Realizações e desafios 40 anos depois da primeira ordenação feminina

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06 Dezembro 2016

Quatro décadas depois que as primeiras mulheres foram ordenadas na Igreja Anglicana do Canadá, muito resta ainda a ser feito, dizem as pastoras que confessam ter lutado conta tudo: desde pagamentos desiguais a toques impróprios por alguns paroquianos.

Entre 28 de novembro e 1º de dezembro, 40 pastoras da Igreja Anglicana do Canadá estiveram reunidas na St. James Anglican Church para o congresso “Como desmascarar o feminino”, evento que marcou o 40º aniversário da ordenação feminina na Igreja. Para as participantes, o congresso foi uma ocasião para celebrar as realizações feitas no desenvolvimento dos direitos da mulher assim como para conscientizar-se dos desafios que ainda existem.

A reportagem é de Tali Folkins, publicada por Anglican Journal, 02-12-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

“O progresso que tivemos nestes anos fez a vida significativamente melhor do que aquela que nossas mães e avós tiveram. Mas também este progresso tem sido um caminho bem difícil de se trilhar”, disse a cônega Judy Rois, diretora executiva da Anglican Foundation, no discurso de abertura do evento. “Todas nós sabemos da tensão de um colarinho branco ao redor do pescoço, e todas nós sabemos as consequências e dores da oposição. Mas graças a Deus nós também sabemos do espírito indomável da esperança”.

“Temos muito a nos alegrar aqui no Canadá”, disse Linda Nicholls, instalada como Bispa de Huron no sábado anterior, em sua fala inicial apresentando uma oficina a ser realizada no congresso. “Isso não significa que chegamos ao ponto final, mas sim que estamos no caminho”.

Perguntadas sobre o que consideram ser os próximos desafios das mulheres ordenadas na igreja, algumas observaram que as pastoras ainda recebem um pagamento menor do que as contrapartes masculinas.

Por exemplo, disse a Rev. Trish McCarthy, da All Saints Anglican Church em Regina, muitas das pessoas ordenadas ao sacerdócio são mulheres. Elas são geralmente compensadas pelas milhagens e têm direito a outros benefícios, mas, por outro lado, seus cargos não são remunerados.

“Na região oeste, essa prática é dominante”, declarou McCarthy. “Temos um grande problema de igualdade nos pagamentos”.

Uma participante disse que as pastoras são mais propensas a trabalhar em paróquias pequenas em tempo parcial; uma outra disse que estas mulheres, ordenadas ao sacerdócio, tendem a levar prejuízos por serem menos inclinadas a negociar salários do que os homens.

Numa breve entrevista ao Anglican Journal, Nicholls manifestou preocupações semelhantes.

“Eu acho que algumas das mulheres realmente se encontram nessa situação em certos lugares. Há a experiência de mulheres servindo em comunidades menores, e mais mulheres estão desempenhando funções não remuneradas”, falou. “Isso também é verdade para as comunidades indígenas e outras. Portanto temos muito trabalho a fazer para termos igualdade nesse tipo de situação”.

Segundo algumas das participantes, muitas paróquias no Canadá ainda não aceitam pastoras. A Rev. Karen Laldin, da St. Andrew’s Church, disse que quase abandonou a Igreja Anglicana depois de uma “experiência terrível”, onde atuou como pastora em uma paróquia particularmente resistente na década de 1990.

“Eles eram bem francos sobre o tema: queriam um homem”, disse Laldin. Depois de trabalhar na paróquia por cinco anos, ela decidiu parar. O anúncio de sua partida, segundo nos contou, foi recebido com júbilo por alguns fiéis locais.

“Houve aplausos e comentários como ‘agora vamos receber um homem’”, disse.

O que aconteceu foi que Laldin não foi procedida por um homem, mas por várias pastoras para, só depois, um pastor finalmente chegar.

“Deus, em sua sabedoria infinita, tem um senso de humor incrível”, falou Laldin.

Nicholls, que, como Rois, foi ordenada em 1985, contou às participantes do congresso que havia sido poupada do comportamento “absolutamente atroz” de algumas pessoas para com as primeiras pastoras, tais como sair no meio de um sermão. Mas, mesmo assim, ela teve de suportar práticas de sexismo.

“Coisas como piadas de religiosos sobre o que estávamos vestindo”, disse Nicholls. “Comentários sexistas. Abraços impróprios”, disse ela com estremecimento.

No entanto, Nicholls advertiu as demais presentes no evento para não focaram na igualdade de gênero. Como pastoras, devemos tentar resolver os conflitos “de um modo que não torne a questão de gênero num campo de batalha, mas que faça do Evangelho o lugar a que estamos indo”.

“Eu acho que isto é o que queremos em última instância: queremos uma igreja onde o Evangelho esteja no centro, não uma igreja onde as mulheres venceram”, disse.

Também em entrevista, Rois disse que levaria bastante tempo ainda até que a igreja alcance uma igualdade plena de gênero.

“Penso que muita gente ainda não concorda que uma mulher pode se pôr no lugar de Cristo – que Cristo tive 12 discípulos, e todos eram homens”, disse Rois. “Penso que as pessoas ainda se sentem um pouco mais confortáveis se um homem estiver no comando (...) As mulheres podem fazer isso e podem ser tão capazes quanto, mas muita gente não quer dar essa chance”.

Rois é também uma das autoras de um estudo publicado em 2013, intitulado “Why is the Stained Glass Window a Stained Glass Ceiling? Organizational Perspectives on Female Bishops in the Anglican Communion” (Por que os vitrais são um teto de vidro? Perspectivas organizacionais das bispas na Comunhão Anglicana, em tradução livre). O estudo explora como o preconceito de gênero tem funcionado contra a ideia de pastoras se tornarem bispas.

Segundo as estatísticas da Igreja Anglicana do Canadá, 406 de 1.139 clérigos ativos (35,5%) são mulheres; entre os clérigos aposentados, as mulheres somam 369 de 1.750 (ou 21,1%).

A primeira ordenação de mulheres ao sacerdócio na Igreja Anglicana do Canadá ocorreu em 1976, depois que o Sínodo Geral aprovou uma resolução que autorizava a ordenação de mulheres em 1975. Seis foram ordenadas em quatro dioceses: Cariboo, Huron, Niagara e Nova Westminster. Em 1991, todas as dioceses canadenses haviam permitido a ordenação feminina.

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