O gigante pode estar de ressaca: ensaio sobre o uso do álcool e as lutas das esquerdas

Foto: Esquerda on-line

15 Janeiro 2020

O abuso das bebidas é sim um problema da militância de esquerda, dos ativistas de movimentos sociais. Gastamos muito tempo em análises de conjuntura que pregam para convertidos nossos ideais e concepções políticas de esquerda, contudo somos incapazes de pautar em nossas mesas-redondas um tema tão espinhoso quanto presente em nossos quadros, escreve Erahsto Felício, mestre pelo Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Federal da Bahia, em artigo publicado na sua página do Medium, 09-01-2020.

Eis o artigo.

Os movimentos sociais, comunidades, territórios e povos precisam encarar este debate de frente, sem moralismos e sem ilusões: o abuso das bebidas alcoólicas é um mal que atinge nossas frentes de luta. Por ser legal e mais socialmente aceito em nossa sociedade, o abuso do álcool está disseminado, propagandeado em cada filme, série e novela que assistimos, glamourizado pela juventude e, infelizmente, no dia a dia de muitas atividades dos militantes que atuam conosco. Acreditamos que a tarefa política que está diante de nós não permite que possamos brincar com situações sérias e exige que passemos de uma contemplação do problema a uma ação frente a ele. Se queremos avançar, virar o jogo, então precisamos começar a nos reformar e transformar nosso território. Uma observação de partida: não estamos propondo proibir o uso de álcool.

Eu não sou um especialista do tema. Sou educador e militante da Teia dos Povos. Este trabalho é fruto de uma tarefa que foi solicitada no final da Jornada de Agroecologia da Bahia de 2019 (Utinga-BA). Ali, mestre Joelson Ferreira (MST-BA) falou que era preciso que a gente pautasse o uso do álcool nas comunidades e começasse a se criticar pelo abuso. Eu fiz um fio no Twitter debatendo como o álcool parece ajudar no conformismo que sentimos no Brasil diante do cenário de caos. A recepção foi boa e prometi desenvolver como texto. Muita gente pela web me ajudou mandando casos, referências e etc.

Integrantes das comunidades chegam em caminhada para a Jornada de Agroecologia (Foto: Iago Aquino/Agência EQV)

Tenho a impressão que aqui e ali faltará rigor acadêmico embora não seja este o enfoque. Sei que muita gente pode pensar: isto serve para qualquer vício. Mas não. Nenhum é tão presente, banal e avassalador como o álcool em nossa sociedade. Nossa atenção se dará à tarefa militante e à importância deste debate. Estamos pensando o álcool como um empecilho ao avanço das lutas dos movimentos sociais, territórios e organizações. Eu tenho muito acordo com uma fala de mestre Hamilton Borges (Organização Reaja ou Será Morta, Reaja ou será Morto) e é com ela que quero iniciar o debate: A gente acha que este é um debate grave, urgente e importante. Não é um debate moralista, não é uma discussão moral sobre você usar drogas e você usar álcool, é um debate sobre sobrevivência mesmo, sobre potência do corpo, sobre saúde corporal para a gente se preparar para as batalhas que são exigidas de nós.

Dividi o texto em três partes: a primeira pensando porque o álcool é um problema; a segunda, com os dados relativos ao abuso de álcool e a última (muito mais pensada paras as esquerdas) pensando na superação e nos exemplos dos movimentos rebeldes. Chega de papo, vamos pra missão!

O problema da bebida em nossa formação social

Hoje em cada bairro periférico é possível que encontremos mais distribuidoras de cerveja do que bocas de fumo, biqueiras. O mestre da Teia dos Povos, Hamilton Borges explica isso: “se você for ver, em cada bairro que a gente mora, de maioria preta, em cada esquina tem um bar lotado de pessoas jogando todas as suas finanças para aquela indústria”. O álcool é uma droga como outra qualquer, que altera nosso estado de consciência e causa danos à nossa saúde, tendendo a nos levar ao vício. Porém é uma droga legalizada e, justamente por isto, é muito mais acessível para nosso povo. Acreditamos esta cultura de se embriagar e de beber socialmente tem anestesiado nosso povo. Em certa medida, tem ajudado no conformismo que vemos no Brasil diante de tanta destruição de direitos, territórios e corpos pretos e indígenas. As periferias de nosso país — onde estão nossas maiorias — são territórios repletos de abuso de bebida. Lugares onde o Estado não tem chegado com melhorias nas condições de vida, mas tem ofertado a violência policial como regra. É ali também onde estão nossos desempregados e as pessoas que mais vivenciam o racismo cotidiano. Sabemos que “o racismo também impacta a saúde mental. Um estudo feito por pesquisadores da Universidade do Texas mostra que pessoas que sofreram com discriminação estavam sujeitas a desenvolver alcoolismo e depressão”.

