Lesbos, uma tragédia anunciada. Mas o primeiro-ministro grego acusa as vítimas

Mais Lidos

  • “A destruição das florestas não se deve apenas ao que comemos, mas também ao que vestimos”. Entrevista com Rubens Carvalho

    LER MAIS
  • Povos Indígenas em debate no IHU. Do extermínio à resistência!

    LER MAIS
  • “Quanto sangue palestino deve fluir para lavar a sua culpa pelo Holocausto?”, questiona Varoufakis

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

11 Setembro 2020

"A rua ou o arame farpado, sob o olhar do cassetete, esta é a política migratória da direita grega", escreve Dimitri Deliolanes, doutor em Ciência Política e correspondente da Televisão Pública Grega na Itália, em artigo publicado por Il Manifesto, 10-09-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

A verdadeira notícia não é que o incêndio estourou, mas que não tenha acontecido mais cedo. Nestes cinco anos, o antigo quartel abandonado de Moria transformou-se num enorme aglomerado de pessoas com mais de 15.000 hóspedes, com picos de 20.000. Os acidentes estavam na ordem do dia: brigas por água, confrontos de gangues, ataques a mulheres sozinhas, violência contra crianças, suicídios. Mas também tendas queimadas por fogões derrubados, revoltas daqueles que esperam há anos, assaltos desesperados a barcos, ataques e incêndios de fascistas gregos e de fora. A catástrofe estava na agenda há algum tempo. No fim, chegou.


Mapa do Mediterrâneo, em destaque: Grécia, Lesbos, Turquia e Síria. Fonte: Google Maps

Moria era um inferno sem culpados. Os pedidos de asilo andam a passos lentos porque a burocracia grega e europeia não aguenta a pressão. Os migrantes são forçados a permanecer em Lesbos devido ao infame acordo entre Merkel e Erdogan. O presidente turco vê os fluxos migratórios como mais uma oportunidade de expandir seu poder e chantagear os europeus. Ele jogou pesado sobre essa carta no ano passado. Em março, ele enviou milhares de imigrantes para atravessar a fronteira grega no rio Evros, mas não deu certo. Mais tarde, ele intensificou os desembarques nas ilhas do Egeu. Apesar das repetidas rejeições da Guarda Costeira grega (sempre negadas), no ano passado, houve mais de 20.000 novas chegadas, aumentando o número de migrantes na Grécia para pouco menos de 100.000 pessoas.

O primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis é o príncipe de uma das dinastias políticas do país, se interessa por economia e vive da comunicação (propaganda) que lhe garante de maneira certeira todas as emissoras do país. O agravamento do problema migratório é a última de suas preocupações. Assim que seu partido de direita (com grupos de extrema direita) Nova Democracia venceu as eleições de julho de 2019, imediatamente aboliu o Ministério da Imigração fundado em sua época por Tsipras. Exceto que depois retornou sobre seus passos e o reinstituiu alguns meses depois, colocando como chefe um cortesão nada brilhante, Notis Mitarakis, e como vice um ex-diplomata, Giorgos Koumoutsakos, homem capaz, mas pouco ouvido no Palácio Maximou, sede do chefe do governo.

O fato é que esses imigrantes realmente não interessam a Mitsotakis, expõem seu governo às críticas da opinião pública internacional e até o fazem perder eleitores. É significativo que em um ano de governo o primeiro-ministro nunca quis visitar nenhuma estrutura de acolhimento para ter uma ideia do problema.

Por outro lado, o Ministro da Ordem Pública Michalis Chrisochoidis havia visitado Moria, apenas para deixar claro que a imigração era um assunto seu. O premiê ficou satisfeito em ser a principal notícia por vários dias nos noticiários por ter "convencido" Merkel a acolher 50 menores desacompanhados.

Ontem de manhã, enquanto o incêndio em Moria ainda não havia sido apagado, Mitsotakis colocou a gravata e ficou em frente de sua câmera favorita. Ele ergueu o dedo para as vítimas, argumentando que o incêndio era o resultado de sua "reação violenta" aos controles sobre a epidemia que teriam causado "desordens amplas", abraçando assim a versão de que o incêndio havia sido causado pelo confronto entre 35 refugiados que deram resultado positivo e outros, espalhada pela polícia no início, mas não confirmada depois. Agora, navios aposentados estão se mudando para Lesbos para abrigar mais de 13.000 pessoas espalhadas pela ilha, incluindo 408 menores desacompanhados. Três companhias policiais foram transferidas para rastreá-los, enquanto a ilha ficará em "estado de emergência" por quatro meses. O suficiente para transferir todos os antigos hóspedes de Moria para os campos localizados no continente, cercados e sob controle policial, dos quais Mitsotakis gostaria de aumentar o número, mas as reações xenófobas de seus constituintes o impedem de fazê-lo. Naqueles que estão em funcionamento já foram levados e trancados os refugiados que obtiveram asilo político e eram forçados a dormir no chão da Praça Viktoria, em Atenas. A rua ou o arame farpado, sob o olhar do cassetete, esta é a política migratória da direita grega.

Leia mais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Lesbos, uma tragédia anunciada. Mas o primeiro-ministro grego acusa as vítimas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU