A batalha do maracá contra o cassetete e a gravata

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15 Agosto 2016

"Foi gratificante acompanhar não apenas uma semana de mobilização pelos direitos dos povos e comunidades indígenas e tradicionais,mas sentir como vai crescendo a consciência de um projeto para um Brasil plural, na prática. Indígenas, quilombolas e pescadores artesanais, deram uma mostra do quanto é belo e promissor o potencial e a dinâmica de construção da união urgente e necessária para sonhar e construir o novo projeto para o país".

O comentário é de Egon Heck, do secretariado nacional do Conselho Indigenista Missionário - CIMI, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.

Eis o artigo.

 

(Fotos: Laila Menezes/CIMI)

Mais uma vez se travou “simbólica e fisicamente”, a batalha dos povos indígenas com seus maracás, pinturas e indumentárias, contra as hordas de gravatas em seus pedestais de prepotência, arrogância e ganância.

Imaginava-se que nas ondas de superação do colonialismo interno, as gravatas travariam um diálogo respeitoso com os maracás, desde a portaria até a despedida, já na noite avançada. Mas não foi desta vez. Várias lideranças indígenas fizeram alusão a mais uma decepção: “Sai presidente, entra presidente, campeia a corrupção e nenhum sinal de que um dia será diferente, de igual para igual, na casa do povo”.

No portão, de plantão os cassetetes tentaram demonstrar gentiliza e esforço no podre dorso da repressão. Tirem a placa da “casa do, para contra o povo” chegaram gritar alguns mais exaltados. Nada de novo abaixo da linha do Equador. Após espera e muito bate boca, quase duas centenas de indígenas adentraram, em ritual, nas dependências da Câmara dos Deputados.

Outros setores sociais continuaram impedidos de entrar. Houve ocupação do plenário por sindicalistas que protestaram contra a entrega do pré-sal ao capital estrangeiro. Foi um dia de correria e agito, com o impedimento de Dilma rolando num espaço, e projetos polêmicos e golpistas cavalgando em outro. Mais uma vez se repetia o ditado e canção popular da época da ditadura militar: “Os podres poderes tem medo de cheiro de povo”.

E assim povos indígenas de várias regiões do país comemoraram seu dia, com denúncias e veementes manifestações contra o golpismo ruralista em curso e a violência e criminalização. Das lideranças dos movimentos sociais, povos indígenas, povos e comunidades tradicionais. No encontro com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, este prometeu não prorrogar a CPI da Funai e do INCRA (cujo prazo de funcionamento termina esta semana) e de que não colocaria em debate e votação em plenário, a PEC 215.


Ontem foi a vez de entregar um documento na embaixada da Alemanha lembrando as principais violências contra os povos indígenas no Brasil, em consequência da política dos ruralistas, que são os mesmos que exportam suas commodities a dezenas de países, dentre os quais, a Alemanha.

Sai de baixo que vem lama e morte

Uma das notícias que tem causado grande preocupação entre os povos indígenas e seus aliados, é a de que o governo em breve enviaria ao Congresso três projetos sobre mineração. Quem viveu, como os Krenak, na lama de Mariana, a irresponsabilidade criminosa das mineradoras, irá entender facilmente o horizonte de ameaças e mortes que os povos originários têm pela frente. As mineradoras mundiais e nacionais estão assanhadas, nas portas das terras indígenas, aguardando avidamente a abertura das terras/territórios desses povos para o saque, deixando para traz os rastros de lama, violência e morte.

Nunca é demais lembrar a destruição e extermínio causado aos povos originários e à natureza, desde o início da invasão, há mais de cinco séculos. Várias terras indígenas, especialmente na Calha Norte do rio Amazonas, estão totalmente loteadas para prospecção e lavra de petróleo. O que será dos Yanomami, dos Waimiri Atroari, povos do Rio Negro, do Vale do Javari e da centena de grupos/povos isolados?

No momento em que no mundo inteiro se questiona e denuncia a ação nefasta e destruidora da mineração, o usurpador governo interino, de forma inescrupulosa e celeremente, avança com projetos de morte. E os povos indígenas serão as maiores vítimas dessas iniciativas do grande capital nacional e multinacional.


 

União, resistência e permanente mobilização

Os povos indígenas e as comunidades e povos tradicionais deram passos importantes na construção de alianças e união na luta por direitos e contra as ameaças de retrocesso e desconstrução de direitos constitucionais conquistados com muita luta e sangue derramado.

Será com a força de todos os guerreiros, com a proteção dos deuses, dos encantados e da mãe terra, com a união da grande maioria dos empobrecidos, dos excluídos e dominados, da diversidade de povos e culturas, que irão construir um novo mundo, a partir dos projetos de Bem Viver, com a superação do capitalismo, do colonialismo, do racismo e dos projetos de morte e destruição.

A palavras que mais foram ressaltadas, nesta semana de mobilização dos povos indígenas em Brasília, foi a necessidade de ampliar a união e alianças para garantir uma mobilização permanente não só para evitar perda de direitos e retrocesso, mas para avançar na perspectiva de construção da sociedade do Bem Viver.

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A batalha do maracá contra o cassetete e a gravata - Instituto Humanitas Unisinos - IHU