Então, em muitos casos, aquelas pessoas que deveriam estar organizadas para enfrentar o racismo estrutural de nossa sociedade, são as que mais estão expostas à possibilidade concreta de sofrerem com alcoolismo. Pois o álcool é utilizado muitas vezes como forma de inibir dores, fome, vergonha, para conseguir dormir, para esquecer a situação de humilhação social em que se vive. A bebida está no nosso processo de formação social. Somos um país formado majoritariamente por pretos diaspóricos e sua vinda para cá possui uma relação com a bebida. Mestre Hamilton nos explica isto:

O álcool tem sido um grande problema para nosso povo desde que a gente chegou aqui sequestrado, chegou aqui para esse país. Não deixou de ser um problema para nosso povo. A gente chegou aqui para fazer a tal da cachaça entre outras coisas, para colher cana de açúcar e a gente foi jogado nisso.

Sabemos pela historiografia da escravidão atlântica que o comércio de aguardente contribuiu para o comércio de africanos escravizados para o Brasil. Luis Felipe Alencastro estima em O Trato dos Viventes que entre os séculos XVIII e XIX, 25% dos africados escravizados em Luanda e trazido ao Brasil foram trocados por cachaça produzida aqui (você pode ler uma resenha do livro aqui). O próprio povo preto produzia compulsoriamente um produto que no continente Africano era trocado por mais povo preto a ser escravizado. Este é um problema, portanto, fundamental, que está na raiz da nossa formação colonial.

Por ser histórico, isto não quer dizer que ele não seja uma situação concreta no presente. Não somos apenas nós, preocupados com debate da desigualdade racial e social do país que entendemos isso. Os analistas do mercado de cerveja, reconhecem claramente que o aumento do número de desempregados é um — ou o principal — dos fatores que fazem crescer o consumo de bebidas na previsão que fizeram para o mercado em 2019. Veja o que eles dizem:

O crescimento em volume de vendas seria creditado principalmente ao aumento de consumo de parte da população que viu sua renda disponível cair ou mesmo enfrentou desemprego nos últimos anos, um dos fatores que contribuiu para a estagnação do volume de vendas.

Para os capitalistas deste setor, a miséria que representa o desemprego é fonte de lucro. Desempregados ou pessoas que perderam parte da renda acabam sendo atraídas para a bebida. Isto atinge profundamente os povos pretos e indígenas, pois são aqueles que mais viram suas condições de sobrevivência despencarem nos últimos anos. A nossa militância está, evidentemente, inserida neste drama social brasileiro. Temos pais, tios, filhos desempregados, dependendo da renda de algum familiar ou mesmo em situação de fome.

E esse ciclo de geração de riqueza para eles e miséria para nós tem seu melhor exemplo no homem mais rico do país (ou segundo mais rico, eles se revezam lá em cima). Jorge Paulo Lemman é o dono da AmBev, principal indústria do ramo de cervejas de nosso país. Em 2017, a revista Forbes estimava que ele ganhava quase quinhentos mil reais por hora. No ano seguinte, a imprensa informava que ele acumulava uma fortuna de 105,9 bilhões de reais. Ele tem se empenhado para construir uma bancada de deputados e senadores favoráveis a temas como privatização e que coloquem o neoliberalismo na ordem do dia. O desmonte de nosso Estado-nacional por políticas neoliberalizantes é que tem ampliado o desemprego e levado mais pessoas para situações de vulnerabilidade social. Sendo absurdamente perversa para os mais pobres, esta situação é fonte de lucro para ele, como já vimos. Na verdade, precisamos ser justos, Racionais MC’s tá falando disso há uma cara:

Os ricos fazem campanha contra as drogas
E falam sobre o poder destrutivo dela
Por outro lado promovem e ganham muito dinheiro
Com o álcool que é vendido na favela

O Brasil já é o terceiro maior produtor de cervejas do mundo, perdendo apenas para China e EUA. Produzimos 13,3 bi de litros de cerveja, segundo o SINDCERV. São R$ 77 bi em faturamento, que corresponde a 2% do PIB nacional. É um grande mercado do qual nós só atuamos como trabalhadores explorados e os principais consumidores. Há uma expansão do mercado de cervejas “artesanais” e, agora, de destilarias “artesanais”. As aspas são para não termos falsas ilusões, já que não são exatamente fruto de trabalho comunitário ou que carreguem na palavra artesanal processos produtivos caseiros ou familiares.

Estas cervejarias não são como, por exemplo, nossos irmãos Payayá (Chapada Diamantina, Bahia) que produzem a partir de seus conhecimentos e experimentos tradicionais. Para ganhar escala na produção, muitas cervejariasartesanais” passam a atuar como cervejarias industriais de escala menor do que são as da AmBev ou Heineken. Esta última cervejaria que entrou no país com mais vigor a partir de 2017, conseguiu com a aquisição do grupo Kirin, ser a segunda maior com 20,7% do mercado já naquele ano. A promessa de investimento desta cervejaria no Brasil em 2019 quase chegou a um bilhão de reais.

E aqui começamos a entrar na violência que estas indústrias possuem em seu encalço. O genocídio de Ruanda — conhecido por muitos a partir do filme Hotel Ruanda — tem um capítulo emblemático envolvendo esta indústria cervejeira holandesa (Heineken). Segundo o livro Heineken in África de Oliver van Beemen, a cervejaria financiou paramilitares no oeste do Congo, usou mulheres na Nigéria e Camboja (Ásia) para promoção da cerveja a partir do uso de seus corpos para assédio e até abuso sexual. Em meio ao genocídio da minoria Tutsi (Ruanda, 1994), a cervejaria seguiu em produção no país enquanto via os genocidas atuarem nos assassinatos embriagados e tendo a cerveja como recompensa depois de um dia de abate. Precisa de mais ódio ao nosso povo preto do que estas histórias?

Eu penso o álcool como uma arma de colonização, de dominação dos povos. Esta é uma história que está bem documentada no processo de ocupação violenta das Américas. O historiador João Azevedo Fernandes resume: “os autores que estudaram o drama do contato, especialmente nas Américas, são unânimes em afirmar a importância do alcoolismo como instância desagregadora das sociedades nativas”. Os povos primários diante de tanta violência se viram também intoxicados com o acesso ao álcool sendo facilitado pelos colonizadores. Em livros como Enterre meu coração na curva do rio é possível perceber como o alcoolismo foi uma ferramenta de tomada de terra indígena no EUA. No Brasil há um e-book publicado pela Fiocruz sobre o caso dos Kaingang no Paraná. Mas talvez um caso mais recente possa nos ajudar a entender. Os Yawanawá estão no Acre e foram colonizados no século passado em meio ao “ciclo da borracha” na região norte. De trabalhadores eventuais dos seringais, logo abandonaram suas roças e passaram a ser escravos de capatazes armados que lhes cobravam mais e mais extração de borracha. Eles acabaram se tornando escravos por dívidas, sujeitos ao alcoolismo, à prostituição e às doenças trazidas pelos seringueiros.

E vejam que a perversidade não veio só. Logo chegaram os missionários protestantes do EUA que lhes ensinaram um modo de vida individualista. Segundo a liderança da Aldeia Nova Esperança, Biraci Júnior Yawanawá: Um nos explorava fisicamente, e o outro nos explorava espiritualmente, impondo sua religião, nos impedindo de usar nossas medicinas e de fazer cerimônias, porque era ‘coisa do demônio’.

Essa é uma dor real. E esse povo teve que renascer em uma busca de reconectar com sua ancestralidade, sua espiritualidade, seus sistemas de curas e, sobretudo, sua terra e seu território, pois eles tinham sido reduzidos a 120 indivíduos no auge da ditadura militar, no início da década de 1970, esquecidos de suas tradições e sofrendo com um altíssimo índice de alcoolismo e uma grave desagregação social, eles estavam virtualmente extintos.

O que nós temos proposto enquanto Teia dos Povos é um levante preto, índio e popular. Temos aí dois exemplos translúcidos de como o álcool devastou, ajudou no genocídio de populações tradicionais na África e aqui. Ele tem devastado famílias de nossos povos, territórios e organizações políticas. Temos o dever de cuidar. Porém será que é possível falar no álcool como expressão deste genocídio que tanto denunciamos hoje?! Para entender isto será fundamental olharmos os números que temos diante de nós.

Conjuntura do abuso do álcool — doses, dados e dores

Há um documento chamado Álcool e a saúde dos brasileiros — panorama 2019 que é fruto do trabalho da CISA (Centro de Formação e Saúde e Álcool). Ali os pesquisadores extraem informações de documentos da OMS, como o Relatório global sobre álcool e saúde, e de documentos do Ministério da Saúde no Brasil. É importante conhecer estes dados, familiarizar-se com eles para que possamos aprofundar o debate em nossas comunidades e organizações.

Há uma notícia boa. O consumo está diminuindo. Porém em ritmo lento. O consumo per capita do mundo é de 6,4l de álcool puro por ano. O Brasil possui um consumo de 7,8l, o que daria algo em torno de uma dose de destilada por semana para cada pessoa. Estes dados são de 2016 e revelam que nós, brasileiros, seguimos bebendo muito. Entre aqueles que bebem, o consumo brasileiro é de 3 doses por dia, 0,7 a mais do que o mundo. Apesar do consumo estar diminuindo de forma geral, o beber abusivo, tem aumentado. Há um indicador chamado BPE (Beber Pesado Episódico) que é quando se bebe uma quantidade excessiva (60 g de álcool puro) em pouco tempo. É o porre, a bebedeira. O Brasil tem ampliado o número de BPE de 2010 para 2016, passando de 12,7% para 19,4%. A expressão “o Brasil nos obriga a beber” ganha aqui uma conotação interessante, pois ampliamos o consumo abusivo no período de crescimento econômico — aumento da renda familiar — e seguimos bebendo muito na crise política e econômica.

