29 Julho 2013
Uma multidão de aproximadamente três milhões de pessoas se reuniu na praia de Copacabana para ver o papa Francisco durante a vigília de oração com os jovens da JMJ (Jornada Mundial da Juventude) na noite deste sábado, segundo uma estimativa da Prefeitura do Rio de Janeiro. Grande parte dos peregrinos decidiu acampar e passar a noite no local.
A reportagem é publicada pela BBC Brasil, 28-07-2013.
A concentração de pessoas superou o público da última festa de Reveillon, que teve dois milhões de participantes. Durante a celebração deste sábado, os fiéis enfrentaram grande dificuldade para se deslocar, tanto na Avenida Atlântica como na areia da praia. Era quase impossível se aproximar do palco onde estava o papa, na altura da avenida Princesa Isabel.
A jovem Ana Beatriz Loureiro, de 17 anos, viajou ao Rio com um grupo paroquial de Dourados (MS). Eles chegaram à capital após uma viagem de 24 horas de ônibus e se hospedaram em uma paróquia em Piedade, na zona norte da cidade.
"Estou muito emocionada. Fomos muitos agraciados. Quando fomos buscar o kit alimentação, conseguimos ver o papa", disse.
Ana Beatriz trouxe saco de dormir, binóculo, lanterna, guarda-chuva e capa de chuva, mas disse estar preocupada com os planos do grupo de passar a noite na praia. Os amigos devem se revezar para viajar o "acampamento" enquanto os outros dormem.
Daniela Schiavone, de 21 anos, veio de Taranto, no sudeste da Itália, para ver o papa pela primeira vez ao vivo no Brasil. Ela está acompanhada de 35 amigos e também planejava passar a noite na praia.
Afirmou ter detestado o kit alimentação distribuído para os peregrinos. "É tudo junk food; não é saudável".
Como ela, muitos peregrinos acamparam em Copacabana. Diversos grupos improvisaram "barracas" empilhando sacos de dormir sobre grades de proteção instaladas no local pela prefeitura. A temperatura às 22h de sábado girava em torno dos 17°C e não havia sinal de chuva.
Um posto de gasolina se transformou em um grande acampamento, com barracas espalhadas por toda a sua área.
A americana Diana Castillo, de 20 anos, foi uma das peregrinas que instalou uma barraca em Copacabana. Ela veio ao Brasil, pela primeira vez, em um grupo de 97 pessoas dos Estados de Connecticut e de Nova York. "O papa Francisco é mais humilde do que o anterior", disse.
A paraguaia Rosana Rojas, de 27 anos, foi ao evento com um grupo de 50 compatriotas às 8h. Eles estão hospedados em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a duas horas de distância da praia de Copacabana. Ela quis dormir na orla porque "é parte do evento". "Não imaginava que estaria tanto frio aqui".
A Prefeitura do Rio instalou cercados de proteção a fim de delimitar as áreas de acampamento. Porém, faltaram banheiros químicos para o público. A BBC Brasil presenciou filas de mais de 100 pessoas para entrar em um banheiro.
Autoridades públicas se revelaram preocupadas com a saída dos peregrinos do local e pediram calma. Hotéis e prédios de Copacabana colocaram grades de metal em frente às suas fachadas para evitar a entrada de peregrinos.
Manifestantes
Grupos de manifestantes fizeram um protesto na zona sul do Rio gritando palavras de ordem contra a Igreja Católica. Eles trocaram hostilidades com peregrinos que participavam da JMJ no bairro de Copacabana.
Algumas das integrantes do protesto chamado "Marcha das Vadias" exibiu mensagens pintadas pelo corpo e fez topless. Elas defendiam os direitos das mulheres, o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Dois manifestantes mascarados, que protestavam praticamente nus, pisaram sobre crucifixos e destruíram duas imagens de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora das Graças.
Alguns peregrinos trocaram insultos contra os manifestantes, mas não havia registro de troca de agressões até às 22h de sábado.
Um grupo mais exaltado de 50 manifestantes se aproximou do palco onde estava o pontífice, mas foi contido por policiais militares da Força Nacional de Segurança.
Durante a vigília, o papa Francisco fez referência à onda de manifestações de rua internacionais e afirmou que os jovens devem ser os protagonistas das mudanças. "Seu coração jovem quer construir um mundo melhor (...). Muitos jovens em muitos lugares do mundo desejam uma civilização mais justa e fraterna. Os jovens querem ser protagonistas da mudança".
"Não deixem que outros sejam os protagonistas da mudanças. Vocês têm o futuro. É através de vocês que o futuro entra no mundo".
O papa pediu que os jovens forneçam uma "resposta cristã" às inquietações sociais e políticas "que surgem em diversas partes do mundo".
Mas cedo, em um encontro com políticos, religiosos e artistas, o papa havia afirmado que o diálogo deve ser a alternativa a protestos violentos. "Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo aberto à verdade", afirmou o pontífice.
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Vigília com papa Francisco reúne três milhões no Rio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU