01 Novembro 2025
"Ao final deste processo, ao qual tive o privilégio de contribuir com a análise Teológica para construção de uma nova práxis diocesana, permanece a convicção de que a evangelização é sempre fruto da escuta e do encontro, e que o Plano de Ação Evangelizadora (PAE) será fecundo na medida em que continuar a ser vivido em chave sinodal — aberto, participativo e movido pela esperança de uma Igreja que caminha unida, a serviço da vida e do Reino de Deus", escreve Alzirinha Souza.
Alzirinha Souza é leiga, doutora em Teologia pela Université Catholique de Louvain (Bélgica). É mestre em Teologia pela Universidade San Dámaso (Madri). É graduada em Teologia pela PUC-SP. É professora e pesquisadora do Instituto São Paulo de Ensino Superior ITESP, assessora da Comissão do Laicato CNBB e coordenadora do Observatório Eclesial Brasil.
Eis o artigo.
O Sínodo sobre a Sinodalidade encontra-se em uma etapa crucial de aprofundamento e concretização das práxis e experiências Sinodais nas Igrejas locais. É neste sentido e visando concretizar esta etapa do processo Sinodal que a Diocese de Palmas-Francisco Beltrão (PR), realizou a construção e aprovação do Plano de Ação Evangelizadora (PAE) referente ao período de 2026-2030 neste último dia 18 de outubro em sua Assembleia Diocesana, após três anos intensos processos de escuta, encontro e discernimento comunitário, envolvendo toda a Igreja diocesana — cristãos leigos e leigas, religiosos e religiosas, ministros ordenados, movimentos, pastorais e serviços de evangelização, reunidos e representados no Conselho Diocesano de Pastoral.
Iluminada pelo Espírito do Sínodo, a Diocese caminha firmemente para que a sua práxis evangelizadora seja expressão viva de uma Igreja em saída, sinodal e missionária, comprometida com o anúncio do Evangelho e com a transformação da realidade à luz do Reino de Deus. Essa experiência confirma que o caminho sinodal é o próprio caminho da Igreja que aprende a ouvir, a dialogar e a discernir em conjunto. Neste contexto meu trabalho, como assessora teológica, assumiu o papel de favorecer processos de comunhão e de organização pastoral, mais do que oferecer respostas prontas. Foi um serviço ao discernimento coletivo, um acompanhamento no amadurecimento das decisões e na construção de consensos orientados pela fé e pelo amor ao Evangelho, que associado ao fazer teológico, resultou na escritura do texto do PAE.
Em conjunto e de forma processual o caminho realizado permitiu redescobrir a identidade missionária da Igreja local e fortalecer os laços que unem as diversas expressões do Povo de Deus. A análise dos dados da Escuta, demonstrou que as comunidades expressaram com sinceridade suas alegrias e desafios, suas esperanças e inquietações diante das transformações sociais, culturais e religiosas do nosso tempo, desvelando uma fotografia concreta da realidade local.
O mais importante, contudo, é perceber que a prática Sinodal permitiu gerar um PAE, que não foi somente um exercício técnico ou administrativo; antes, foi um verdadeiro exercício de Teologia Prática converge o espiritual e pastoral, no qual se buscou compreender o que o Espírito Santo diz à Igreja de Palmas-Francisco Beltrão. O resultado é um Plano que nasce do chão da vida, das comunidades e das experiências pastorais concretas, orientado para uma Igreja que se faz próxima, acolhedora, missionária e profética.
Finalizada esta etapa, seguimos com o significativo desafio da recepção e implementação do Plano de Ação Evangelizadora (PAE), onde as letras deverão sair do papel e ganhar a realidade e o sonho pastoral se transforma em compromisso concreto com a missão. Esta etapa representa o amadurecimento da caminhada sinodal, pois é na ação que se verifica a autenticidade do caminho percorrido.
As ações e prioridades pastorais indicadas no PAE não surgiram de decisões isoladas, mas brotaram das demandas e clamores identificados durante o processo de escuta do Povo de Deus. Foram ouvidos os “Grupo Focais”, focais propostos pelo Sínodo sobre a Sinodalidade — clero e religiosos/as, adolescentes, jovens, idosos, educadores, profissionais da imprensa e pessoas com deficiência —, cujas contribuições expressaram a vitalidade e a diversidade de dons presentes na Diocese. Mergulhando em águas mais profundas e com o desejo de construir um Plano verdadeiramente encarnado na realidade local, a escuta foi ampliada para incluir também os chamados “Grupos de Fronteira” — realidades humanas e sociais que desafiam a pastoral e interpelam a Igreja a ser cada vez mais acolhedora, dialogal e samaritana. Entre essas realidades destacam-se: casais em nova união e novas formas de família, novas tecnologias e cultura digital, migração, ecologia integral, ecumenismo e diálogo inter-religioso, recomeçantes na fé e a articulação entre fé e política à luz da metodologia da práxis reversa, é dizer, a partir da realidade se construirão os caminhos de trabalhos com os Grupos de Fronteira, que representam espaços onde a Igreja é chamada a testemunhar o Evangelho com proximidade, escuta e misericórdia.
Para garantir a continuidade, unidade e corresponsabilidade na execução do PAE, a Diocese está se organizando através da criação das Comissões Diocesanas para os Grupos Focais e de Fronteira. Estas Comissões em conjunto com as Pastorais, os Movimentos e todos os Serviços de evangelização existentes na Diocese, terão a missão de animar, acompanhar e formar o conjunto das comunidades, paróquias e organismos diocesanos, promovendo a comunhão entre os diversos serviços e garantindo que cada ação evangelizadora se realize de modo articulado e participativo.
Assim, a dinâmica de implementação do Plano não se reduz a aplicar projetos prontos, mas visa formar e envolver todos os batizados na missão comum da Igreja. Para tanto, será essencial o respeito ao cronograma proposto que toca a organização prévia, formação, para chegar à concretização propriamente dita. É um processo formativo e pastoral, que convida cada discípulo missionário a se reconhecer sujeito ativo da evangelização.
Ao final deste processo, ao qual tive o privilégio de contribuir com a análise Teológica para construção de uma nova práxis diocesana, permanece a convicção de que a evangelização é sempre fruto da escuta e do encontro, e que o Plano de Ação Evangelizadora (PAE) será fecundo na medida em que continuar a ser vivido em chave sinodal — aberto, participativo e movido pela esperança de uma Igreja que caminha unida, a serviço da vida e do Reino de Deus.
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