Os homens são os maiores abusadores também do álcool. Entre eles 32,6% relataram BPE alguma vez. Já as mulheres, apenas 6,9%. Seja por força de uma cultura machista que libera o corpo do homem e retém o da mulher, seja porque a casa e filhos ainda é responsabilidade da maior parte das mulheres do país, o fato é que a maior parte das mulheres consegue se preservar do consumo abusivo. Porém quando se trata da população de mulheres que bebem, aí o quadro é mais grave. As bebedoras chegam a se aproximar em índices de BPE dos homens, tendo 43,4% de mulheres relatado BPE no último mês da pesquisa contra 55% de homens.

Esse aumento assustador da relação entre BPE das mulheres no geral e das que bebem alerta que elas precisam ter bastante atenção e foco no autocuidado. A culpa do estupro é sempre do estuprador, mas o risco para a mulher amplia com o abuso da bebida. Além do mais quase metade das mulheres que reportaram BPE também relataram relações sexuais desprotegidas. Há estudos em períodos anteriores associando o BPE ao aumento da probabilidade da violência sexual. Há que atacar o machismo, isto está claro, pois, entre outras gravidades, a violência doméstica é um problema de saúde pública. No Rio de Janeiro os casos de violência contra a mulher aumentam em finais de semana e dias de jogos de futebol segundo o Cadastro Nacional de Violência Doméstica. Contudo a associação ao álcool é translúcida nas pesquisas. Algumas delas apontam que há risco duas vezes e meia maior de sofrer violência por companheiro para as mulheres que bebem. Este é um argumento central no debate contra a ideia que: o álcool é um problema de responsabilidade individual. Mas voltaremos a ele mais tarde. Vamos seguir discutindo os dados alarmantes

Um mito que precisa ser erradicado é que o abuso das bebidas é feito por pessoas sem escolaridade. O Panorama 2019 aponta que o consumo abusivo está mais associado à faixa que tem mais anos de escolaridade e, sobretudo, na faixa entre 18 e 24 anos. Juntando lé com cré estamos falando de nossos jovens universitários. E aqui dá para abrir um parêntese para pensar na cultura que associa juvenilidade ao consumo abusivo. O próprio sertanejo “universitário” está repleto de canções associando dor e alegria a bebedeiras. Mas mesmo antes de ser “universitários”, os adolescentes já se violentaram com a bebida. Nosso primeiro consumo se dá em média com 12,5 anos de idade. E 32% de estudantes entre 14 e 18 anos relataram BPE no último ano. A juventude precisa de novos horizontes que mobilizem seu coração e cultive desafios que não sejam autodestrutivos pra si e sua família. É preciso falar da família justamente porque nesta idade, grande parte dos jovens não possuem condições de manutenção de suas vidas, precisando do completo ou parcial apoio dos pais e familiares na sua sobrevivência. É dinheiro da família trabalhadora sendo drenado para violentar corpos e mentes.

Agora vamos colocar a lupa sob os dados do Sistema Único de Saúde e tentar entender como urgiria uma política pública se houvesse governos decentes e não capachos de gente como Lemann. Em 2017 foram 268 mil internações parcialmente atribuídas ao álcool e mais 63 mil totalmente atribuível (mais de 531 mil internações no total). Isso correspondeu a 2,37% de todas as internações no SUS naquele ano. Em 2016 estas internações são relativas a situações de queda (24,3%), acidente de trânsito (10,5%), síndrome de dependência (8,4%), doença hepática alcoólica (6,8%), doença cardíaca isquêmica (6,5%), outros transtornos por uso (4,5%) e violência interpessoal (4,5%).

Estamos falando de um custo de R$ 109,1 milhões para os cofres públicos por conta do abuso do álcool naquele ano. Se o custo em reais não lhe parecer alto, creio que o em vidas lhe parecerá: foram 72,4 mil óbitos parcialmente atribuível ao álcool e 20,5 mil totalmente atribuível (quase 93 mil mortos por álcool). Se compararmos com os 43 mil mortos por arma de fogo no Brasil daquele ano, então podemos dizer que sim, há rastro de uma outra expressão do genocídio que não queremos ver. Como no caso das armas de fogo, os homens são as maiores vítimas do álcool. Foram 51,3 mil óbitos deles e 20,8 mil das mulheres relacionados com o álcool em 2016. Parece que Facção Central estava com a visão há muito tempo: “Nada difere o fabricante de bebida do de arma / Os dois vende velório na caixa, lucram com a sua desgraça”.

Os dados são abundantes e a realidade deve ser muito mais dura. Há muitos casos não notificados de doenças e mortes por álcool. E aqui regresso à minha crítica de que a perspectiva liberal de defender o uso do álcool como se fosse um problema de liberdade individual está equivocado. O fato claro é que a decisão de embriagar-se é individual, mas o risco não é só do bebedor, mas também de pessoas próximas e desconhecidas dele. Quero trazer dois casos aqui para poder ajudar no debate. Vejamos o relato do Correio Braziliense: O primeiro caso de feminicídio no DF foi registrado em 1º de junho de 2015. O policial militar reformado Geovanni Albuquerque Brasil, 49, matou a mulher, Conceição de Maria Lima Martins, 43, a socos. O crime ocorreu no apartamento do casal, no Guará, horas depois de os dois chegarem de um bar. Segundo relatos do acusado, que confessou o crime, e de testemunhas, o casal tinha problemas com álcool. O assassinato teria sido motivado por ciúmes. Após beber e discutir no bar, o casal foi para casa de táxi, por volta das 2h30. Chegando lá, as discussões se intensificaram, e Geovanni agrediu a companheira com murros. Embriagado, o acusado adormeceu, ao lado de Conceição, sem perceber que ela estava morta.

Agora vejamos um caso recente do réveillon deste ano noticiado pela Folha de São Paulo: Um bombeiro bêbado bateu em um carro estacionado matando um bebê de sete dias, na madrugada desta quarta (1º), em Itatiba (84km de SP). (…) Segundo o pai da recém-nascida, o jardineiro Juliano Xavier da Silva, 32 anos, a família passava o Réveillon na casa de um parente e todos estavam na rua para ver a queima de fogos. Por causa do barulho, Gerlaine [mãe] entrou no carro da família, que estava estacionado na rua, com as filhas e aproveitou para amentar a bebê.

No primeiro caso, vítima e violentador abusaram de álcool, sendo o caso tão crítico, que o homem dormiu ao lado do corpo morto de sua companheira. Como não dizer que o abuso do álcool potencializou este feminicídio? Já no segundo caso, o motorista embriagado simplesmente matou uma criança que estava mamando em um carro parado ao lado de sua mãe. Alguns países possuem leis que proíbem o consumo de bebidas em lugares públicos e até cidades brasileiras começam a debater isto. Uma das mais conhecidas é a Lei Anti-botellón de Madrid (2002) que podia apenar com trabalhos sociais jovens bêbados em lugares públicos e propostas da Espanha que podem multar até os pais por consumo alcoólico de adolescentes.

Nestes casos o direito individual de beber precisa ser contido para garantir o direito individual à vida de pessoas próximas ou alheias ao bebedores e às bebedoras. Neste aspecto eu não tenho proposto nestes debates pela internet nada sobre proibicionismo, sobretudo, por maus governos. Porém defendo claramente que as organizações, comunidades, territórios precisam construir normas internas para diminuir o uso e banir o abuso de álcool. As soluções devem ser variadas e não cabe aqui propor modelos — eles não servem para a megadiversidade social e política de nossos povos. Porém é importante pensar que se trata de…

Uma tarefa revolucionária

A partir daqui meu texto está mais interessado no leitor de esquerda, na militância, nas companheiras e companheiros que estão em organização, territórios e movimentos sociais construindo uma outra sociedade possível. Quero debater aqui, sobretudo, a superação do álcool como tarefa política para emancipar nossos movimentos. Eu já mencionei que o álcool foi ferramenta colonial, de atraso de nossa sociedade. Porém eu quero pensá-lo também como obstáculo colocado pela cultura capitalista para uma espécie de letargia nas lutas, de conformismo com a opressão, desagregação de territórios e povos, e até mesmo de dificuldade no processo de formação política de nossos companheiros e nossas companheiras.

Eu vejo o livro Condenados da terra de Frantz Fanon como um manifesto/manual sobre a superação do pacifismo como condição de libertação dos povos colonizados. Creio que este é um papo duro para ter no Brasil, mas também necessário. Ali, Fanon analisa a condição colonial e propõe concretudes revolucionárias no processo de emergência. O álcool aparece como sujeito substantivo da condição colonial, sobretudo, pela formação revolucionária do autor ter se dado no contexto da Frente de Libertação Nacional da Argélia que combateu severamente o uso do álcool inserido pelos colonizadores franceses naquela sociedade — isto ampliou o respeito da população local e ampliou o quadro de membros. O álcool faz parte, como vimos, das ferramentas de desagregação dos povos nativos na América.

No caso africano, Fanon destaca: nos países subdesenvolvidos a juventude dispõe de divertimentos pensados para a juventude dos países capitalistas: romances policiais, máquinas automáticas, fotografias obscenas, literatura pornográfica, filmes proibidos para menores de dezesseis anos e sobretudo álcool. .. No Ocidente, o quadro familiar, a escolarização, o nível de vida relativamente elevado das massas trabalhadoras servem até certo ponto de defesa contra a ação nefasta dêsses divertimentos. Mas num país africano onde o desenvolvimento mental é desigual, onde o choque violento de dois mundos abalou consideravelmente as velhas tradições e desarticulou o universo da percepção, a afetividade do jovem africano e sua sensibilidade estão à mercê das diversas agressões contidas na cultura ocidental. Sua família revela se muitas vêzes incapaz de opor a ,essas violências a estabilidade, a homogeneidade.

Rearticular as percepções e tradições arruínadas pelo colonialismo para construir coesão social de luta não é uma tarefa fácil. Fanon permanece atual ainda hoje. Um estudo realizado por pesquisadora da Universidade de Lisboa aponta que as crianças de São Tomé e Príncipe consomem mais álcool do que leite, mostrando, novamente, que pobreza e fome ampliam o consumo de álcool e, neste caso, a substituição da comida pela bebida alcoólica. Ali a bebida é mais acessível do que comida, a desinformação sobre as consequências do álcool é generalizada e a mobilização do povo para emergir à fome segue fraca. O colonialismo segue sendo um desafio para o povo africano e o álcool uma ferramenta.

No filme Batalha de Argel é possível observar que a retomada da Casbah (bairro dos pobres e muçulmanos de Argel no período colonial) só se deu depois de enfrentar aqueles colonizados que cresceram financeiramente muito envenenando seu próprio povo com as bebidas. Ou seja, foi necessário fechar os estabelecimentos que vendiam bebidas para poder avançar. Penso que este seja lugar comum na luta revolucionária e até não-revolucionária-mas-séria. Ela não tem que ver apenas com o aspecto de desenvolvimento de um novo ser humano, é também sobre dar materialidade às tarefas políticas que temos à nossa frente. O revolucionário de Guiné-Bissau e Cabo Verde Amílcar Cabral aborda o tema ao falar da questão da segurança. É estranho que movimentos sociais que pautem autodefesa não discutam com severidade a questão alcoólica. Não há aqui moralismo algum. É até uma questão técnica mesmo.

Vejamos o que nos fala Cabral no livro Unidade e luta: não é proibido beber, toda a gente pode beber, se não for muçulmano, mas na medida. Mas na medida é difícil, porque cada um tem a sua barriga. Devemos evitar a bebida ao máximo e um agente de segurança deve estar sempre pronto para condenar abertamente, seja comandante, dirigente do Partido, mesmo o Secretário Geral, com todo o respeito que tenha por eles; mas se se embebeda, prende-o. Isto é que é segurança. ‘Pára, porque estás a estragar o nosso trabalho’, isso é que é segurança de fato. Não aquela segurança que, para agradar ao responsável, arranja- lhe bebida e ainda faz paródia com ele. Esse não é segurança, esse é cúmplice na destruição da nossa luta.

É preciso, portanto, ter clareza mesmo ao abordar o tema. Há aspectos filosóficos, de boa conduta e moral. Há, por outro lado, questão essencialmente ligada às tarefas políticas que cada um realiza. Quanto mais subimos o tom político, revolucionário, é preciso crescer a atenção à nossa segurança, evitar construir festas cujo ator principal é o álcool e que expõe lideranças ao risco da violência. Estamos pouco disciplinados para desconfiar que a violência vem gratuitamente e sem aviso. Mas é 2020, o autoritarismo violento do Brasil (por que não, fascismo?) é uma realidade praticada por grupos organizados (como os integralistas ou milicianos), por sujeitos desorganizados, porém armados, por corporações militares, etc. Este é um aspecto prático, mas há o aspecto filosófico, emancipatório da classe.

Nas memórias de Clara Zetkin sobre Vladmir Lenin, o grande líder da Revolução Russa, ela menciona palavras dele sobre o assunto: A revolução exige concentração, tensão das forças, tanto das massas, como dos indivíduos. (…)O proletariado é uma classe em ascensão. Não necessita inebriar-se, atordoar-se, excitar-se. Não precisa embriagar-se nem com excessos sexuais, nem com álcool. Não deve olvidar, e não olvidará a baixeza, a lama e a barbárie do capitalismo. Haure seus maiores impulsos de luta na situação de sua classe e no ideal comunista. O que lhe é necessário é clareza e sempre clareza. Assim, repito, nada de fraqueza, nada de desperdício ou destruição de forças. Dominar-se, disciplinar os próprios atos não é escravidão, e é igualmente necessário no amor.

Lenin interpretava que os czares russos usavam a bebida como forma de alienação do povo pobre para aceitar a dominação de classe. A história da Revolução Russa foi da tentativa de acabar com a produção em larga escala da bebida até a manutenção da política alcoólica do antigo czar, só que agora na mão do governo stalinista. Este foi debate amplo dentro desta tradição política. Trotsky considerava que uma das tarefas da revolução era “desenvolver, reforçar, organizar, conduzir com êxito uma política anti-alcoólica no país do trabalho renascente”.

