O cotidiano, o político, o digital: desafios para a teologia do futuro. Entrevista com Christoph Theobald

Foto: PIxabay

13 Mai 2021

 

O teólogo jesuíta Christoph Theobald, professor no Centre Sèvres, em Paris, participou de um recente simpósio vaticano sobre o futuro da teologia católica.

O Papa Francisco está encorajando os principais pensadores da Igreja Católica a renovarem o seu modo de fazer e de conceber a ciência da teologia.

E foi exatamente sobre isso que três importantes teólogos da Europa discutiram recentemente em um simpósio promovido pelo renovado Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família.

O diretor do instituto, Pierangelo Sequeri, foi acompanhado no dia 5 de maio pelo beneditino alemão Elmar Salmann e pelo jesuíta franco-alemão Christoph Theobald, para um colóquio intitulado “Hoje e amanhã. Imaginando a teologia.

 

 

Theobald, 74 anos, que leciona teologia em Paris, conversou sobre os desafios do futuro da teologia.

A reportagem é de Christophe Henning, publicada por La Croix International, 11-05-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Eis a entrevista.

 

Qual é a urgência para imaginar uma teologia para o futuro?

Foi o próprio Papa Francisco quem incentivou um trabalho teológico aprofundado, que ele pediu pessoalmente no primeiro capítulo da sua primeira exortação, Evangelii gaudium, de 2013, e novamente na constituição apostólica Veritatis gaudium. As chamadas ciências eclesiásticas – teologia, filosofia, ciências humanas etc. – constituem um laboratório para superar a crise que atravessamos. O papa enfatiza que não vivemos uma época de mudanças, mas sim uma mudança de época, uma crise antropológica que afeta o ser humano, mas que também é planetária e ambiental. As suas encíclicas Fratelli tutti e Laudato si’ fazem um diagnóstico bastante preciso dessa crise, para a qual não existe uma resposta pronta.

 

Em que a teologia de hoje é diferente?

Uma doutrina monolítica não pode nos levar muito longe: devemos ter uma abordagem teológica plural. Estamos saindo de um período em que tínhamos medo de tudo o que era diferente. O papa insiste na pluralidade ao evocar a figura geométrica do poliedro. Na Igreja, a missão magisterial dos bispos é anunciar o querigma, o conteúdo da fé, enquanto o carisma dos teólogos é fazer um trabalho crítico e buscar, em uma dimensão prospectiva, soluções para o futuro. Não podemos resolver os problemas de hoje com os esquemas de ontem.

 

Onde essa teologia do futuro está sendo preparada?

Dado o número de instituições, a teologia europeia continua tendo um papel de liderança, nomeadamente pela sua capacidade de ensino e de publicação de textos. Mas o trabalho dos teólogos da África, Índia e América Latina é essencial para aprofundar a questão central da inculturação. Essa diversidade de abordagens é promissora para o futuro, embora a teologia na Europa muitas vezes fique prisioneira de questões de detalhe. Na minha opinião, ela não desenvolve suficientemente uma visão transdisciplinar.

 

Quais seriam as questões essenciais a serem trabalhadas hoje?

Eu identificaria três desafios para a teologia do amanhã. Em primeiro lugar, a Igreja não chega mais às pessoas nas suas vidas cotidianas. Há a questão da receptibilidade: diante da descristianização, devemos trabalhar uma teologia da vida cotidiana e encontrar uma forma de falar com os nossos contemporâneos. O segundo desafio é a necessidade de entrar em diálogo com as diferentes tradições de sentido. Não é apenas uma questão de diálogo com o judaísmo ou o Islã, mas também com todas as espiritualidades, até mesmo as agnósticas. Agora, essa pluralidade é perturbada por uma laicidade que não está desaparecendo em nenhum lugar da Europa e é ainda mais intensa na França. Devemos trabalhar uma teologia do político que leve em conta essas diferentes tradições e se concentre naquilo que elas podem contribuir para o “viver juntos”. Por fim, é urgente refletir sobre o enorme desenvolvimento do digital que está invadindo as nossas vidas. O que resta de uma teologia da consciência quando tudo é gerido por algoritmos e computadores?

 

Esse trabalho parece ser uma tarefa enorme. É possível realizá-lo hoje?

Estamos em um ponto de inflexão, principalmente na Europa. É essencial desenvolver uma perspectiva em um momento em que a Igreja está anestesiada pelo menor número de vocações, pelas questões éticas da sociedade, pela pandemia... Não há nenhuma visão diante da incerteza, embora devamos viver a virtude central da esperança e ousar desenvolver, como na Bíblia, “sonhos” de futuro. Esse é o papel da teologia.

 

Nota do Instituto Humanitas Unisinos – IHU

De 04 de junho a 10 de dezembro de 2021, o IHU realiza o XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição, que tem como objetivo debater transdisciplinarmente desafios e possibilidades para o cristianismo em meio às grandes transformações que caracterizam a sociedade e a cultura atual, no contexto da confluência de diversas crises de um mundo em transição.

 

XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição

 

 

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