Os “bispos-piloto” e a redescoberta do papel dos leigos

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Por: André | 20 Mai 2015

O breve e denso discurso que o Papa Francisco fez na segunda-feira na presença dos bispos da Itália ofereceu exemplos e indicações concretas. Além do convite para “não ser tímidos ou irrelevantes na denúncia e na derrota de uma mentalidade difundida de corrupção pública e privada, que conseguiu empobrecer, sem nenhuma vergonha, famílias, aposentados, trabalhadores honestos, comunidades cristãs, descartando os jovens, privando-os sistematicamente de qualquer esperança de futuro, e, sobretudo, marginalizando os fracos e necessitados”, o Papa insistiu na defesa do povo das “colonizações ideológicas” (referência à teoria de gênero já aludida em outras ocasiões). A mensagem do papa continha duas indicações muito importantes e que terão seguramente consequências, caso forem levadas a sério.

A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada por Vatican Insider, 19-05-2015. A tradução é de André Langer.

A primeira tem a ver com o método. Francisco explicou que a vocação dos cristãos e dos bispos “é a de ir contra a corrente”. Mas este “ir contra a corrente” significa “ser testemunhas alegres do Cristo Ressuscitado para transmitir alegria e esperança aos outros” e “consolar todos os aflitos” sem distinção. Em uma época caracterizada pelo desconsolo, devido às notícias tanto locais como internacionais, o Pontífice convidou os bispos para serem “alegres testemunhas” e comunicadores de esperança. É a proposta da imagem de uma Igreja capaz de atrair mediante a beleza da experiência que propõe, e não de uma Igreja que necessita de um inimigo para sentir-se viva e crer que é nas batalhas culturais que se vê como protagonista ou nos aparatos de que dispõe.

A segunda indicação é fundamental em relação à maneira de conceber o laicato católico. O Papa pediu para “reforçar” o “indispensável papel” dos leigos para que assumam “as responsabilidades que lhes cabem”. Os leigos “que têm uma formação cristã autêntica – explicou o Papa – não deveriam necessitar de ‘bispos-piloto’ ou ‘monsenhor-piloto’ nem um ‘input’ clerical para assumir as próprias responsabilidades em qualquer nível, desde o político até o social, do econômico até o legislativo! Pelo contrário, necessitam do bispo pastor”.

Mas é preciso reconhecer que em muitas partes os próprios leigos permitiram que se reforce o modelo do “bispo-piloto” ao pedir bênçãos antes de dar qualquer passo e buscando apoios eclesiais para seus projetos.

Falando sobre a relação entre a política e a religião, em uma entrevista de 15 de dezembro de 2014, o Papa afirmou: “A relação deve ser ao mesmo tempo paralela e convergente. Paralela, porque cada um tem seu caminho e suas diferentes tarefas. Convergente, só para ajudar o povo. Quando as relações convergem antes, sem o povo, ou não se importando com o povo, começa aquele conúbio com o poder político que acaba apodrecendo a Igreja: os negócios, os compromissos... É preciso proceder paralelamente, cada um com o próprio método, as próprias tarefas, a própria vocação. Convergentes só no bem comum”.

É a Igreja que “apodrece”, para usar a expressão de Francisco, quando a relação com a política “converge” antes do bem comum. Nas palavras que o Papa pronunciou na segunda-feira à CEI há um modelo de bispo pastor e de leigo livre e responsável: o primeiro não deve tratar de “pilotar” as decisões do segundo nos âmbitos que lhe competem. O segundo não deve buscar apoios constantes, bênçãos, e não deveria queixar-se constantemente se a hierarquia não repete cada semana determinados conteúdos, como infelizmente ainda acontece.

Os temas da defesa da vida em cada uma das suas fases, do cuidado da família, da luta contra as “colonizações ideológicas” que procuram impor determinados modelos, estiveram e estão no centro da Igreja italiana (e não apenas). No entanto, estes temas parecem ter sido esquecidos por alguns políticos acostumados a pedir bênçãos, assim como outros temas indicados na famosa Nota da Congregação para a Doutrina da fé sobre “algumas questões relacionadas com o compromisso e com o comportamento dos católicos na vida política” (de 2002). Particularmente “o progresso para uma economia que esteja a serviço da pessoa e do bem comum, no respeito da justiça social”.

Para concluir, não devemos esquecer um dos exemplos que o Papa deu no seu discurso aos bispos italianos: “Quando se organiza um congresso ou um evento que coloca em evidência as vozes de sempre, anestesia-se as comunidades, homologando decisões, opiniões e pessoas. Em vez de se deixar transportar para esses horizontes nos quais o Espírito Santo nos pede para ir”.

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