“Estamos diante de um tsunami. Os abusos de menores são um sacrilégio”, afirma especialista da Universidade Gregoriana

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20 Outubro 2018

A cultura da proteção de menores na Igreja vai exigindo cada vez mais urgência devido aos escândalos de abusos sexuais que explodiram desde os EUA até a Austrália. Por isso, o Instituto Teológico de Vida Religiosa de Madrid organizou, na noite dessa quinta-feira, uma conversa de Maria Rosaura Gonzales Casas, stj – membro do Centro de Proteção do Menor da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma – para conscientizar sobre essa realidade e sobre como fazer da Igreja um lugar mais seguro para os mais jovens.

A reportagem é de Cameron Doody, publicado por Religión Digital, 19-10-2018. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Os dados que aportou a irmã teresiana, desde Roma na videoconferência, produzem calafrios. Ainda que já nos pareçam demasiados, as estatísticas que manejam as autoridades dos Estados Unidos, por exemplo, indicam que somente de 4% a 9% dos abusos são denunciados. A cifra real de vítimas pode ser tão alta, algo como de uma a cada cinco meninas e um a cada vinte meninos. O problema não é somente as agressões pessoais, como apontou a religiosa. Também a cultura da pornografia está ameaçando os jovens, e pode ser considerada como um abuso sexual. “É uma emergência”, os abusos e a sexualização de crianças “que está consumada no silêncio e na solidão”, denunciou. Simplesmente, “[assim] não pode ser”.

Mas em que se constitui exatamente um abuso, e que consequências traz? González Casas utilizou palavras como “violência”, “transgressão” ou “trauma”. O abuso como fenômeno que “desborda” e “afeta a totalidade da pessoa humana”. Em suma, o abuso “atinge o mais profundo do ser humano, na sua identidade: seu eu”. Tanto no nível corporal, pela soma da experiência, como a nível psicossocial, como uma sensação de impotência, baixa autoestima ou desconexão afetiva. E também a nível psicoespiritual, como sentimento de abandono de Deus. “Por isso é um sacrilégio”, ressaltou a religiosa. “É um crime religioso”.

E como se pode ajudar melhor um abusado? Primeiro, tem que entender que a agressão traz um processo de dor que dura toda a vida. A vítima tem que se atrever a denunciar, e o medo de não ser acreditada pode trazer sensação de choque, desorientação e negação. Depois vem a raiva, a humilhação, e o nojo, acompanhado pela tristeza, desespero e culpa. Ansiedade, também - a busca de um significado – amargura, depressão, clamor à vida... até que consiga construir uma nova vida.

Tudo isso vale para os abusados em geral, porém o contexto da Igreja apresenta algumas particularidades, tanto na prevalência dos abusos como na sua prevenção. E aqui está a chave que aportou a religiosa González Casas. Diante da tentação de alguns na Igreja de deixar que siga sendo uma “fortaleza” – tomando como dadas as estruturas “fechadas”, como a hierarquia ou a obediência cega que tantos praticam – tem que se fazer com que prevaleça a Igreja como um “sistema aberto”. Sobretudo, promovendo uma relação realmente evangélica entre o povo de Deus e o sacerdote. Isto é, o padre não como um ser elevado e à parte como um “alter Christus”, mas sim como um dos muitos fiéis que servem em uma comunidade de crentes na confiança mútua.

“Se necessita, como um grito, uma mudança de atitude a nível de sistema, para uma conversão e renovação real”, enfatizou González Casas. “A cultura clerical é uma cultura de encobrimento”. Por isso é tão importante a promessa do papa Francisco de “não cercear os esforços” na erradicação do clericalismo.

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