Ele acreditava, inclusive, que o cinema poderia ajudar no combate ao abuso da bebida, pois inseria aí uma nova cultura, nova forma de lazer para um povo que só tinha no álcool sua diversão — nas palavras dele: “o cinema rivaliza com os bares”. Pensava que tinha liquidado o alcoolismo na nascente União Soviética por conta da suspensão do álcool em meio à Primeira Guerra Mundial e via que a luta do governo contra o alcoolismo era “ao mesmo tempo cultural, educativa e coerciva”. As palavras do revolucionário soviético dimensionam os dois aspectos, o prático, mas também o do surgimento de um novo proletariado, que emerge do vício que estava submetido no capitalismo.

Há outros exemplos na tradição revolucionária marxista. O caso da guerrilha do Exército Popular de Libertação no Nepal (2001) é emblemática. Enfrentando uma monarquia com exército apoiado por EUA e Índia, a guerrilha construiu seu exército expandindo a área sem produção e consumo de álcool. A guerrilha fez uma grande restrição à bebida num país assolado pelo alcoolismo. Também ali, os revolucionário denunciavam que o álcool funcionava como espécie de arma da monarquia contra o povo e suas demandas de transformação social.

Fora da tradição marxista, conhecemos uma revolução que aboliu o uso da bebida e tem muitos exemplos de sucesso na sua história. Bom, estamos falando do Exército Zapatista de Libertação Nacional no México e sua história de construção de autonomia que já dura 26 anos.

A história do EZLN é uma história da superação do álcool pelas comunidades indígenas rebeldes. Os revolucionários que se refugiaram na selva Lacandona no pós-1968 não tinham condições de mobilização popular. As mulheres subalternizadas por homens indígenas alcoólatras, endividados nas mãos de fazendeiros. Todo trabalho de interlocução começou para que as mulheres — já mobilizadas — convencessem seus maridos a largar o álcool e se aproximar das lutas. Narrando a história de Antonia, uma zapatista, uma revista mexicana conta: ‘Meu marido tinha carreira alcoólica’ e nas comunidades autônomas zapatistas as drogas e o álcool estão proibidas. ‘O pouco dinheiro que ganhava, enchia a cara. A nós, nos deixava com fome’. Ela só tinha que cuidar dos sete filhos que tiveram, atender as tarefas domésticas, semear milho e suportar os maus-tratos de um homem embrutecido pelo álcool.

Parte do sucesso da luta zapatista se dá na construção de um novo consenso comunal que dialoga sobre a cosmovisão indígena e a necessidade de transformação da sociedade. Esta visão está clara na militância que possui a experiência zapatista como inspiração. Um dos territórios que mais sofreu com a violência de Estado no governo Dilma foi a Serra do Padeiro dos Tupinambá (sul da Bahia). Eles enfrentaram guarda nacional, polícia militar e federal e uma campanha sórdida de perseguição, violência paramilitar e etc. A liderança, Cacique Babau (Rosival Ferreira Silva) foi preso algumas vezes e no início do ano passado descobriu-se um plano de militares e fazendeiros bolsonaristas para matá-lo e difamar seu povo. O plano era fazer blitz e implantar drogas em carro de familiares do cacique, trazendo imprensa e fazendo prisão em flagrante como se fossem traficantes. A imprensa deu boa cobertura sobre o caso e à Folha de São Paulo, Babau disse: Nós somos contra o tráfico de drogas e abrimos a aldeia para a Polícia Federal investigar se tem um só índio envolvido. Não bebemos, se tem dez pessoas que fumam é muito, e é cigarro comum.

A defesa do território tem sido a postura abstêmia. Tal como a história dos Black Panters que tiveram heroína e outras drogas colocadas em seus territórios de propósito para enfraquecer a base social do movimento como também para acusar suas lideranças de tráfico, esta tática é aventada para impedir o domínio do território pelos tupinambá. Babau conta que quando o governo Dilma o chamou para negociar a assinatura da portaria declaratória da Terra Indígena Tupinambá, tentaram repartir o território alegando que numa dada região havia indígenas que traficavam drogas. Babau não aceitou só demarcar a área da Serra do Padeiro, asseverava que o branco não perde direito ou suas empresas quando são flagrados como traficantes ou usuários de drogas. Ali ficou claro: o caminho que o Estado encontrou para impedir o direito ao território passaria pela questão das drogas. Manter os guerreiros e as guerreiras sóbrios era condição de existência!

