita?

Será uma chamada de atenção para ser mais responsável. México é um dos países mais destruídos do planeta; aqui se aplicaram à força as leis mercantilistas, as grandes empresas se apossaram da nação e amplas regiões estão submetidas à violência. Não esqueçamos Ayotzinapa. Foi um horror. Levaram os normalistas à vista de todos. E agora o Exército não se deixa interrogar sore o que se passou.

E para um episcopado tão ortodoxo como o mexicano, o que significará a presença do Papa?

Francisco fala de misericórdia e de vergonha. Escutar aqui sua forte palavra nos levará a cerrar fileiras em torno ao sofrimento, a escutar e atender a voz das vítimas. O sofrimento precisa rebelar-se. Por isso o Papa vai onde a população, como a indígena, vive uma situação difícil, onde não são reconhecidos como cidadãos completos, onde não recebem trabalho, senão caridade... A nós, os bispos, deve fazer-nos pensar o que escolheu o Papa: a migração, a violência...

E o que faz falta na viagem?

Faltam-lhe dias. João Paulo II chegou a estar sete dias.

Francisco encontrará um país com o catolicismo em retrocesso.

Estamos reagindo, mas faltam projetos pastorais. O Papa pede que nos integremos mais. A Igreja ainda não sai às periferias existenciais, atende mais as questões de culto que de transformação da sociedade. Necessita mais contato. A emergência da sociedade civil não vem da Igreja.

Mas não há um efeito Francisco?

Vejo-o nos cidadãos, mas ainda não na Igreja. Somos nós, os bispos e sacerdotes os que temos que converter-nos à integridade do Evangelho. Falta-nos uma visão mais crítica.

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