O objetivo da hospitalidade eucarística

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03 Março 2021

Margherita Ricciuti, uma napolitana que se mudou para Turim, órfã ainda criança de ambos os pais, encontrou uma segunda mãe em uma freira romana (Irmã Cândida) e um segundo pai no padre piemontês (Dom Luciano). Mulher de fé e corajosa, esposa de um operário ateu amante da justiça (juntos por 52 anos), teve uma vida muito movimentada e ocupou diversos cargos, atuando na área social e da saúde, especialmente no campo da psicoterapia (graduação em Pádua). Em 2007 ela se juntou à Igreja Valdense. Ela tem 75 anos e diz: “É bom envelhecer, inclusive porque você pode ver a sua vida com um olhar mais amplo e descobrir o seu sentido”.

Pietro Urciuoli, nascido em Avellino, em 1964, formou-se em Engenharia e Filosofia, casado e pai de três filhos, trabalha como engenheiro para uma administração central do Estado. Católico, faz parte da Ordem Franciscana Secular e é membro do Secretariado de Atividades Ecumênicas (SAE). Ele é o autor do livro Francesco di Assisi, Giullare, non Trovatore (Ediz. Messaggero, Pádua, 2009).

A entrevista com Margherita Ricciuti e Pietro Urcioli é de Paolo Ricca, publicada por Riforma, 02-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis a entrevista.

 

Vocês dois não são parentes, vocês moram a 800 km de distância, até recentemente nem se conheciam. O que os fez se encontrarem?

Nos conhecemos em Assis, na sessão de verão do Secretariado de Atividades Ecumênicas (Sae) e foi aí que surgiu a ideia da Newsletter Hospitalidade Eucarística que desenvolvemos juntos desde outubro de 2018; nós dois, em Torino e Avellino, fazemos parte de um grupo ecumênico que pratica a Hospitalidade Eucarística, que geralmente "se faz mas não se fala", sendo proibida ou impopular para muitas igrejas, decidimos criar um espaço onde se possa falar livremente sobre isso trocando experiências, projetos, esperanças. Nos últimos anos, embora tenhamos nos encontrado apenas duas vezes, nos tornamos amigos e trabalhamos juntos por uma ideia comum.

Mesmo trabalhando juntos pelo ecumenismo, suas histórias são muito diferentes...

Margherita: Eu nasci para Nápoles em 1946 em uma família católica tradicional, e vivo em Turim desde 1964. Tendo ficado órfã quando criança, tive outros dois “pais” geniais, para dizer o mínimo: a Irmã Cândida em Roma e um padre, Dom Luciano, em Turim; é também em um confronto aberto com ele que amadureceu minha escolha pela Igreja valdense, implementada em 2007, quando negaram os funerais religiosos a Welby (um caso de eutanásia, ndt). Meu companheiro era um marxista ateu, mas nos 52 anos de convivência sempre viveu como um "verdadeiro" cristão. Nossa filha escolheu um matrimônio católico diferente de mim, que escolhi um casamento civil; uma de minhas netas, batizada aos nove anos, é católica; a outra se define como "agnóstica" e ainda quer pensar a respeito! Do ponto de vista religioso, a minha família é, portanto, bastante diversificada!

Pietro: Nasci em Avellino em 1964 e na adolescência entrei para a Juventude Franciscana. Cresci num contexto de fé muito exigente (catequese, voluntariado, vida paroquial e diocesana, etc.) mas também, por assim dizer, muito “tranquilo”, longe das tensões que atravessaram a Igreja Católica nos anos pós-conciliares; no ambiente que frequentava não se falava do Isolotto ou do Franzoni ... Nos anos da minha maturidade senti a necessidade de rever várias coisas e estudei mais a fundo a figura de Francisco de Assis; ler a biografia do pastor Paul Sabatier mudou minha vida, me abrindo para o mundo protestante. O conhecimento de pessoas particularmente iluminadas no ambiente ecumênico fez o resto. E hoje gosto de pensar que sou um pouco como Sabatier, um homem de fronteira; católico, claro, mas sem exagerar!

Por que em vossa vida cristã colocaram o ecumenismo em primeiro lugar?

Porque acreditamos que apenas o ecumenismo possa, com o tempo, “salvar” a mensagem cristã, mais necessária do que nunca no mundo. É hora de perdoar um ao outro, sabendo que diferentes pessoas e pensamentos existem mesmo dentro da mesma igreja; precisamos reunir os carismas de todos os cristãos que, mesmo na atual pluralidade das igrejas, desejam caminhar juntos olhando para a frente, mesmo que o passado seja uma experiência trágica que deve ser lembrada para que não se repita.

De acordo com o apóstolo Paulo, a fé cristã é "uma só" (Efésios 4,5). Em sua opinião, considerando o estado atual da cristandade, essa afirmação ainda é verdadeira?

“Só há um Senhor, uma só fé, só um batismo”, diz Paulo na sua carta, e se cremos que a fé é isso, com certeza ainda é uma só! A fé, como também nos lembrou o lockdown, leva-nos de volta ao que é essencial, eliminando o supérfluo.

A multiplicidade de igrejas cristãs é um bem ou um mal?

As Escrituras nos dizem que mesmo nas origens do cristianismo havia comunidades com práticas muito diferentes. Unidade não é uniformidade, mas amizade e colaboração entre todos os cristãos. No entanto, isso entra em contraste com as dinâmicas de poder internas das instituições. Aceitar a multiplicidade de Igrejas não é apenas teologicamente correto, mas relativiza o peso das instituições, em benefício da fraternidade dos cristãos.

Vocês publicam mensalmente a Newsletter Hospitalidade Eucarística e recentemente editaram juntos um livro publicado pela Claudiana sobre o mesmo tema. Por que vocês consideram tão importante?

Nós dois temos os mesmos objetivos: ampliar o debate sobre a hospitalidade eucarística e desenvolver as problemáticas de caráter litúrgico, pastoral, doutrinal, normativo, etc. através do confronto entre as diferentes confissões, colocando no centro a pessoa de Jesus, “coração” do cristianismo e do ecumenismo.

Praticar a hospitalidade eucarística enquanto as igrejas ainda estão divididas não é um pouco colocar a carroça na frente dos bois?

Depende dos pontos de vista. Do ponto de vista institucional, certamente é; mas se enfrentamos o problema olhando também para a base, não o é absolutamente, porque responde a uma exigência precisa; basta pensar em casais inter-religiosos.

Este papado despertou muitas esperanças ecumênicas, mas não houve mudanças reais até agora. Vocês veem as coisas de forma diferente?

Pensamos de forma diferente sobre Bergoglio.

Margherita: Acredito que o Papa tem um verdadeiro desejo ecumênico, mas também tem a consciência de que é antes de tudo um “pastor” que deve indicar o caminho levando em conta o passo do rebanho que está atrás dele; e não é possível criticá-lo por suas ideias, que são aquelas de um papa católico.

Pietro: Após um período de entusiasmo inicial, estou um pouco decepcionado. Algumas de suas posições (sobre o papel da mulher, sobre o celibato etc.) estão me convencendo de que seu desejo de mudança é mais aparente do que concreto; ele é basicamente um tradicionalista. E não espero grandes novidades nem mesmo do lado ecumênico.

Qual é o maior obstáculo para a unidade cristã?

Os obstáculos são muitos e transversais: as Igrejas como instituições resistem ao caminho ecumênico por questões de prestígio e poder; a base ainda mostra uma forte relutância em participar ativamente dos processos de mudança e, de formas diversas, ainda está fortemente condicionada pelo seu passado.

 

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