Não beber tem sido uma defesa de muitas comunidades tradicionais que se colocam numa luta mais poderosa em defesa da terra e do território. Isto não é uma situação generalizada no Brasil, mas o debate tem ampliado horizontes. Um dos principais assentamentos do MST na Bahia e responsável pela construção da Jornada de Agroecologia da Bahia, o Assentamento Terra Vista é hoje um exemplo em produtividade e inovação. Fundador da Teia dos Povos, o assentamento passou por profunda reflexão sobre a bebida, proibindo a abertura de bares dentro do território (os últimos foram fechados em 2017) e restringindo o consumo em área coletiva do assentamento — só pode mediante informe prévio e anuência da coordenação. A decisão se deu depois de muitos conflitos envolvendo assentados, casos de violência e etc. Esta comunidade está passando por uma evidente autocrítica neste aspecto. Suas lideranças outrora estavam envolvidas com o consumo abusivo do álcool, mas viram como isso machucou assentados e familiares. O que temos agora é um novo caminho a ser percorrido.

O abuso de álcool é um problema no processo de formação política da militância dos movimentos sociais. Aqui e ali perdemos lideranças, bons quadros por excessos cometidos no uso e até pelo alcoolismo — a história de Huey Newton é bastante simbólica, neste caso. A luta política precisa de recursos, de disciplina e de congregação. Mestre Hamilton explica como a bebida tem diminuído a capacidade de luta das organizações: Eu tenho acompanhado várias ações e manifestações do povo negro, a gente às vezes se queixa da dificuldade de finanças, das dificuldades de ter dinheiro para erguer uma parede, para fazer uma viagem, mas a cada atividade que a gente faz, à noite quando encerra a atividade, a gente vai para um bar. Invariavelmente este bar não pertence à nossa organização, aí a gente vai para esse bar e joga todo o dinheiro que poderia comprar livro, que poderia comprar um carro se juntasse todo dinheiro dos militantes que se gasta num bar durante seis meses, a gente poderia comprar uma Kombi que poderia circular entre Ilhéus e Salvador, entre Itacaré e a Ilha de Maré. Então a gente não está falando de um debate menor, a gente tá falando de um debate importante para a gente enfrentar.

Por outro lado, estes três elementos que abordei — recursos, disciplina e congregação — essenciais para a luta são três presentes no segmento político que mais cresce no Brasil hoje: as comunidades evangélicas. As igrejas, apresentadas por parte da esquerda como responsáveis pela ascensão do autoritarismo e conservadorismo no país estão formando quadros, ocupando espaços políticos de relevo na república e construindo um trabalho de base em áreas abandonadas pela esquerda.

Não há como negar o trabalho impactante que estas comunidades evangélicas têm feito. Mas numa periferia crescente com o contínuo êxodo rural, o Pastor Ariovaldo Ramos chama atenção que são estas comunidades evangélicas que dão um lugar social, uma referência a este povo pobre. Em suas palavras:

Quando ele entra na comunidade e é acolhido como um ser humano, é chamado pelo nome, recebe palavras que o dignificam e deixa de ser um sujeito perdido na cidade para ser um potencial de Deus, isso recupera a dignidade dele. Agora não é mais alguém da drogadição, do alcoolismo: agora tem uma comunidade, tem gente que ora por ele, gente que torce por ele, gente que o abraça.

Se queremos avançar na luta, reconquistar o povo, formar quadros e enfrentar os muitos latifúndios existentes, precisamos reconhecer que temos um papel no cuidado de nosso povo. Ser radical, nas ideias de Marx, tem a ver com retomar o radical, a essência da questão. E a essência do humano é o próprio humano. Não podemos construir movimentos, organizações, territórios que não cuidem de nosso povo. A militância é a condição de existência da luta. E se temos companheiros, companheiras, sofrendo por alcoolismo, seu ou de seus familiares, então é preciso incorporar este debate em nossa atuação. Que assentamento, organização política, território quilombola ou indígena não sofre com alcoolismo? Quem não conhece um caso de abuso de álcool? Mestre Hamilton Borges explica como eles têm trabalhado na Reaja: Agora muitos militantes da organização, assim como da maioria dos movimentos sociais, são acometidas por uma certa doença do abuso de álcool e de outros tipos de drogas. O que a gente faz é fazer um diálogo com a militância da gente para que as pessoas busquem ajudar para diminuírem os efeitos deste abuso e pararem com este abuso.

O abuso das bebidas é sim um problema da militância de esquerda, dos ativistas de movimentos sociais. Gastamos muito tempo em análises de conjuntura que pregam para convertidos nossos ideais e concepções políticas de esquerda, contudo somos incapazes de pautar em nossas mesas-redondas um tema tão espinhoso quanto presente em nossos quadros. Não é possível seguir não pautando este tema, ignorando estas dores. Estamos falando de trilhar um caminho novo para o ser humano em luta. Reinventar-se eticamente para seguir firme em nossos propósitos. É dar passos internos enquanto avançamos nas lutas externamente. Tal como Mestre Joelson Ferreira sugeriu para a Teia, penso que o abuso do álcool, o acolhimento aos alcoólatras e o cuidado com a relação da juventude com a bebida precisa ser pauta constante dos movimentos sociais, territórios, povos e organizações políticas. Enfrentar esta dor é ter mais gente e gente mais forte para seguir lutando por terra, território e soberania.

 

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