Bento XVI pede o afastamento do número 2 dos Legionários de Cristo

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29 Março 2011

Luis Garza Medina (foto, ao lado de Bento XVI), atual vigário-geral dos Legionários de Cristo, pode estar com seus dias contados na cúpula da congregação sob intervenção de Roma. Há uma década, o máximo responsável das finanças da Legião, um dos homens de confiança de Marcial Maciel e, segundo todos os indícios, quem mais fez para tapar os desmandos de seu fundador até o final, é o principal objetivo que Bento XVI marcou para seu delegado pontifício, o cardeal Velasio De Paolis.

A reportagem é de Jesús Bastante, publicada no sítio Religión Digital, 29-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Afastar Garza é o primordial, antes até que a saída de Álvaro Corcuera ou o desenvolvimento das investigações. É preciso fazer isso, e logo. A Páscoa pode ser um bom momento, embora a resistência do sacerdote mexicano poderia fazer com que ele permanecesse à frente pelo menos até o final do ano.

Isso é o que Bento XVI mandou dizer ao cardeal italiano. O Papa não quer que o escândalo fique só nos "atos reprováveis" do fundador da Legião. Deve-se entrar a fundo na organização, na gestão dos recursos e no modo de entender o pertencimento à Igreja e à própria instituição.

"Ratzinger quer ir com tudo, de modo que dessa crise saia uma congregação refundada ou reformada, muito mais forte e, principalmente, limpa", afirma um legionário de Roma. Na Santa Sé, teme-se que De Paolis esteja sofrendo de uma espécie de "síndrome de Estocolmo", ou que se veja com as mãos amarradas para desentupir os encanamentos da Legião de Cristo. E Luis Garza é, ainda hoje, o "tampão" que impede que corra a água limpa e que pode provocar que o movimento de renovação acabe se corroendo.

De Paolis já teve mais de um encontro a sério com Luis Garza, que se negou, em repetidas ocasiões, a abandonar qualquer uma de suas responsabilidades. O purpurado só conseguiu retirá-lo do cargo de responsável da congregação na Itália. No entanto, o que mais preocupa é o controle absoluto das contas da Legião, por meio do emaranhado de empresas Integer, criado por Garza no ano 2000 e que administra, a cada ano, um orçamento de mais de 600 milhões de euros.

Luis Garza acaba de completar 25 anos como Legionário. Sempre em postos de responsabilidade, sempre perto do "pai" Maciel, a quem protegeu até o final. Segundo diversos testemunhos dados durante a visita apostólica à Legião de Cristo, Garza foi o encarregado de negociar e pagar Norma e Norma Hilda, mulher e filhas de Maciel; de "esconder" o fundador em todas e cada uma de suas saídas; e de controlar a informação referente ao caso até que Roma destapou tudo.

No entanto, Garza é um homem apegado ao poder, até o ponto de ser ele mesmo quem, finalmente, chegou a obrigar o pedófilo mexicano a cumprir escrupulosamente o chamado a uma vida de oração e de silêncio ao final de sua vida.

Velasio de Paolis jamais conseguiu se entender com Garza. Diferentemente de Álvaro Corcuera, com quem mantém uma excelente relação – e que poderia "salvar-se da fogueira", chegado o caso –, Luis Garza jamais entendeu as "interferências" da Santa Sé na vida da Legião pós-Maciel. O delegado pontifício não é um homem de socos na mesa: ao contrário, ele tentou não acabar com as esperanças do setor renovador e não mandar para a ruptura total – no mais puro estilo lefebvriano – os firmes seguidores da versão mais ultraortodoxa da Legião. Luis Garza não compreende que, depois da condenação de Maciel e da responsabilização econômica perante as vítimas, é preciso tocar o carisma em frente..

A estratégia da Santa Sé – Bento XVI acompanha de perto o caso, junto com o secretário de Estado Bertone, o cardeal Levada e o jesuíta Lombardi – corre por um caminho triplo: o primeiro, do qual consta seu fracasso, girou em torno de realizar uma "transição tranquila". Garza se fechou, e só a saída de Evaristo Sada parece estar pactada. O segundo, a tentativa de envolver o ainda vigário-geral em cumplicidade com os desmandos de Maciel. O próprio De Paolis cometeu um grave erro ao afirmar, durante uma reunião privada, que não seriam apuradas as responsabilidades entre os atuais dirigentes, o que significou um chamado de atenção papal e sua imediata matização. No entanto, suas palavras revelaram parte do plano. E o terceiro, que Garza caia não tanto por sua cumplicidade com Maciel, mas sim pela sua responsabilidade no emaranhado financeiro.

O jesuíta Ghirlanda, ex-reitor da Gregoriana e um dos quatro ajudantes de De Paolis (o quinto, só para as consagradas, é Ricardo Blázquez), está pondo-se a par da estrutura financeira da Legião. Por enquanto, sem poder penetrar diretamente na Integer, reino exclusivo de Luis Garza, mas por meio de cada colégio, entidade, ONG ou obra de nível individual. Uma tarefa gigantesca, que acabará dando cada vez mais autonomia a cada centro e que acabará com a Integer. Antes disso, os dados poderiam permitir à Santa Sé a destituição de Luis Garza por questões financeiras – é preciso não esquecer que Roma se comprometeu em se converter em um Estado absolutamente transparente no âmbito fiscal. E, uma vez afastado, poder pôr ordem na Legião.

Luis Garza vai resistir até o final. Utilizando todas as – muitas – armas a seu dispor. Mas fará isso sozinho. Álvaro Corcuera não quer ligar o seu destino ao de Garza. Mesmo assim, prevê-se que a luta será dura. No entanto, Bento XVI já tem clareza sobre o próximo "X" da equação. E é Luis Garza.

 

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